"Vocês ainda não viram nada. Podemos garantir-vos", disse Greta Thunberg, dirigindo-se aos líderes mundiais. Perante uma praça cheia que culminou numa marcha que na sexta-feira juntou 15 mil pessoas em Lausana, a adolescente sueca fez uma declaração de força do movimento de luta contra as alterações climáticas..Lembrou, por outro lado, que os dirigentes nada têm feito de substancial. "Até agora não vimos nenhum sinal de que uma verdadeira ação climática vá chegar", disse Thunberg, que da margem do lago Léman seguiu para Davos, no outro extremo da Suíça. É neste lugar que começou por ganhar fama graças à estância de esqui que se reúne pela 50.ª vez o Fórum Económico Mundial, entre terça e sexta-feira..Em bom rigor, o encontro começou com outro nome e objetivo. Fundado pelo economista alemão Klaus Schwaub, o Fórum de Gestão Europeu reunia-se para delinear estratégias de gestão. Em 1987 mudou para o nome atual e, além de empresários, começou a atrair políticos, tendo em 2015 sido reconhecido como uma instituição internacional..Para este ano prevê-se a participação de quase três mil pessoas, entre as quais 600 oradores, tendo como tema um mundo coeso e sustentável através do designado "capitalismo participativo". O próprio Schwaub, que se mantém como administrador do Fórum Económico Mundial, reconhece que há uma "revolta contra as elites económicas" porque se sentem traídas por elas, assim como "esforços para manter o aquecimento global limitado a 1,5ºC estão a ficar perigosamente em falta". Daí que Schwaub queira que da reunião de quatro dias saia um manifesto para "redefinir os objetivos e os resultados" para governos e empresas..Da parte da organização houve a preocupação de responder às críticas que no ano passado incidiram sobre o número de aviões privados que transportaram líderes políticos e empresariais para a cimeira. O Fórum Económico Mundial introduziu painéis solares e aquecimento geotérmico no Centro de Congressos e haverá uma estação ferroviária temporária para incentivar os participantes a utilizar os transportes públicos..No que respeita ao programa desta edição, a organização destaca seis temas: mobilizar as empresas para responder às alterações climáticas e garantir que a proteção da biodiversidade chegue aos solos florestais e aos leitos dos oceanos; retirar o peso da dívida de longo prazo e manter a economia a um ritmo que permita maior inclusão; criar um consenso sobre os modelos e as tecnologias da quarta revolução industrial e evitar uma guerra tecnológica; requalificar mil milhões de pessoas na próxima década; e apostar no espírito de Davos para tentar resolver crises globais.."Pôr fim à loucura"."Desde o Acordo de Paris de 2015, 33 grandes bancos à escala global injetaram em conjunto 1,9 biliões de dólares em combustíveis fósseis, de acordos com o relatório da Rainforest Action. O FMI concluiu que, só em 2017, o mundo gastou 5,2 biliões de dólares a subsidiar os combustíveis fósseis. Isto tem de acabar", escreveu Greta Thunberg e outros 20 jovens ativistas num artigo publicado no The Guardian.."Exigimos que no fórum deste ano os participantes de todas as empresas, bancos, instituições e governos suspendam imediatamente todos os investimentos na exploração e na extração de combustíveis fósseis, acabem imediatamente com todos os subsídios aos combustíveis fósseis e se desvinculem imediata e completamente dos combustíveis fósseis. Não queremos estas coisas feitas até 2050, 2030 ou mesmo 2021, queremos isto feito agora - e já." E terminam: "Exigimos que os nossos líderes façam a sua parte e ponham fim a esta loucura. O nosso futuro está em jogo, que seja esse o seu investimento.".Do outro lado da barricada está o presidente dos Estados Unidos, que tem um histórico de opositor ao ambientalismo. Uma das suas primeiras medidas enquanto presidente foi retirar o país do Acordo de Paris, um tratado subscrito por quase todos os países e que tem como objetivo limitar o aquecimento global. Os EUA estavam comprometidos em reduzir as emissões de CO2 entre 26% e 28% até 2025. Mas Trump cumpriu a promessa da campanha eleitoral justificando