Portugal atravessa uma fase de falta de mão-de-obra na construção civil como não há igual. Em 2018, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), estavam inscritos no setor 307 mil trabalhadores, mas nem todos a trabalhar no país. Destes, 22 mil já são mulheres, mais mil do que em 2017, mas, mesmo assim, muito menos do que o que acontece em outros países da Europa, como Alemanha, ou do outro lado do mundo, no Brasil..Mesmo assim, há cada vez mais mulheres a sair dos cursos do Cenfic, Centro de Formação em Construção Civil. Em 2017, saíram 419 mulheres, em 2018 já foram 540. A maioria com certificação nas áreas de chefia de obra, higiene e segurança no trabalho ou na fiscalização, mas também já começam a sair formandas em eletricistas, pintoras, condutoras de escavadoras e de tratores, especializadas em instalações técnicas de gás, etc..No Brasil já é diferente. A falta de mão-de-obra qualificada para a construção das estruturas que antecederam os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro levaram ao aumento da empregabilidade de mulheres no setor da construção, onde muitas se mantiveram, conseguiram um lar e algumas até já têm as suas empresas..O mesmo acontece nalguns países da Europa, como Alemanha e nórdicos, em que os anúncios de oferta de emprego em obras não diferenciam o género. Uma busca pela internet permite observar isso mesmo, ofertas para pedreiros, gruistas, calceteiros, soldadores, com entrada imediata..Por cá, os anúncios também não o referem, mas "o entendimento é diferente", asseguram-nos. "Se uma mulher responde a um anúncio para eletricista ou para técnico de elevadores, de portas automáticas, canalizador ou eletricista fica tudo a olhar", afirmam ao DN algumas das mulheres que ouvimos para a reportagem "As mulheres estão a meter a mão nas obras"..No entanto, salvaguarda o presidente da direção da Associação de Empresas de Construção Obras Públicas e Serviços (AECOPS), Ricardo Pedrosa, que já vai sendo diferente quando se pede técnicos para direção de obra, fiscalização, higiene e segurança no trabalho ou mesmo para restauro e conservação."O setor está a mudar, há mais mulheres a entrar, mas para áreas de gabinete, chefia, quadros referenciados.".O representante do setor reconhece que a entrada de mais mulheres na construção pode ser até uma solução para a falta de mão-de-obra que atinge o país desde a crise. "Houve uma geração, entre os 35 e os 50 anos, que emigrou e que não conseguimos substituir. Até agora não tem sido possível fazer esta geração regressar, pois encontram-se noutros países da Europa com condições de trabalho e salariais que não nos é possível acompanhar.".Em Portugal, a construção tem vivido basicamente à custa da contratação de trabalhadores de países terceiros, mas, acredita, que tal pode mudar, e que a construção se torne um novo mercado de trabalho para as mulheres. Simplesmente, e para que tal aconteça, é preciso que o próprio setor comece a funcionar e a trabalhar de outra forma. "Muito mais com a incorporação de tecnologias digitais e muito menos com atividade manual. Talvez assim se consiga esbater as diferenças que ainda existem.".Ricardo Pedrosa assume que o setor da construção possa ser mais conservador do que outros, e que não evolui à mesma velocidade da própria sociedade, mas que é essencial e desejável que aceite a mudança. "Os empresários têm de mudar a sua mentalidade e aceitar as mudanças sociais à sua volta. Não há razão nenhuma para que a construção não evolua neste sentido. Aliás, é desejável que tal aconteça. Quer queiram quer não, os empresários vão ter de se adaptar a esta realidade", sublinhou.