Num momento em que o Brexit passou a ter três datas possíveis e todas as opções continuam em aberto para o desfecho do "folhetim", palavra usada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Yves Le Drian, parte dos britânicos optam pela ação. Neste sábado, numa manifestação nas ruas de Londres a favor do segundo referendo, e nas últimas horas com a petição para o governo revogar o artigo 50.º..Lançada com o objetivo de "dar com um grande número na face do governo", a petição iniciada por uma ex-professora universitária não atraiu ao princípio grande atenção. "Quase desisti mas depois contactei muitas pessoas e disparou", disse Margaret Georgiadou à BBC. "Acho que agora é quase como uma barragem a rebentar", comenta sobre o número de pessoas que aderiram à petição tendo passado de um milhão para três milhões em menos de 24 horas - e isto apesar de a afluência ter deixado o site do Parlamento inoperacional durante muito tempo..A petição pode ser assinada por qualquer cidadão britânico ou residente no Reino Unido e, uma vez atingido o patamar das cem mil assinaturas, pode ser selecionado para debate parlamentar. O acordo de retirada exige a aprovação de Londres e de Bruxelas, mas o artigo 50.º pode ser anulado unilateralmente pelo país que o acionou e tem efeitos imediatos - desde que antes do prazo expirar, neste caso, as 23.00 de sexta-feira 29 de março. Mas não é provável que a petição faça a primeira-ministra Theresa May interromper um processo que de forma reiterada tem dito que irá concluir..A líder da Câmara dos Comuns (equivalente a ministra dos Assuntos Parlamentares), Andrea Leadsom, menorizou a iniciativa. "Se chegar a 17,4 milhões de participantes, estou certa de que haverá um argumento muito claro para tomar medidas", afirmou. O número a que Leadsom alude foi o dos eleitores que escolheram a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) no referendo (refira-se que 16,1 milhões votaram pela permanência)..Hoje, os movimentos de britânicos que querem decidir se aceitam o acordo firmado por Theresa May com Bruxelas ou se querem permanecer no clube europeu têm um teste de fogo. A partir do meio-dia realiza-se a "marcha do povo" de Hyde Park ao Parlamento. A iniciativa é do People's Vote, uma campanha que junta grupos independentes pró-europeus e que tem o apoio dos partidos nacionalistas escocês e galês, dos liberais democratas e dos verdes, bem como de deputados trabalhistas, conservadores e independentes. Mas o maior partido da oposição não se junta de forma oficial. A estratégia de Jeremy Corbyn continua a passar pela queda do governo e pela realização de eleições gerais. Se o líder trabalhista prima pela ausência, outros tomam o seu lugar. É o caso do mayor de Londres, Sadiq Khan. "Não importa como votou, tenho a certeza de que concorda que o Brexit é uma confusão completa e total. Vou marchar com pessoas de todos os cantos do nosso país para exigir que o povo britânico tenha a última palavra", anunciou no Twitter.."O Labour tem de perceber que há um preço a pagar se facilitar o Brexit. À medida que o processo avança, é preciso perceber que a melhor forma de resolver o que se tornou uma crise política é devolver de novo a decisão às pessoas", comentou Alastair Campbell, ativista do People's Vote. Campbell foi diretor de comunicação de Tony Blair e, tal como o ex-governante, é fervoroso defensor da permanência do Reino Unido na UE. A campanha defende que o resultado deste referendo seja vinculativo, ao contrário do de 2016. Segundo uma sondagem do YouGov, 56% dos eleitores estão no campo favorável a uma segunda consulta popular, e 44% estão contra. No entanto, a margem favorável à permanência caiu: 53% votariam agora pela permanência, menos três pontos percentuais do que há dois meses..No dia 20 de outubro, 700 mil pessoas percorreram o mesmo caminho a favor de um segundo referendo. À mesma hora, mas em Harrogate, cidade do norte de Inglaterra, uma manifestação pelo Brexit com o eurocético Nigel Farage juntou pouco mais de mil pessoas..Mais uma semana de (in)decisões.Reunido em Bruxelas, o Conselho Europeu não deu o tempo de extensão do artigo 50.