O prazo para o líder da aliança Azul e Branco, Benny Gantz, conseguir um acordo para formar governo em Israel acabou à meia-noite (22.00 de quarta-feira em Lisboa). Tal como Benjamin Netanyahu antes dele, o líder da oposição não teve sucesso na tarefa e isso significa que os israelitas estão mais próximos de voltar às urnas pela terceira vez no espaço de um ano..A falta de acordo interno entre ambos e o limbo político em Israel não significa divisão a nível externo, com união diante do inimigo: o Irão. Os militares israelitas atacaram posições iranianas na Síria, após terem sido disparados vários rockets desde este país (em guerra civil há mais de oito anos) em direção ao norte de Israel.."Deixei claro a quem nos atacara, nós vamos atacá-los. Foi isso que fizemos nesta noite contra os alvos militares da Força Quds e dos militares sírios na Síria depois de rockets terem sido lançados contra Israel na noite passada. Vamos continuar a manter a segurança de Israel", escreveu Netanyahu no Twitter.."Precisamos de manter e fortalecer a dissuasão em todas as frentes", escreveu também Gantz, referindo-se aos ataques da última madrugada na Síria..A caminho de novas eleições?.A 9 de abril, os israelitas foram pela primeira vez às urnas neste ano, para eleger os 120 deputados do Knesset. As eleições deviam acontecer só em novembro, mas foram antecipadas por causa das acusações de corrupção contra o primeiro-ministro, Netanyahu, mas também por causa de uma divisão entre os membros do governo sobre uma proposta de lei referente à população ultraortodoxa e à isenção de cumprirem o serviço militar obrigatório..Os resultados ditaram o empate a 35 deputados entre o Likud e a Azul e Branco, mas com Netanyahu a conseguir mais apoios entre os outros parceiros de governo, à direita, e Gantz a conceder a vitória ao adversário. Contudo, Netanyahu, no poder desde 2009, não foi capaz de renegociar uma coligação, mais uma vez devido à questão do serviço militar e aos seus problemas jurídicos..Diante da possibilidade de o presidente Reuven Rivlin convidar Gantz para formar governo, Netanyahu pressionou com sucesso para uma dissolução do Knesset e novas eleições..Os israelitas voltaram às urnas a 17 de setembro. Desta vez, a Azul e Branco conquistou 33 deputados e o Likud 32. O papel de "fazedor de reis" coube a Avigdor Lieberman, que elegeu oito representantes com a Yisrael Beiteinu (Israel, a Nossa Casa). Este apelou logo na noite eleitoral a uma grande aliança entre os dois partidos e rejeitou a ideia de formar uma maioria com os partidos árabes..Após negociações iniciais, Netanyahu surgiu com o maior número de apoios e foi convidado a formar governo por Rivlin, mas a 22 de outubro acabaria por informar o presidente de que tinha sido incapaz de o fazer. No dia seguinte, este passou para Gantz, que fez campanha com a promessa de derrubar Netanyahu, o mandato de formar um executivo. Um mandato que acabou à meia-noite desta quarta-feira..Ao longo de quarta-feira, Lieberman voltou a rejeitar apoiar um ou outro. "Recuso apoiar um governo minoritário [Gantz com o apoio dos partidos árabes] ou apertado [Netanyahu com o seu bloco de direita e religioso", disse o ex-ministro da Defesa de Netanyahu. "No atual estado das coisas, estamos a caminho de novas eleições", acrescentou numa conferência de imprensa..Sem Lieberman, Gantz ainda se virou para Netanyahu e para a possibilidade de uma grande coligação, mas aí a dúvida era quem seria primeiro chefe de governo (o mandato seria partilhado entre ambos). "Infelizmente, depois da nossa reunião [na terça-feira], Gantz recusou aceitar que eu seja o primeiro numa rotação do posto de primeiro-ministro", escreveu Netanyahu no Twitter.."Nesta manhã, temos de dizer a verdade. Benjamin Netanyahu é contra a unidade e fará todo o possível por nos levar a eleições pela terceira vez num ano"; indicou Gantz..Restam ainda 21 dias para um candidato poder apresentar uma maioria de votos no Knesset e poder ser nomeado primeiro-ministro. Findo esse prazo, os israelitas serão novamente chamados a votar, previsivelmente em março..E, nesse caso, Netanyahu terá outro problema pela frente: no início de dezembro deverá ser conhecida a decisão da justiça em relação às acusações de "corrupção" contra o primeiro-ministro. Netanyahu, de 70 anos, rejeita todas as acusações..Ataques na Síria.Apesar da falta de acordo para formar governo, há união no que diz respeito ao Irão..Na madrugada desta quarta-feira, as Forças Armadas israelitas anunciaram o ataque a uma dúzia de alvos iranianos (principalmente armazéns de armas e bases militares) na Síria, assim como objetivos militares sírios (baterias de defesa que responderam ao ataque israelita), depois de ataques com rockets contra os montes Golã. Estes foram intercetados, como já aconteceu noutras cinco ocasiões..O Observatório Sírio de Direitos Humanos fala em pelo menos 21 mortos, dos quais cinco seriam de forças do regime sírio e o resto da Força Al-Quds e de milícias leais ao Irão, na sua maioria não sírios. Já os media sírios informaram da morte de dois civis..Não é a primeira vez que Israel faz este tipo de ataques, tendo na semana passada lançado um ataque aéreo contra um comandante da Jihad Islâmica palestiniana em Damasco. Akrahm al-Ajouri sobreviveu à tentativa de assassínio, mas o filho e a neta foram mortos. No mesmo dia, Israel matou um comandante do grupo em Gaza, Bahaa Abu el-Atta, desencadeando uma série de combates que resultaram em mais de 450 rockets lançados contra Israel. Pelo menos 34 palestinianos morreram na resposta..O Irão tem militares na Síria - a Força Al-Quds é o ramo da Guarda Revolucionária do Irão responsável por operações no estrangeiro - e quer reforçar a sua presença no país. Israel está focado em não deixar que isso aconteça. Além disso, Teerão apoia os militantes do Hezbollah no Líbano e, em Gaza, financia a Jihad Islâmica, além de fornecer armas e treino, apoiando também o Hamas..Para Israel (e especialmente Netanyahu), foi preocupante a saída das forças norte-americanas da Síria. Uma decisão de Donald Trump, que não terá informado previamente o primeiro-ministro israelita. Os desejos do presidente norte-americano de sair do Médio Oriente não são bem vistos em Israel, que vê a presença e influência dos EUA na região como um fator de dissuasão contra os ataques a Israel. A saída dos EUA abre caminho à Rússia, Turquia e Irão, escreveu o Los Angeles Times..Depois de puxar o tapete a Netanyahu, e de ter mantido a distância nas eleições de setembro, Trump teve nesta semana um gesto favorável para com Israel: na segunda-feira, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou que Washington já não considera ilegais os colonatos israelitas na Cisjordânia ocupada. Algo que Netanyahu pode festejar.