Contenção da China será a mais óbvia linha de continuidade da política externa americana com Joe Biden presidente?
Sim e não. A perceção da China como rival estratégico e até principal ameaça tornou-se relativamente consensual nos EUA, quer entre a população quer entre democratas e republicanos, e o próprio Joe Biden durante a campanha para as presidenciais manifestou uma retórica bastante antagónica face à China e ao presidente Xi Jinping. Além disso, Biden deverá recolocar a promoção da democracia e dos direitos humanos entre as prioridades da política externa americana, o que pode aumentar certas fricções com Pequim para lá das questões comerciais, tecnológicas, de Taiwan ou do mar da China do Sul. Estes fatores permitem antever uma certa continuidade na contenção da China. Contudo, penso que a Administração Biden tentará seguir uma abordagem distinta de Trump: por um lado, dando mais margem para cooperação e articulação com a China onde é possível numa agenda muito ampla, do combate às alterações climáticas à gestão dos dossiês nucleares do Irão e da Coreia do Norte ou de certas crises e conflitos, no fundo, conjugando competição e cooperação com Pequim; por outro, lidando com a China em articulação com parceiros e aliados, designadamente do "arco das democracias".