º pedido por Theresa May. Em vez de 30 de junho, os líderes europeus acordaram prorrogar a saída até 12 de abril se o acordo de retirada não for aprovado no Parlamento durante a próxima semana, ou 22 de maio, em caso afirmativo. As perspetivas de o acordo ser aprovado à terceira são mínimas. John Bercow, o presidente do Parlamento, avisou que iria cumprir o regimento e não iria aceitar o mesmo texto rejeitado sem mudanças substanciais. Ainda que se encontre uma fórmula para contornar a questão, Theresa May não ganhou aliados nos últimos dias. Pelo contrário. O partido dos unionistas irlandeses (DUP), até agora um aliado parlamentar dos conservadores, arrasou a governante. "Oportunidade perdida" e "fracasso" foi como reagiram à ida de May ao Conselho Europeu num comunicado virulento..Por outro lado, a curta declaração de Theresa May ao país na quarta-feira à noite, na qual pôs o ónus do impasse nos deputados, caiu como uma bomba entre os deputados do seu próprio partido. No dia seguinte, May tentou emendar a mão e ensaiou um tom conciliador. "Eu manifestei a minha frustração. Sei que os membros do Parlamento também estão frustrados. Eles também têm um trabalho difícil.".Segundo a Bloomberg, o presidente francês, Emmanuel Macron, terá dito que pensava haver 10% de hipóteses de o acordo passar na Câmara dos Comuns, mas depois de ouvi-la reviu as hipóteses para 5%. Ao que o presidente do Conselho Europeu respondeu: "Acho que está a ser um pouco otimista.".Nos próximos dias os deputados vão votar numa emenda apresentada pelos trabalhistas para quebrarem o impasse. Aos parlamentares serão dados vários votos indicativos (um plano de Brexit alternativo do Labour, um segundo referendo ou a permanência na união aduaneira). O governo também poderá fazê-lo. Na sexta-feira, circularam informações contraditórias sobre o governo levar sete alternativas a voto (não vinculativo), entre elas o acordo de May, a revogação do artigo 50.º, o segundo referendo, e a saída sem acordo..Datas chave do Brexit.2013 23 de janeiro: David Cameron promete realizar um referendo sobre a permanência na União Europeia, se for reeleito em 2015..2016 23 de junho: 52% vota a favor da saída do Reino Unido e 48% pela permanência no referendo que tem uma taxa de participação de 72%. Cameron demite-se no dia seguinte..2017 29 de março: O governo britânico ativa o Artigo 50.º do Tratado de Lisboa, iniciando uma contagem decrescente de dois anos para a saída do Reino Unido da UE..13 de dezembro: Conservadores votam contra o governo e apoiam a proposta da oposição para incluir na lei para a saída da UE um voto vinculativo da Câmara dos Comuns sobre o acordo final do Brexit..2018 19 de março: Reino Unido e UE admitem um impasse sobre o mecanismo de salvaguarda relativo à fronteira da Irlanda do Norte com a República da Irlanda..19 de setembro: Conselho Europeu em Salzburgo mantém impasse sobre a futura relação económica e a solução para a Irlanda do Norte..20 de outubro: Manifestação a favor de um segundo referendo ao Brexit junta 700 mil pessoas em Londres..25 de novembro: Conselho Europeu aprova acordo de saída e declaração sobre relação futura, uma dúzia de dias depois de os negociadores do Reino Unido e da UE terem obtido um projeto de acordo..12 de dezembro: Theresa May sobrevive a moção de censura dos deputados conservadores..2019 15 de janeiro: acordo de Theresa May com Bruxelas derrotado na Câmara dos Comuns com uma margem histórica de 230 votos. No dia seguinte, a governante resiste a uma moção de censura apresentada pelo líder da oposição, Jeremy Corbyn..12 de março: o acordo é outra vez rejeitado pelo Parlamento, desta vez por 149 votos. Nos dias seguintes os deputados rejeitaram uma saída sem acordo e a favor do pedido de adiamento do Brexit, o que May faz em carta enviada na quarta-feira ao presidente do Conselho Europeu.