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23 MAI 2019
23 maio 2019 às 06h25

Seleção de sub-20: atual geração tem mais rodagem do que os campeões mundiais de 1989 e 1991

Os antigos campeões do mundo Paulo Alves e Fernando Nélson concordam que a experiência ao mais alto nível desta equipa poderá ser decisiva para uma boa participação portuguesa no Campeonato do Mundo que começa nesta quinta-feira na Polónia. Portugal estreia-se no sábado com a Coreia do Sul

André Cruz Martins

A seleção portuguesa parte como uma das favoritas à vitória no Campeonato do Mundo de sub-20, que arranca nesta quinta-feira, na Polónia. Logo à partida pela grande qualidade que existe no lote de convocados do selecionador nacional, Hélio Sousa, apesar de a grande estrela, João Félix, ter ficado de fora. E também porque grande parte destes jogadores sagraram-se campeões europeus de sub-17, em 2016, e de sub-19, no ano passado. Dos eleitos destacam-se os nomes de Rafael Leão, Diogo Dalot, Gedson Fernandes, Florentino Luís e Diogo Leite. Esta será a 12.ª participação portuguesa no Mundial da categoria (em 22 edições) e Hélio Sousa já assumiu que a equipa parte à conquista da terceira vitória, depois dos títulos de Riade 1989 e Lisboa 1991.

Para tentar alcançar esse feito, o técnico nacional conta com um apreciável lote de futebolistas com experiência ao serviço dos seus clubes. Analisando os 21 convocados, cinco têm uma boa taxa de utilização nas equipas principais: Diogo Dalot (Manchester United), Rúben Vinagre (Wolverhampton), Gedson Fernandes e Florentino (ambos no Benfica) e Rafael Leão (Lille). Inclusivamente, Gedson e Florentino foram campeões nacionais, tal como Jota, embora este tenha sido pouco utilizado na equipa principal do Benfica.

Destaque ainda para Diogo Leite, que começou a época como titular no FC Porto, aproveitando as lesões no eixo da defesa dos azuis e brancos. Estatuto que perderia definitivamente com a chegada de Éder Militão. E também para Miguel Luís, que chegou a viver uma boa fase no Sporting, com o treinador interino Tiago Fernandes e nos primeiros tempos de Marcel Keizer. Foi o melhor em campo no Sporting-Belenenses de 3 de janeiro, aproveitando o castigo de Bruno Fernandes, até marcou um golo nesse triunfo dos leões por 2-1. Mas subitamente desapareceu do mapa.

Campeões do mundo com utilização residual nos clubes

Nas duas únicas vezes em que Portugal foi campeão do mundo de sub-20 (1989 e 1991) não havia uma forte aposta nos jovens jogadores portugueses e eram muito poucos os que tinham utilização regular ao serviço de equipas seniores. Muitos deles estavam cedidos a clubes secundários, de forma a ganharem rodagem.

Em Riade 1989 não havia um único titular indiscutível nos respetivos clubes. Amaral, extremo na altura emprestado pelo Sporting ao Gil Vicente, foi o único que somou um bom número de encontros (15) no onze inicial até meio de fevereiro dessa temporada de 1988-1989. Foi por essa altura que os jogadores se concentraram no estágio da seleção nacional. Em Lisboa 1991 houve três futebolistas bastante utilizados nos onzes iniciais - Nélson (22 jogos no Salgueiros), Jorge Costa (emprestado pelo FC Porto ao Penafiel, com 19 encontros) e, principalmente, Rui Costa (cedido pelo Benfica ao Fafe, do segundo escalão, com 34 encontros como titular). De referir que nesta ocasião o Campeonato do Mundo já se realizou no final da época.

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A ver vamos se esta experiência ao mais alto nível se virá a revelar decisiva para a seleção portuguesa neste Mundial. Portugal estreia-se na prova já neste sábado, diante da Coreia do Sul (14.30), e depois seguem-se confrontos com a Argentina, no dia 28, e África do Sul, a 31. Todas as partidas serão disputadas na cidade de Bielsko-Biala, no sul da Polónia.

Atual selecionador começava a brilhar no V. Setúbal

Como já foi referido, o extremo-direito Amaral era o jogador com mais experiência nos convocados de Carlos Queiroz para Riade 1989. Emprestado pelo Sporting ao Gil Vicente, somou 15 jogos como titular na época de 1988-1989, em 1359 minutos.

Hélio, curiosamente o atual selecionador nacional, somou 589 minutos na época e meia como sénior do V. Setúbal que antecedeu a prova na Arábia Saudita. Ainda assim, quase nunca foi titular, condição que assumiu apenas por cinco vezes. E Resende cumpriu 519 minutos pelo Farense, com sete jogos como titular.

Todos os outros convocados que participaram nesse Mundial tiveram pouca utilização nos clubes. João Vieira Pinto, uma das estrelas da equipa (e juntamente com o guarda-redes Brassard, os únicos a repetirem a presença em Lisboa 1991), só tinha 15 minutos em três jogos ao serviço da equipa principal do Boavista, sempre na condição de suplente utilizado.

Quando regressou da prova na Arábia Saudita, João Vieira Pinto ainda foi a tempo de alinhar em três partidas do campeonato da temporada de 1988-1989, mas sempre saindo do banco. Em 1989-1990 começou a destacar-se, com seis golos em 13 desafios ao serviços dos axadrezados, com nove encontros como titular.

