Pandemia atira para o desemprego quase cem mil pessoas

No final de maio estavam inscritas nos centros de emprego 409 mil pessoas. Comparando com o mesmo mês do ano passado, é uma subida de 34%, a maior variação homóloga de que há registo.
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Desde o início da pandemia de covid-19, em março, já se inscreveram nos centros de emprego quase cem mil pessoas. O primeiro caso da doença foi detetado no dia 2 de março, mas os efeitos só começaram a fazer-se sentir em meados do mês com a declaração do estado de emergência no dia 19. No final de fevereiro estavam inscritas 315 562 pessoas, no final de maio chegava quase aos 409 mil, ou seja, 93 372 desempregado a mais, o que representa um aumento de 30% em apenas três meses.

Uma evolução que contraria a trajetória habitual. "Sazonalmente já estaríamos a entrar numa época de baixa do desemprego, porque entrámos na primavera e no verão e, portanto, é uma altura do ponto alto da criação de emprego", sublinha o ex-presidente do IEFP, Francisco Madelino, acrescentando que "estes dados já estão a demonstrar que a situação, mesmo com a manutenção dos lay-off, está a piorar", frisa em declarações ao DN/Dinheiro Vivo.

De acordo com os dados divulgados na segunda-feira pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) comparando maio deste ano com o mesmo mês do ano passado, 103 763 pessoas entraram para as estatísticas, atirando o total para valores que já não eram vistos desde o final de 2017, início de 2018. "Temos uma situação em que estruturalmente o mercado de trabalho começa a demonstrar que a situação começa a dar sinais complicados", resume o especialista em mercado de trabalho.

Analisando as séries históricas do IEFP, este aumento homólogo revela o maior salto desde que existem registos que remontam ao final dos anos 70 do século passado. Um valor tão elevado só é encontrado no período da crise financeira de 2008-2009. De acordo com os cálculos do DN/Dinheiro Vivo, uma variação desta magnitude só encontra paralelo em julho de 2009, quando se registou um aumento de 30,1%.

Comparando com o mês de abril - o primeiro completo de confinamento da população - verificou-se um abrandamento. De março para abril, mais de 48 mil pessoas engrossaram o contingente do IEFP (aumento de 14,1%), mas de abril para maio foram "apenas" 16 611 (+4,2%), ou seja, três vezes menos.

Mulheres, pouco qualificados e jovens

Os dados do IEFP mostram que ninguém escapou à razia do desemprego, mas há grupos que são mais afetados. "Para o aumento do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2019, contribuíram todos os grupos do ficheiro de desempregados, com destaque para as mulheres, os adultos com idades iguais ou superiores a 25 anos, os inscritos há menos de um ano, os que procuravam novo emprego e os que possuem como habilitação escolar o secundário", indica o boletim mensal sobre o mercado de emprego.

No caso das mulheres, estamos a falar de 55% do total do desemprego registado no final de maio, representando mais de 224 mil trabalhadoras. Face ao ano passado, registou-se uma subida de 32%.

Mas foram os jovens com maior embate, comparando com maio do ano passado. Trata-se de um aumento homólogo de 52%, enquanto nos restantes grupos etários superiores o desemprego registado subiu 32%.

Por grupos profissionais dos desempregados registados no continente, "salientam-se os mais representativos, por ordem decrescente: "trabalhadores não qualificados" (25,4%) e "trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção segurança e vendedores" (21,6%)", só para citar dois.

Todos os setores de atividade sofreram o impacto da pandemia, face a maio de 2019, mas a maior subida registou-se no setor de serviços (44,7%), onde se incluem as áreas ligadas ao turismo.

"A desagregação deste ramo de atividade económica permite observar que as subidas percentuais mais acentuadas, por ordem decrescente, se verificaram nas atividades de: "alojamento, restauração e similares" (+89,3%), "transportes e armazenagem" (+62,8%) e "atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio" (+57,5%)", refere o IEFP.

A este dado estará relacionado o facto de o aumento do número de inscritos ter sido mais expressivo na região do Algarve.

Jornalista do Dinheiro Vivo

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