23 OUT 2019
23 outubro 2019 às 00h11

Benfica sem margem de erro e um Lyon em crise para afugentar fantasmas da Champions

Águias recebem nesta quarta-feira o Lyon e precisam de vencer para continuarem na corrida pelo apuramento na Liga dos Campeões. Nos últimos 15 jogos da Champions, Benfica só venceu dois. Franceses mudaram de treinador e só ganharam um dos últimos dez desafios.

Nuno Fernandes

Já não existe mais margem de erro. O Benfica tem nesta quarta-feira a possibilidade de voltar a entrar nas contas do apuramento do Grupo G da Liga dos Campeões. Depois de duas derrotas nos dois primeiros jogos (em casa com o Leipzig e fora com o Zenit), a equipa de Bruno Lage está obrigada a vencer no Estádio da Luz (20.00, na TVI) o Olympique de Lyon para assim somar os primeiros pontos na prova, ficando à espera do desfecho do outro jogo entre o Leipzig e o Zenit.

Mesmo em caso de vitória sobre o Olympique de Lyon, o máximo que as águias podem aspirar no final desta jornada é o terceiro lugar, em igualdade pontual com o Leipzig, se os alemães perderem na receção desta quarta-feira ao Zenit. Depois tudo se decidirá nos últimos dois confrontos do Grupo G - dia 27 de novembro o Benfica joga no campo do Leipzig e a 10 de dezembro recebe o Zenit na Luz. Os dois primeiros classificados seguem em frente na Liga dos Campeões e o terceiro cai para a Liga Europa. O quarto e último fica afastado das provas europeias. Nesta altura estão nove pontos em disputa para cada equipa.

A realidade é que este Benfica tem mostrado pouca queda para os jogos na Champions. A derrota com o Zenit, no início de outubro, foi a 12.ª nos últimos 15 jogos na competição milionária. Uma queda que começou na temporada 2016-2017, ainda com Rui Vitória no comando da equipa, quando as águias foram goleadas na Alemanha pelo Dortmund (4-0), nos oitavos-de-final da competição. De então para cá, o Benfica venceu apenas dois jogos em 15 - ambos diante do AEK de Atenas, na temporada passada. E empatou um (Ajax, na Luz).

Além do prestígio e da importância de triunfos para contribuir para o ranking das equipas portuguesas na UEFA (Portugal está quase a ultrapassar a Rússia no sexto lugar, o que, a acontecer, permite duas equipas na fase de grupos da Champions 2021-2022 e uma terceira nas pré-eliminatórias), um afastamento prematuro da Liga dos Campeões logo na fase de grupos representa também um rombo financeiro nas contas da SAD benfiquista, já que, por exemplo, o prémio pela passagem aos oitavos-de-final é de 9,5 milhões de euros. E uma presença nos quartos da prova vale mais 10,5 milhões.

É contra tudo isto que o Benfica vai lutar nesta quarta-feira, sabendo que só uma vitória permite à equipa continuar na luta (mesmo assim difícil) pelo apuramento para os oitavos-de-final. Ou seja, o clube da Luz precisa urgentemente de um triunfo para voltar a sonhar e a colocar um ponto final na malapata em jogos da Liga dos Campeões.

Nas últimas duas épocas, o Benfica não passou fase de grupos da competição milionária. Na temporada passada terminou em terceiro num grupo onde tinha como adversários Bayern Munique, Ajax e AEK de Atenas. Somou duas vitórias e um empate e acabou relegado para a Liga Europa. Na época 2017-2018 (o grupo era composto por Manchester United, Basileia e CSKA Moscovo), o cenário foi ainda mais negro, com o clube da Luz a ser derrotado em todos os jogos, acabando com zero pontos e nem sequer com possibilidades de jogar na Liga Europa.

A última vez que a equipa passou a fase de grupos remonta a 2016-2017, quando foi segunda colocada do Grupo B. Mas foi eliminada logo a seguir, nos oitavos-de-final, diante do B. Dortmund (vitória por 1-0 em casa; derrota por 4-0 fora). Antes, em 2015-2016, atingiu os quartos-de-final da Liga dos Campeões. Passou a fase de grupos, eliminou depois o Zenit nos quartos e caiu nos oitavos perante o Bayern Munique.

O sonho europeu do presidente Luís Filipe Vieira - ainda recentemente, numa entrevista à TVI, disse que um dos objetivos é chegar a uma final europeia - tem estado longe de ser concretizado. E nesta época foi dificultado pelo facto de o Benfica ter ficado num grupo que, embora sem nenhum dos chamados tubarões, é muito equilibrado.

