Clima é incompatível com negacionistas?

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A proximidade entre Portugal e Cabo Verde sempre foi grande no âmbito dos países da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP). Aliás, a moeda local ainda hoje é o escudo cabo-verdiano. A boa e umbilical relação mantém-se na política, na economia e também em matéria ambiental. Portugal e Cabo Verde assinaram ontem um acordo sobre o Fundo Climático Ambiental que vai ser criado pelas autoridades cabo-verdianas e Portugal é o primeiro país a entrar, assumindo o compromisso de participar com 12 milhões de euros.

Em Lisboa, foram assinados os acordos bilaterais e os milhões lusitanos correspondem ao montante a reembolsar pelo Estado cabo-verdiano, a título de capital, no âmbito do Contrato de Consolidação da Dívida de Cabo Verde a Portugal, que foi celebrado a 1 de fevereiro de 2022. Não se trata apenas de converter dívida em fundo ambiental. Ainda que a solução encontrada responda ao desafio de gerir elevados custos dos serviços de dívida pública, ela pretende ainda apoiar o desenvolvimento sustentável daquelas ilhas africanas, através de investimentos que ajudem a combater as alterações climáticas. Cabo Verde já é há muito um terreno árido e quente, e com as mudanças do clima a situação tende a agravar-se.

Portugal vive uma realidade climática também cada vez mais preocupante. A seca é extrema em muitos territórios, com destaque para Alentejo e Algarve, e viver 60 dias por ano em onda de calor pode ser o novo normal, como conta o artigo nas páginas 4 e 5. O verão chega hoje e com ele chegam as preocupações de agricultores e criadores de gado, mas também de médicos e do setor social de apoio aos mais velhos. O calor já levou a Direção-Geral de Saúde a emitir recomendações e a ameaça dos fogos volta a estar à espreita.

Os negacionistas do clima (aqueles que não acreditam no aquecimento global ou que, apesar de olharem para o termómetro, não acreditam que o fenómeno seja responsabilidade do homem) podem usar os megafones que quiserem, mas as temperaturas não mentem nem os efeitos nefastos na natureza e na saúde. Como diz o provérbio popular: "Ano de seca, ano de fome."

O clima será, provavelmente, o desafio das nossas vidas. Levemos a sério esta missão de combater as alterações ambientais e que este tema não seja apenas mais um toque de maquilhagem nos relatórios e contas de certas empresas ou na propaganda política de alguns governos.

Diretora do Diário de Notícias

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