Desde 1970 que se celebra o Dia da Terra com o objetivo de sensibilizar para a necessidade de proteger os recursos do planeta. Mas, estamos num impasse. O Acordo de Paris, assinado no Dia da Terra do ano 2016, definiu um plano de ação para limitar o aquecimento global. Os países que o assinaram concordaram em manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2ºC, em relação aos níveis pré-industriais, e limitar o aumento aos 1,5ºC. Matematicamente é possível reduzir as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, porém, a realidade não é essa..Para reduzir as emissões aos níveis definidos seria necessário diminuir, em cada década entre 2020 e 2050, 50% das emissões para atingir a neutralidade carbónica. Seria necessária uma redução de 7% das emissões por ano para atingir os 50%.."As alterações climáticas são um problema global e por isso não chega serem apenas alguns países a atingir este objetivo. É necessário que todo o mundo consiga. Com a pandemia, conseguimos efetivamente reduzir 7% das emissões mas apenas porque a economia parou", diz Carlos Antunes, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa..O professor relembra a frase do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, aquando da apresentação do relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas) e como esta explica a necessidade de uma intervenção a nível global : "O nosso mundo precisa de uma ação climática em todas as frentes: tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo.".Estando em 2023, já "perdemos" três anos de esforços de redução, por isso a partir de 2024 este tem de aumentar para uma redução de 9,4% todos os anos. "No passado não há nenhum ano, exceto 2020, em que tenhamos conseguido elevados níveis de redução de emissões de carbono"..O IPCC aponta 2100 como o limite para tentar evitar o aquecimento global além dos 1,5ºC. No seu relatório, esta organização define como solução para a redução das emissões uma tecnologia de captura e sequestro de carbono. No entanto, esta é uma tecnologia que ainda não existe a uma escala grande o suficiente e tem um consumo energético demasiado grande. Carlos Antunes critica o facto de se estar a colocar esperança numa tecnologia que ainda não existe.."As economias ocidentais já conseguiram evoluir em termos de eficiência energética e já conseguem produzir mais consumindo menos energia. Apesar disto, as economias emergentes precisam de elevados níveis de produção de energia primária para conseguir alimentar o crescimento económico que têm vindo a ter", compara Carlos Antunes. A transição energética é a solução que vários setores apontam para a redução das emissões. Esse esforço está, no entanto, subjacente ao de reduzir 9,4% das emissões por ano entre 2024 e 2030, e à inversão do mix energético..Atualmente 84% da energia primária é de origem fóssil, 11% é de origem nuclear mais híbrido e 5% é de origem renovável. A transição energética implica que se inverta este esquema e que as fontes renováveis tenham um maior peso..O crescimento populacional também tem impacto no consumo de energia. O consumo global anual de energia é de 20 megawatts-hora per capita e é necessário manter este consumo para a economia continuar a crescer.. Este dado torna complicado compreender como fazer uma transição energética substancial..Segundo as Nações Unidas, a Índia ultrapassou, esta semana, a China como o país mais populoso do mundo e em novembro atingiu-se o marco de 8 mil milhões de pessoas no mundo..A China e a Índia são dois países onde as emissões estão a aumentar devido ao crescimento da economia. De forma a que o esforço global de redução de emissões seja cumprido, os países ocidentais têm de fazer um esforço maior para compensar o excesso destes países emergentes..Para que seja possível atingir a neutralidade carbónica é necessário um maior esforço de redução da parte de todos os países. Ou seja, tudo, em todo o lado, ao mesmo tempo..sara.a.santos@dn.pt