Não há recursos para testar todos os portugueses, diz especialista
Todos os casos suspeitos de infeção pelo covid-19 deverão ser submetidos a diagnóstico laboratorial, a ser realizado, preferencialmente, em laboratórios hospitalares da Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico do SARS-CoV-2, na rede complementar de laboratórios privados ou no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), segundo as novas orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), dadas a conhecer ao DN nesta segunda-feira.
Apesar desta decisão, Filipe Froes, pneumologista e coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos, foi perentório em declarações ao DN: o especialista não recomenda que toda a população seja testada, até porque, no seu entendimento, "dificilmente haverá recursos para todos".
Quanto à possibilidade de serem comercializados "kits de rastreio" (à semelhança dos testes de gravidez), não acredita que isso venha a ser uma hipótese, "até porque o diagnóstico tem de ser interpretado por profissionais de saúde". Por outro lado, caso venham a existir no mercado, considera contraproducente. "Em última instância, até prejudicaria as medidas de contenção do vírus, uma vez que muitos dos testes podem dar falso negativo", podendo dar-se o caso de pessoas contaminadas - sem o saberem - transmitirem o vírus a outras.
De acordo com o documento da DGS a que o DN teve acesso, as amostras biológicas deverão ser enviadas para o laboratório o mais rapidamente possível, preferencialmente em ambiente refrigerado, logo após a colheita da amostra. O rastreio é feito em tempo real.
Adianta-se ainda que a possibilidade de realização do diagnóstico do covid-19 por novos métodos de diagnóstico será atualizada, nomeadamente por testes de diagnóstico rápido que venham a ser validados e disponibilizados no mercado português.
A DGS recomenda veementemente que sejam colhidas amostras do trato respiratório inferior, sobretudo em doentes com doença mais grave, uma vez que "uma única amostra do trato respiratório superior pode não excluir a infeção, sendo preferível o envio de duas amostras respiratórias de locais diferentes".
"Para o diagnóstico de covid-19 está indicada a colheita de amostras do trato respiratório (superior e/ou inferior, de acordo com o contexto clínico), podendo estas ser completadas, para fins de controlo ou de estudo, por colheita de soro ou de outras amostras", adianta o texto.
Ainda segundo o documento, se analisada apenas um tipo de amostra, com resultado laboratorial negativo, em doentes internados e se o agravamento da doença o justificar, é recomendada a colheita de uma segunda amostra para o diagnóstico laboratorial.
Já nas crianças, as orientações são para que se colha com uma zaragatoa uma amostra da nasofaringe e outra da orofaringe.
É recomendada ainda a colheita de duas amostras de soro de fase aguda e de convalescença (duas a quatro semanas após fase aguda) para a realização de testes serológicos, que irão suportar investigações futuras dos casos de infeção.
No que diz respeito a pessoas que não apresentem sintomas (indivíduos assintomáticos), mas que estiveram em contacto com doente infetados, as orientações são para que se realize a colheita de amostras do trato respiratório superior e uma amostra de soro.
Quanto àqueles que recuperaram da doença, deverá considerar-se a colheita e conservação de um par de soros (fase aguda e de convalescença) para o estudo imunitário retrospetivo.
Em doentes falecidos, os técnicos deverão analisar amostras respiratórias e material de autópsia, incluindo material de tecido pulmonar, se a autópsia for considerada necessária.
O critério para a declaração da completa eliminação do vírus e resolução da doença covid-19 implica pelo menos duas amostras do trato respiratório superior negativas, colhidas com um intervalo de 24 horas. Em doentes que foram sintomáticos e após a resolução dos sintomas (após três ou mais dias sem febre e sem outra sintomatologia), deverá colher-se duas amostras (com intervalo de 24 horas), pelo menos sete dias após o início dos sintomas iniciais.
Já no caso de doentes assintomáticos, mas cujo teste inicial deu positivo, a orientação é para que sejam colhidas duas amostras (com intervalo de 24 horas) no mínimo 14 dias após o resultado laboratorial positivo inicial.
Devido à crescente evidência de excreção do vírus através das fezes de doentes em fase de convalescença, particularmente nas crianças, recomenda-se um reforço da higiene pessoal quando os pacientes deixem de estar em isolamento.