Brexit. Ninguém sabe o que vai acontecer

Como explicou Theresa May quando perdeu a votação, o Parlamento disse o que não queria mas não disse o que queria. A coligação de votos que chumbou o acordo só consegue concordar numa coisa: não querem aquele acordo, mas por razões completamente diferentes.
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Mas, não sendo este acordo, é o quê? Ninguém, genuinamente, sabe.

A única coisa certa é a que todos, mesmo os mais radicais, garantem que não querem: uma saída desordenada. O hard Brexit. Acontece que essa é a solução legal por defeito. Se não acontecer mais nada, o Reino Unido está mesmo fora da UE no dia 30 de março. E saindo à bruta, será como um país terceiro com quem a União Europeia não tem nenhum acordo comercial. É, obviamente, a pior solução possível. Mas pode acontecer.

Para todas as outras alternativas, o primeiro problema é que o prazo é curto. Para resolver alguma coisa, ou se resolve até 29 de março, ou, antes, o Reino Unido tem de pedir para o prazo ser prorrogado, e cada um dos 27 Estados membros tem de concordar. Todos.

Acontece que se o prazo for prorrogado e o Reino Unido ficar, nem que seja mais uns meses apenas, como é que é possível não eleger deputados britânicos para o Parlamento Europeu, em maio? Não parece sequer legal que um Estado membro, que ainda o é, não eleja deputados. Mas isso significaria desfazer o acordo que entretanto foi feito quanto à redistribuição dos lugares dos britânicos. Coisa que franceses, holandeses, polacos e outros beneficiários desses mandatos dificilmente podem aceitar.

Admitindo, em todo o caso, que pode haver um segundo referendo antes da saída, é preciso decidir o que se pergunta. E aí não parece viável fazer menos do que três perguntas: sair com este acordo; sair, seja de que maneira for; ou, afinal, ficar. Se não forem postas estas três hipóteses, haverá sempre alguém que se sente traído, desde logo a maioria dos deputados: os que querem sair, sem este acordo, e os que querem ficar, sem este acordo. Mas, nesse caso, ganhe a solução que ganhar, será sempre minoritária.

Além destes motivos de impasse há, ainda, outro: Bruxelas. Ou, melhor dizendo, os 27.

A melhor decisão da Comissão Europeia relativamente ao Brexit foi nomear Michel Barnier como negociador-mor. Afastou o assunto do dia-a-dia da Comissão, conseguiu que a Europa falasse toda a uma voz e apareceu como um moderado a fazer uma proposta razoável e difícil de emendar. Essas virtudes, porém, são agora o seu problema. Se se abrir a discussão, corre-se o risco de ter 27 propostas diferentes de acordo e, portanto, de não ter uma proposta do lado da UE. Era a dificuldade que faltava.

Quem defendeu o Brexit devia tê-lo negociado. Não o fazendo, por cobardia ou oportunismo, provou o ponto de muitos: as propostas simplistas dão-se pessimamente com a realidade. Se o resto da Europa tiver aprendido isso já não foi tudo mau.

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