Brasileiros gostariam de debater os seus problemas com Lula

Uma centena de apoiantes de Lula da Silva circularam por Belém ao ritmo dos compromissos oficiais, numa ação do PT. Um ou outro crítico que apareceu foi convidado a sair.
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Um acenar de mãos ao longe, foi tudo o que a comunidade brasileira teve de Lula da Silva no início da visita oficial a Portugal. E são já mais de 330 mil os que aqui têm residência legal, sem contar com os que se tornaram portugueses. Uma centena deslocou-se a Belém para mostrar o seu apoio ao presidente e, como apoiantes que são, compreendem que não esteja previsto na agenda um encontro com a comunidade.

"Seria bom existir esse encontro, mas penso que não acontece por uma questão de segurança. Tem a ver com o momento que a Europa atravessa, com o crescimento da extrema-direita", justifica Fábio Swartele, 56 anos, há sete em Portugal. No Brasil vivia em Santos (São Paulo) e era professor universitário, agora é estafeta da Uber. "Não consigo exercer a mesma profissão, é a vida do imigrante". Mas não se arrepende de ter imigrado. "Fugi da violência e para ter mais qualidade de vida".


É parte de uma comunidade que todos os dias soma novos membros. Eram 233 138 com autorização de residência em dezembro. Juntaram-se-lhes cerca de 100 mil que a obtiveram já este ano, 90 % dos quais através do sistema online para os imigrantes falantes de português iniciado há um mês. São já mais de 330 mil, portanto, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Serão muitos mais com os que adquiriram a nacionalidade portuguesa. Tem havido uma média anual de 50 mil novos portugueses, grande parte dos quais brasileiros, segundo dados do Ministério da Justiça.


Fábio está com a filha, Giulia, estudante de Direito. "A comunidade brasileira sofre de muito preconceito, quero ser uma voz contra essas situações", anuncia. Este é um tema que gostaria de ver o presidente do Brasil abordar durante a visita. Pai e filha são apoiantes do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula da Silva, tal como a maioria dos que se deslocaram a Belém.

Destaquedestaque330 mil brasileiros

A mini-manifestação foi organizada precisamente pelo núcleo do PT em Portugal. E as boas vindas a Lula da Silva foram dadas com cartazes: "Lula pela educação; pelas minorias. Fascismo não, 25 de Abril, Marielle vive (a vereadora que for morta em 2018)". Gritaram slogans: "Lula, eu vim aqui só para te ver!" Olá, Olé, Olá, Lula, Lula!" ou "Lula guerreiro do povo brasileiro!" E, assim, se foram movimentando entre o Centro Cultural de Belém e o Palácio de Belém, ao ritmo dos compromissos do presidente Lula. A primeira paragem foi mais especial, na Praça do Império, onde o presidente brasileiro recebeu honras militares.

Amélia Sousa, 70 anos, reformou-se e veio para Portugal há quatro anos. Deslocou-se das Caldas da Rainha (Leiria), tinha esperança que Lula da Silva se aproximasse das grades que a separavam das cerimónias. Não aconteceu. "Era difícil, mas Lula está em Portugal e ele percebe que o apoiamos".

Um sentimento partilhado por Patrícia Neves, 55 anos, luso-brasileira. Vive entre Portugal e Brasil (é casada com um português), vota nos dois países, usufrui do que cada um tem. "Estou aqui pelo Lula e pela união entre os dois países. Estou muito feliz por um presidente do meu país voltar a Portugal".

Pietro Milita, 18 anos, estudante-trabalhador, sublinha aos amigos as diferenças dos últimos presidentes do Brasil. "Em quatro meses, Lula já visitou mais países do que Bolsonaro durante o seu mandado todo". Falava para Luan Ambrizi, 23 anos, Julia Ruggeri, 23, Roan Salles, 23, Mateus Campos, 23 , e Loren Ruggeri, 20 anos. Todos trabalham para uma empresa de exportação de limas - o mais recente chegou há um mês; os mais antigos há um ano. Gostariam que o presidente brasileiro se encontrasse com a comunidade, já que há problemas a resolver. "Estamos bem no que diz respeito à Saúde, mas já não acontece na Educação. Quem não vem como uma bolsa do Brasil, dificilmente consegue entrar aqui na universidade", exemplificam. A boa notícia é que entre os 13 acordos de cooperação assinados ontem um visa a equiparação do ensino do secundário.

Os apoiantes de Lula desvalorizam as suas declarações sobre a invasão da Ucrânia. "O presidente Lula defende a paz, ele criticou a Rússia", diz Patrícia Neves.

Quem não esquece essas declarações é Simão Guedes, 24 anos, empregado na área dos seguros. É dele a bandeira da Ucrânia isolada que surge entre os cartazes de apoio ao presidente brasileiro. "Estou indignado com as declarações de Lula da Silva de apoio à causa russa, a Putin. Ele criticou a UE, a quem acusa de estar a fomentar a guerra com o seu apoio à Ucrânia".

Trinta minutos depois o jovem foi convidado por um agente da PSP a retirar-se, tal como um segundo manifestante com um cartaz contra Lula, ambos portugueses. A polícia registou os nomes. Ao DN, fonte do Comando Metropolitano de Lisboa explicou que a ação pretendeu "salvaguardar os próprios". E argumenta: "a manifestação estava marcada e estes comportamentos podem causar determinado tipo de reação dos manifestantes".

ceuneves@dn.pt

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