No final dessa época, João Vieira Pinto transferiu-se para o Atlético de Madrid, mas nem um minuto somou ao serviço da formação principal dos colchoneros, relegado para o clube satélite, o Atlético Madrileño. Isso não o impediu de ser chamado para o Mundial de sub-20 de Lisboa, em 1991, onde foi titular, com um golo apontado em seis jogos.

Abel Silva é outro exemplo de como os jovens na altura eram pouco utilizados nas equipas principais. O defesa direito brilhou na final do Mundial, ao inaugurar o marcador frente à Nigéria, com um grande golo de fora na área. A sua experiência como sénior até essa altura resumia-se a 90 minutos, num Benfica-Cova da Piedade, disputado em novembro de 1988 e referente à Taça de Portugal.

Rui Costa jogava muito mas no segundo escalão

De todos os convocados por Carlos Queiroz para o Campeonato do Mundo de Lisboa 1991, Rui Costa era o jogador com mais experiência a nível sénior. Nessa época de 1990-1991 era titular indiscutível no Fafe, tendo realizado 38 jogos, mas ao serviço de uma equipa do segundo escalão, onde estava cedido pelo Benfica.

Nélson já tinha feito 24 desafios ao serviço do Salgueiros, dos quais 22 como titular. Curiosamente, não foi indiscutível no Mundial, tendo cumprido apenas um jogo no onze inicial e dois como suplente utilizado, o que não o impediu de se transferir para o Sporting.

Jorge Costa já se destacava como titular no Penafiel, tendo realizado 23 partidas na temporada de 1990-1991, 19 das quais como titular. E já se revelava um central goleador, com três golos apontados.

Emílio Peixe, que viria a ser eleito o melhor jogador do Mundial de sub-20, tinha apenas 90 minutos como sénior do Sporting. Aproveitando ausências de habituais titulares, foi titular numa vitória por 1-0, em casa do Sp. Farense.

Paulo Torres, eleito o terceiro melhor futebolista na competição, somava apenas dois encontros como titular pelos leões e outro no Atlético. E Luís Figo foi um caso curioso. Já tinha feito três jogos como sénior no Sporting, não nessa temporada, mas sim na anterior, quando tinha apenas 17 anos.

Experiência pode ser vantagem

Paulo Alves, campeão do Mundo na geração de 1989, não duvida de que esta maior experiência dos jogadores às ordens de Hélio Sousa "poderá ter uma influência muito positiva no desempenho da equipa no Campeonato do Mundo". O antigo ponta-de-lança destaca ainda o facto de "boa parte do grupo ter conquistado os títulos de campeão da Europa de sub-17 e de sub-19".

Ainda assim, o ex-internacional português não dá como garantida uma grande participação lusa na prova. "Nestas competições de seleções jovens aparecem sempre surpresas e já há muitas equipas que trabalham muito bem. Inclusivamente, Portugal foi a surpresa em 1989, ninguém acreditaria que nós pudéssemos ser campeões do Mundo. Por outro lado, existem sempre as seleções tradicionais com grande força, como a França, a Itália e a Argentina", referiu ao DN.

O ex-defesa direito Nélson, campeão do mundo de sub-20 em Lisboa 1991, entende que "é muito positivo para o selecionador nacional ter a possibilidade de contar com tantos jogadores com experiência ao mais alto nível". Na sua opinião, "essa maior maturidade poderá fazer a diferença numa prova de seleções jovens".

Na época de 1988-1989, quando decorreu o Mundial de Riade, Paulo Alves já fazia parte do plantel sénior do Gil Vicente, mas não somou um único minuto, pois teve uma lesão grave, recuperando contudo a tempo de participar no Mundial. E recorda que, no seu grupo, "quase ninguém tinha experiência de primeira equipa a nível de clubes, uma situação muito diferente da atual geração". "Nessa altura havia muitos jogos das seleções jovens e era aí que se ganhava andamento", lembrou, sublinhando que alguns dos seus colegas tinham sido vice-campeões da Europa de sub-19.

Será esta a melhor geração de sempre?

Nélson reconhece grande qualidade ao lote de convocados de Hélio Sousa que vai iniciar no sábado a participação no Mundial de sub-20, mas acha exagerado dizer-se que esta geração é melhor do que aquelas em que Portugal conquistou o troféu neste escalão. "Acho muito precipitado ter-se esse pensamento. Em Lisboa 1991 tivemos a responsabilidade de defender o título de Riade e conseguimos estar ao mesmo nível dos nossos colegas. Foram duas equipas fortíssimas", recorda.

Paulo Alves defende que a atual equipa portuguesa "reúne condições para realizar uma excelente prova" e não acredita que alguns jogadores assumam algum vedetismo por estarem habituados a uma realidade mais exigente. "Se isso acontecesse seria muito mau sinal. No entanto, tenho a certeza de que isso não irá acontecer pois um Campeonato do Mundo é uma prova importantíssima, possivelmente a mais importante que existe no pensamento de um futebolista. E não pode haver maior orgulho do que representar Portugal", defende.

Já Nélson está expectante "para saber como é que jogadores já habituados a outro nível competitivo irão reagir ao voltar ao escalão correspondente à sua idade e se vão ter a mesma postura que têm vindo a demonstrar".

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