Um caso inédito aconteceu: a Comissão Europeia rejeitou ontem, pela primeira vez, um orçamento do Estado de um país. E não é de um país qualquer, é de Itália, uma economia altamente industrializada e que sempre foi considerada um dos principais motores da Europa..Trata-se de um passo sem precedentes na história do bloco económico do Velho Continente. Esta decisão significa que a Comissão Europeia vai pedir ao governo italiano que volte a olhar para o Orçamento do Estado e reformule os seus planos. E há um prazo para o fazer: Roma tem exatamente três semanas para repensar como vai gastar o dinheiro dos contribuintes durante o próximo ano..A Europa perde, a Itália perde, mas Mário Centeno, presidente do Eurogrupo (órgão que reúne os ministros das Finanças do euro) e ministro das Finanças português, também..Porquê? As expectativas de Mário Centeno saíram goradas. Isto porque o português indicou nesta segunda-feira, 22 de outubro, que estava confiante que Itália e a Comissão Europeia conseguiriam chegar a um entendimento sobre o orçamento apresentado por Roma. O presidente do Eurogrupo sublinhou mesmo, numa entrevista à Reuters, que existia um "diálogo construtivo" em curso..Referiu ainda que ficaria surpreendido se um Orçamento de um Estado da zona euro fosse uma razão para dramas no bloco económico. "Depois de termos tornado a área do euro uma área económica e monetária resiliente, ficaria muito surpreendido que um Orçamento de um Estado pudesse causar um drama dentro da área do euro e que as instituições não conseguissem gerir este evento", disse Mário Centeno. Ontem as notícias foram no sentido contrário..Esta decisão de Bruxelas demonstra ainda a enorme fragilidade em que vive aquela economia e também a Europa. Quando a Comissão Europeia deixa de confiar nos números apresentados pelos Estados-membros é mau sinal. É sintoma de uma febre que evidencia uma potencial doença chamada desagregação, ou seja, o pior que poderia suceder ao bloco europeu. E quando um árbitro decide exibir um cartão vermelho desde tipo, não o exibe apenas ao Orçamento, mas às políticas de direita que criam desconforto nos meandros do poder da Europa.