a medida por "custar uma fortuna" e por ter sido "mal negociada" pelo antecessor, Barack Obama..Donald Trump, que no ano passado cancelou a presença na Suíça devido ao conflito político entre o Congresso e a Casa Branca que levou ao encerramento de serviços federais, o shutdown, não acredita nas alterações climáticas..Em 2012 escreveu no Twitter que "a ideia de aquecimento global foi criada pelos chineses e em prol deles, com o objetivo de tornar as indústrias norte-americanas não competitivas"..Já na Casa Branca, perante dias de frio extremo, escreveu: "Uma prolongada frente fria pode rebentar com todos os registos - o que aconteceu com o aquecimento global?", ao confundir o tempo pontual com o clima e este com as alterações climáticas..Por várias vezes se pronunciou contra as energias renováveis, em especial a eólica, e exaltando a produção de combustíveis fósseis..Só Davos os junta.Desconhece-se se durante os quatro dias do evento Trump e Thunberg irão estar sob o mesmo teto. No entanto, a sueca já afirmou que não está interessada em conhecer o norte-americano 56 anos mais velho. "É óbvio que ele não está a ouvir os cientistas e os peritos, então porque iria ouvir-me? Portanto, provavelmente não lhe diria nada, não iria perder o meu tempo", afirmou..Também o chefe de Estado norte-americano não demonstra grande admiração pela jovem ativista sueca. Quando Greta Thunberg foi escolhida como a personalidade do ano pela Time, Trump não resistiu e no dia seguinte escreveu: "Tão ridículo, Greta tem de aprender a controlar a sua raiva e ir ver um bom filme antigo com um(a) amigo(a)! Relaxa, Greta, relaxa!".O empresário nova-iorquino irá acompanhado pela filha Ivanka e pelo genro e conselheiro Jared Kushner. Fazem ainda parte da delegação os secretários do Tesouro, Steven Mnuchin, e do Comércio, Wilbur Ross, bem como o representante do Comércio, Robert Lighthizer..Caberá à presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, realizar um discurso que marca o número redondo deste fórum instituído em 1971..Também na Suíça estarão, entre outros, o vice-primeiro-ministro chinês Han Zheng, a chanceler alemã Angela Merkel, os primeiros-ministros de Espanha (Pedro Sánchez) e do Paquistão (Imran Khan) e os presidentes da Ucrânia (Volodymyr Zelensky), do Equador (Lenín Moreno) e da Colômbia (Iván Duque)..Já o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Javad Zarif, anunciaram, por diversos motivos, cancelar a sua presença na cimeira que junta os administradores das empresas que geram cerca de 70% do volume de negócios global..Bolsonaro argumentou que não se desloca à Suíça por razões de segurança. No local, e dias antes do encontro, o exército suíço montou um dispositivo de segurança ao redor de Davos, que está sob um plano de segurança que envolve cinco mil soldados. Segundo a estação televisiva suíça SRF, os custos de policiamento de Davos ultrapassarão 40 milhões de euros..Guaidó in, Dos Santos out.Prova de que no Fórum Económico Mundial há espaço para participações de última hora, o autoproclamado presidente da Venezuela Juan Guaidó vai estar presente. Tendo ignorado a proibição do Supremo Tribunal de sair do país, o ex-presidente da Assembleia Nacional dirigiu-se para Bogotá, onde foi recebido pelo presidente colombiano Iván Duque. O homem que lidera a oposição a Nicolás Maduro deverá comparecer na Suíça na quinta-feira, segundo adiantou o deputado venezuelano Stalin González..Em sentido contrário, Isabel dos Santos não deverá deslocar-se até à seleta estância de esqui. A filha do antigo presidente José Eduardo dos Santos está debaixo de fogo: depois de uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação, que envolve o Expresso e a SIC, ter revelado como Isabel dos Santos construiu a sua fortuna, a organização do Fórum terá "reavaliado" a presença da mulher à qual Luanda arrestou as contas bancárias e participações. A empresa de telecomunicações Unitel, na qual Isabel dos Santos detém a maioria acionista, era um dos patrocinadores do evento. Mas o nome de Isabel dos Santos foi "retirado" da lista de participantes, adianta o The Guardian.