"Temos de dar passos em frente e seguros para trazer este Benfica de domínio em termos nacionais para o Benfica europeu que todos nós queremos. O presidente, o treinador, os jogadores querem isso. A grandeza do clube obriga-nos a pensar dessa maneira e nós temos de ter essa mentalidade. Temos de trazer para o presente e para cada jogo aquilo que são as experiências do passado. É aproveitar o momento e a oportunidade que cada jogo da Liga dos Campeões nos oferece para pormos à prova o nosso valor e a nossa competência, não trazendo para o jogo as experiências negativas do passado", disse o treinador Bruno Lage numa entrevista à agência France-Presse nesta terça-feira.

Lyon em crise e com novo treinador

O Benfica vai ter pela frente um Olympique de Lyon em crise. O clube francês, presidido pelo irreverente Jean-Michel Aulas, venceu apenas um dos últimos dez jogos disputados, curiosamente na Liga dos Campeões, na deslocação a Leipzig. De resto foram quatro derrotas e cinco empates, que deixam a equipa num perigoso 17.º lugar na liga francesa, mesmo junto às equipas que estão na linha de água.

Há duas semanas, face aos maus resultados (pior arranque da equipa no campeonato dos últimos 24 anos) e após uma derrota caseira com o Saint-Étienne, o treinador Sylvinho foi despedido. A equipa foi entregue interinamente numa primeira fase ao adjunto Gérald Baticle, sob a direção do diretor desportivo Juninho. E a 14 de outubro, Rudi Garcia, de 55 anos, técnico que teve passagens pelo Marselha, Roma, Lille, Le Mans, Dijon e Saint-Étienne, foi anunciado como novo treinador. Isto depois de o Lyon ter falhado a contratação de José Mourinho, tal como revelou o presidente.

Rudi Garcia não teve uma estreia feliz no último jogo do Lyon, com um empate sem golos em casa diante do Dijon. Facto que fez o presidente Jean-Michel Aulas perder a cabeça e atirar-se aos jogadores. "Mesmo que eu queira protegê-los [aos jogadores], explicámos-lhes que têm uma parcela enorme de responsabilidade, alguns não fazem necessariamente as coisas certas. Alguns deles desiludiram-me, não digo nomes, eles sabem a quem me refiro. Na última temporada, foram os melhores nos seus clubes, hoje são uma sombra", referiu.

Há um dado, contudo, importante a reter. O Olympique de Lyon, que na temporada passada terminou o campeonato francês na terceira posição, não perde fora em jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões... há três anos. O último desaire da equipa nesta fase da prova milionária aconteceu em setembro de 2016, uma derrota por 1-0 em Sevilha. De então para cá somou três vitórias (D. Zagreb, Manchester City e Leipzig) e três empates (Juventus, Shakhtar Donetsk e Hoffenheim) fora de casa.

História favorece Benfica em casa contra franceses

A estatística vale o que vale, mas a verdade é que o Benfica se costuma dar bem contra equipas francesas nas competições europeias. Sobretudo quando joga em casa - em 15 jogos disputados, nenhuma derrota. Fora da Luz o cenário é um pouco diferente, com as águias a averbarem oito derrotas, curiosamente uma delas diante do Lyon.

Benfica e O. Lyon defrontaram-se apenas em duas ocasiões (jogos oficiais). Aconteceu na época 2010-2011, quando os dois clubes integraram o mesmo grupo da Champions. As águias receberam os franceses em novembro de 2010 e o resultado terminou com um triunfo por 4-3, numa partida em que a então equipa dirigida por Jorge Jesus chegou a estar a vencer por 4-0 (golos de Kardec, Javi García e um bis de Coentrão). No jogo da segunda volta, em Lyon, os encarnados perderam por 2-0 diante da equipa orientada por Claude Puel. Nesse ano, o Lyon seguiu em frente na prova e o Benfica foi terceiro do grupo, caindo para a Liga Europa.

Sem derrotas em casa diante de equipas francesas, só quatro conjuntos gauleses em toda a história conseguiram deixar a Luz sem derrotas - o Nantes (1978-1979), o Bordéus (1986-1987), o Bastia (1997-1998) e o Marselha (2009-2010).

Destes quatro, o Bordéus voltou, perdendo por 1-0 em 2012-2013, enquanto o Marselha já tinha jogado na antiga Luz, naquele que é considerado o embate mais importante contra equipas francesas. Foi em abril de 1990 que o Benfica, então treinado por Sven-Goran Eriksson, recebeu os gauleses a precisar de vencer pelo menos por 1-0 (perdeu na primeira mão por 2-1) para chegar à final da então denominada Taça dos Campeões Europeus.

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Diante de um Marselha que tinha estrelas como Papin, Francescoli, Waddle, Tigana, Deschamps, Amoros e Mozer, o Benfica venceu por 1-0, na noite inesquecível da mão de Vata, o angolano que saltou do banco para selar o triunfo e dar mais uma final europeia às águias com um golo marcado com o braço. Depois, na final, o Benfica perderia com o AC Milan de Van Basten, Gullit e Rijkaard.