Passe único. Pedidos de cartões sobem 50% nos últimos dias

Haverá mais utentes de transportes públicos, mas autocarros e comboios serão os mesmos.
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Os pedidos online dos passes para a Área Metropolitana de Lisboa aumentaram 50% nos últimos dias. O anúncio da redução do preço dos títulos para 40 euros, em viagens na AML, e 30 euros em cada um dos 18 concelhos, está a provocar uma procura elevada do Lisboa Viva, segundo disse ao DN a empresa que os emite, a OTLIS, sem adiantar números absolutos. Esses títulos vão ser enviados por correio para os clientes.

E a mostrar que há muitas dúvidas sobre o tema está o facto de a Área Metropolitana de Lisboa estar a ser "invadida" por telefonemas de pessoas que querem confirmar se o programa existe e se há diminuição do valor dos títulos de transportes.

Estas são as primeiras consequências do projeto de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos que se inicia a 1 de abril nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e que em maio se deverá estender ao Algarve, a Braga e a Guimarães.

O programa que pretende incentivar a utilização de transportes públicos - há a expectativa de um aumento de 10% - tem como trunfos a redução dos preços e a hipótese de se utilizar qualquer operador na área metropolitana a que diz respeito com um único passe. Por exemplo, na AML será possível ir de Setúbal a Mafra por 40 euros (Navegante Metropolitano) ou circular sós num concelho por 30 (Municipal). Em julho juntar-se-á, na Grande Lisboa, o passe família que possibilitará a um agregado pagar no máximo 80 euros (ou 60) independentemente do número de passes. O que nos casos mais extremos pode levar a uma poupança mensal de 400 euros.

"Já dá para comer na cantina"

Será a partir da próxima terça-feira (dia 26) que as famílias vão começar a ter contacto com este projeto e a perceber o seu impacto pois a partir desse dia vai ser possível carregar os novos passes - quem o faz online já o pode fazer desde quinta-feira passada -, apesar de só poderem ser utilizados a 1 de abril.

"Para a minha família esta alteração é muito benéfica pois há um decréscimo de 220 euros/mês no orçamento. Podemos gerir melhor os custos com a alimentação, manuais escolares etc.", conta ao DN João Oliveira, estudante de Engenharia Civil no Instituto Superior Técnico. João mora em Setúbal e tal como a mãe vem para Lisboa diariamente. Paga 128,70 euros de passe (tem o desconto de 25% por ser estudante universitário, vai manter-se), a mãe 171,60 e o irmão tem um passe para ir para a escola em Palmela com um custo de 39,45.

Ou seja, no total são 339,75 euros/mês que vão transformar-se de abril a junho em 110 euros (40+40+30) e que depois quando o Navegante Família entrar em vigor - na AML, onde 464 mil pessoas usam transportes públicos diariamente, deve ser em julho e no Porto não há ainda uma data - irá diminuir pois cada agregado irá pagar no máximo dois passes (80 euros).

Este estudante até já tem perspetivado onde pode investir a verba que agora sobra: "Podia ir à cantina pois agora tenho de trazer comida de casa, arranjar melhores manuais ou mesmo alugar um quarto em Lisboa."

Contas também já fez Fátima Fiúza que diariamente vem da Venda do Pinheiro para Lisboa. "Atualmente gasto 235 euros em passes, no meu e no da minha filha que estuda na universidade no Monte da Caparica (Almada), vou ter uma redução de 165 euros. Vai ter um grande impacto no orçamento da família", diz apesar de ainda não ter pensado o que essa verba pode representar: "Talvez se falarmos daqui a um ano já lhe possa dizer." Fátima sabe que não vão existir mais autocarros na carreira que utiliza e por isso tem a esperança de que "as empresas consigam assegurar a resposta para o aumento de procura que vai haver".

Uma preocupação a que as empresas podem ter dificuldade em responder: exceto em Lisboa e no Barreiro, não haverá reforço da oferta, seja de autocarros, barcos ou comboios, pois os concursos públicos para a sua aquisição só recentemente foram abertos e as perspetivas de entrega, por exemplo de barcos para a Soflusa/Transtejo, apontam para o final do próximo ano.

Sabia...

O que é este novo passe?

O passe único para os transportes públicos da Área Metropolitana de Lisboa, e do Porto, vai ter apenas duas configurações: o Navegante Municipal que custará 30 euros, permitindo viagens dentro de cada um dos 18 concelhos no caso da AML, e o Navegante Metropolitano, com um preço de 40 euros, permitindo deslocações em toda a área metropolitana da capital.

Quando entra em vigor?

A 1 de abril. O passe pode ser carregado a partir de dia 26 e é válido do primeiro ao último dia de cada mês.

Este sistema entra em vigor em outras zonas do país?

Sim. No primeiro dia de abril também será possível circular nos 17 concelhos da Área Metropolitana do Porto também com passes a 30 e 40 euros. Provavelmente a partir de 1 de maio haverá passes com preços reduzidos em outras zonas pois segundo o governo todas as 21 comunidades intermunicipais do país aderiram ao programa.

O meu passe acaba a 7 de abril. Tenho de comprar o novo e perder os sete dias que já paguei?

Apenas em abril vai ser possível comprar blocos de sete dias as vezes que forem necessárias até ao final do mês. Esse conjunto de sete dias custará dez euros cada um.

Até aos 12 anos não se paga para andar de transportes?

Com o novo passe as crianças até aos 12 anos podem viajar gratuitamente.

Como funciona o passe família?

Este passe agregará os títulos dos membros da mesma família, independentemente do seu número, e custará, no máximo, 80 euros para viajar na AML e 60 euros dentro de cada concelho. Devido à sua complexidade técnica o lançamento foi adiado para julho e no Porto ainda não tem data de início.

Outros descontos?

Mantêm-se os descontos de 25%, 50% e 60% para estudantes, pensionistas e reformados.

Há um passe metropolitano para reformados e pensionistas. Em Lisboa acaba o Navegante Urbano?

Não, o Navegante Urbano para pensionistas e reformados que só circulem na Carris e metro mantém-se aumentando 30 cêntimos: de 14,70 euros para 15 euros. O passe metropolitano para reformados e pensionistas custará 20 euros.

É preciso comprar um novo cartão?

Não. Pode usar o atual cartão Lisboa Viva.

Como fazer os carregamentos?

Como até agora: balcões e máquinas dos operadores e multibanco. A SIBS, que gere a rede de ATM, garantiu ao DN que procedeu como "qualquer outra evolução ou atualização do sistema, como uma intervenção regular e como uma evolução normal da funcionalidade [do sistema]".

Há um reforço de oferta de transportes?

Os Transportes Coletivos do Barreiro compraram autocarros e a Carris também. Os restantes operadores vão gerir um eventual aumento de passageiros com os meios que têm.

Como é que este sistema vai ser subsidiado?

O governo atribuiu 104 milhões de euros ao Programa de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos. A AML, com mais de 464 mil utilizadores dos transportes públicos, recebe a verba maior: 74,8 milhões. À Área Metropolitana do Porto foram atribuídos cerca de 15 milhões e às restantes 21 comunidades intermunicipais estão destinados 15,9 milhões. As autarquias também vão contribuir para este sistema.

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