A poucas horas do início do julgamento do presidente Donald Trump por abuso de poder e obstrução ao Congresso - os dois artigos pelos quais a Câmara dos Representantes aprovou a destituição do presidente -, os norte-americanos ainda não sabem como vai decorrer. De um lado, Trump e os seus acólitos querem que decorra o mais rápido possível para acabar com a "afronta à Constituição", do outro os democratas querem confrontar novas testemunhas..As mais recentes notícias dão conta de que o líder da maioria do Senado Mitch McConnell deverá atribuir um total de 24 horas para as alegações iniciais da acusação e da defesa, mas esse tempo deve ser limitado a dois dias úteis, disseram à NBC fontes republicanas familiarizadas com a proposta. A concretizar-se, isso significa longas jornadas no Senado, já que os procuradores do impeachment (os sete representantes da Câmara) vão ter de apresentar o caso contra Trump e a equipa jurídica da defesa do presidente terá de fazer os seus argumentos num calendário apertado..Com o início do julgamento a aproximar-se, os democratas do Senado e os procuradores continuam a desconhecer os detalhes processuais. "Não houve a mais básica negociação ou troca de informações", lamentou o senador democrata Dick Durbin no programa da NBC Meet the Press. Durbin afirmou que um julgamento justo exige ouvir testemunhas e analisar provas. "A história vai julgar-vos", disse, em referência aos senadores republicanos..Também Chuck Schumer, o líder da minoria democrata no Senado, pressionou no domingo à noite o líder da maioria republicana, Mitch McConnell, para este explicar como é que o julgamento vai decorrer. "Porque é que McConnell está a ser tão reservado em relação à sua proposta?", disse Schumer em conferência de imprensa..Tal como os outros senadores, McConnell jurou atuar com imparcialidade. No entanto, desde o momento em que o julgamento se tornou numa realidade, afirmou que iria articular-se com o presidente..Schumer disse que assim que tiver ocasião vai tentar levar a votos um julgamento com testemunhas bem como as novas provas do envolvimento de próximos de Trump no dossiê ucraniano, como é o caso dos documentos entregues por Lev Parnas, um homem de negócios próximo de Rudolph Giuliani, advogado pessoal do presidente.."Temos o direito de fazê-lo, vamos fazê-lo e vamos fazê-lo no início, se McConnell não prever a chamada de testemunhas na sua proposta", disse Schumer..Um assessor dos democratas, sob anonimato, comentou: "Os procuradores não têm absolutamente ideia alguma de qual será a estrutura do julgamento e a noção de que vão para um julgamento sem saber como se estrutura é completamente inexplicável."."Perigosa perversão".Enquanto isso, a equipa jurídica da Casa Branca respondeu aos artigos de destituição levados pela Câmara ao Senado, classificando-os de "perigosa perversão" e tendo apelado ao Senado para retirar de imediato as acusações ao presidente..O relatório de 110 páginas rejeita a ideia de que Trump tenha violado as leis federais. O relatório desenvolve os argumentos apresentados num documento divulgado no fim-de-semana, que responde aos artigos do impeachment, tratando tanto do processo como da substância. Os advogados da Casa Branca argumentam que o presidente não pode ser destituído por abuso de poder a não ser que tenha cometido um crime e que o presidente não abusou do seu poder. "O abuso de poder não é um crime", dizem..Já os democratas argumentam que o abuso de poder é exatamente um dos "altos crimes e delitos" que os fundadores tinham em mente quando escreveram a Constituição. Para a equipa jurídica de Trump a acusação de abuso de poder é subjetiva. "Alteraria a separação de poderes para permitir que este tipo de padrão vago fosse usado para impeachment do presidente.".O documento argumenta ainda que o artigo de destituição por obstruir o Congresso é inválido por causa das proteções permanentes do poder executivo e porque a Câmara não tentou o recurso judicial para forçar a cooperação..No entanto, se a equipa jurídica de Trump pede a retirada das acusações, McConnell tem outro entendimento: que prevê realizar o julgamento, mas deve estar em linha com o presidente e não pretende ouvir testemunhas. Os democratas querem ouvir o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton; o chefe de gabinete da Casa Branca Mick Mulvaney; o seu conselheiro Robert Blair; e o diretor adjunto dos programas de segurança nacional da agência do Orçamento e Gestão, Michael Duffey..Os congressistas tinham pedido que John Bolton testemunhasse. Na altura, respondeu que só testemunharia perante a Câmara se fosse intimado e com ordem do tribunal. Este "falcão" terá mudado de ideias, quando indicou já neste mês estar disponível para comparecer no julgamento do Senado, assim seja convocado..As outras testemunhas que os democratas do Senado gostariam de chamar para depor foram intimadas durante o inquérito de destituição, mas obedeceram às instruções da Casa Branca de não colaborar com a investigação..Pingue-pongue no Twitter.Na segunda-feira, Schumer voltou à carga. "O senador McConnell está a tentar impedir testemunhas e a revelação de documentos. Os democratas vão forçar uma votação a favor de testemunhas e documentos. Tudo o que os Estados Unidos precisam é de quatro senadores republicanos para que haja um julgamento justo", escreveu no Twitter..Também no meio de comunicação preferido de Donald Trump, o representante Adam Schiff - e líder do grupo de sete procuradores que vai defender o caso no Senado - respondeu ao presidente. Trump escrevera: "Eles não quiseram John Bolton e outros na Câmara. Estavam com muita pressa. Agora querem-nos a todos no Senado. Não deveria ser assim!" Schiff escreveu: "Não, Sr. Presidente, pedimos a John Bolton para testemunhar. O senhor ordenou que ele não o fizesse e bloqueou outros, como Mick Mulvaney. Todos os norte-americanos sabem que um julgamento justo inclui documentos e testemunhas. O que está a esconder?".Schiff tem dito que seria uma perda de tempo tentar levar aquelas pessoas a falar, uma vez que as comissões da Câmara teriam de levar o caso a tribunal. "O que o presidente está a ameaçar fazer é burlar as próximas eleições. Não podemos esperar meses ou anos para poder remover essa ameaça do cargo", argumentou.."O julgamento vai demorar muito mais tempo, porque os democratas vão chamar John Bolton. O presidente vai invocar o privilégio executivo e terá de ir aos tribunais", disse na CNN o advogado de celebridades Alan Dershowitz, a mais recente adição à equipa jurídica de Trump..O presidente quer chegar ao tradicional discurso sobre o estado da nação, no dia 4 de fevereiro, com o julgamento terminado. No final, o presidente só seria afastado do cargo se dois terços dos senadores ratificassem a impugnação aprovada pela Câmara. Um cenário mais do que improvável, uma vez que os republicanos detêm 53 dos cem lugares na câmara alta e até agora nem um se mostrou crítico do homem de negócios.