Dilma Rousseff foi presidente do Brasil de 2011 a 2016, ano em que a Câmara dos Deputados, por uma maioria de 367 parlamentares, votou pelo seu impeachment - causou furor, entre os votos, aquele dedicado a Carlos Brilhante Ustra, infame torturador durante a ditadura militar, inclusivamente de Dilma, por um até então apenas folclórico deputado chamado Jair Bolsonaro..Ora Dilma, apesar de justamente criticada pelo todo do seu penoso consulado, foi elogiada por aprovar, logo no seu primeiro ano de gestão, a Lei de Acesso à Informação, que permite a qualquer pessoa requisitar e obter todos os documentos públicos que não estejam sob sigilo. Um passo de gigante rumo à transparência, escreveu-se..No final de janeiro deste ano, Hamilton Mourão, o atual vice-presidente, assinou um decreto em sentido contrário que permite a ocupantes de cargos públicos, mesmo aqueles sem vínculo permanente com a administração pública, restringir o acesso a dados do governo, classificando-os como informações secretas ou ultrassecretas. Um passo de gigante rumo à opacidade, opinou-se..É a prova definitiva: o bolsonarismo, que tanto falava em transparência fora do governo, afinal é opaco no exercício do poder..O capitão Jair chegou à presidência do Brasil depois de garantir em campanha que o seu apelido, Bolsonaro, e o seu partido, PSL, eram garantia de uma nova forma de fazer política..No entanto, após saber-se, ainda em dezembro, que o seu filho mais velho, Flávio, contratara para o seu gabinete de deputado do Rio de Janeiro assessores-fantasma que depois devolviam o dinheiro dos seus salários ao chefe, por intermédio de um braço-direito com ligações ao "Escritório do Crime", a milícia que, acha a polícia, matou Marielle Franco, o apelido Bolsonaro caiu em profunda desonra..Até porque, pelo meio, os nomes do próprio Jair e da primeira-dama Michelle também constam do pântano de transferências suspeitas do tal braço-direito. E Carlos e Eduardo, os irmãos políticos de Flávio, protagonizam discussões e gafes semanais..Em fevereiro, ao tomarmos conhecimento de que dirigentes do partido de Bolsonaro, entretanto promovidos a ministros, andaram a patrocinar candidaturas de mulheres apenas para cumprir a quota feminina prevista na lei, porque desviavam a verba do fundo público eleitoral das contas das senhoras para os cofres do seu círculo íntimo, a sigla PSL também caiu em intenso descrédito..Até porque, pelo meio, constatou-se que nas suas fileiras prolifera gente como o porno-deputado Alexandre Frota ou a jornalista especialista em plágios Joice Hasselmann, por exemplo. E estes nem são os piores, acredite-se..Mas se por Bolsonaro e pelo PSL só fanáticos punham as mãos no fogo, sobrava, no entanto, o curitibano Sergio Moro, aquele juiz incorruptível, impenetrável e impermeável da Lava-Jato que a 8 de abril de 2017, perante seleta plateia em Harvard, dizia que o uso de caixa dois (saco azul) em campanha eleitoral era batota política e atentado à democracia..Na segunda-feira, porém, após produtiva reunião com o establishment do Congresso Nacional, o agora ministro brasiliense mudou de opinião: chegou à conclusão de que, afinal, a tal caixa dois não tem a mesma gravidade da corrupção, para alegria dos poderosos que se serviram do expediente ilegal de não declarar despesas de campanha para se elegerem mais facilmente..Até tu, Moro, escreveu-se e opinou-se..Voltemos, entretanto, ao decreto de Mourão que limita o acesso à informação garantido por Dilma. Nesta terça-feira, a Câmara dos Deputados votou-o. Seria o primeiro teste de fogo do governo Bolsonaro..O resultado foi uma derrota brutal, própria daqueles governos já no fim da linha e não daqueles a gozar do estado de graça natural de meros 50 dias no poder: apenas 57 deputados (pouco mais do que o grupo parlamentar do PSL) votou com o decreto de Mourão, mantendo assim intacta a aplaudida Lei de Acesso à Informação de Dilma..Os votos contra foram nada menos do que 367, os mesmos que derrubaram a presidente. Deve ter soado como tortura a Bolsonaro.