Disfarçada no cabelo, no corpo, na mala de viagem, em embalagens de bombons, em garrafas de azeite, no vestuário. As táticas utilizadas pelos correios de droga são muitas e imaginativas. Já as explicações dadas aos inspetores da Polícia Judiciária acabam por ser mais simples: a maior parte das mulas (como também são conhecidas as pessoas que transportam droga) detidas no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, garantem que a droga não é delas, que compraram a mala em que a transportam e que podia já lá estar escondida. Versões que acabam por ser "desmontadas" pela PJ, nomeadamente quando no hospital mostram o resultado do exame de raios X a quem tem droga no estômago - neste caso podem ter ingerido entre 800 gramas e um quilo em pequenas bolsas..No ano passado foram detidas 113 pessoas que tentavam entrar em Portugal com cocaína ou heroína utilizando ligações por via aérea - 104 no primeiro caso, nove no segundo. Quanto às quantidades, a PJ apreendeu 309 e 52 quilos, respetivamente..Transportar droga da América do Sul para Portugal é apresentado pelos traficantes como uma forma de conseguir dinheiro facilmente: um correio pode ganhar entre quatro e dez mil euros, dependendo da quantidade de droga que traga. Valor que baixa para os dois a três mil euros no caso de naturais de países sul-americanos.."A motivação é sempre económica. Há uns que o fazem como modo de vida, outros por necessidade e ainda quem queira aproveitar uma oportunidade para ganhar dinheiro extra", explica ao DN Rui Sousa, coordenador na Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ (UNCTE)..No ano passado, os inspetores da Judiciária detiveram no aeroporto de Lisboa pessoas de 19 nacionalidades, sendo os brasileiros (52, número a que não é alheio o facto de existirem dez ligações diárias entre o país e Portugal) e os portugueses (11, com muitos a dizer que apenas tinham ido ao Brasil de férias) em maior número. Mas a prova de que o transporte de droga é um negócio sem fronteiras é que foram presos naturais da Venezuela (8) ou da Guiné-Bissau (5), para referir só as principais origens..Traficar aos 69 anos.O perfil de quem utiliza a via aérea como forma de trazer cocaína para a Europa também está feito. Dos mais de cem detidos no ano passado 78 tinham entre os 20 e os 39 anos; 67 eram homens e 45 mulheres. E depois surgiram "curiosidades", como o homem de 69 anos que transportava cocaína - o mais velho preso por este crime cuja moldura penal prevê uma pena de prisão entre os quatro e os 12 anos e em que a "média das condenações está entre os cinco e os seis anos de prisão", acrescenta Rui Sousa. "Não é normal [a detenção de pessoas com idade avançada], mas acontece. Estes já têm uma experiência de vida, com antecedentes seja por tráfico ou por outra situação", frisa..Apesar de Portugal estar a perder importância nas rotas do tráfico - a utilização de veleiros e contentores está a desviar esses trajetos para portos da Holanda, por exemplo -, a via aérea ainda é muito utilizada e a explicação é simples. "Está relacionada com a capacidade de a organização movimentar dinheiro e quantidades de droga para ser necessário o uso de contentores e, por outro lado, com a rapidez com que se faz chegar à Europa um ou dois quilos de droga quando comparando com o tempo que demora um veleiro a atravessar o Atlântico", adianta o coordenador da UNCTE..Regressando ao "elo mais fraco", como diz Rui Sousa, entre as detenções destas pessoas sem qualquer importância para as redes de tráfico fica a história de uma mulher, que foi presa quando se preparava para fugir de Portugal e que estava acompanhada de uma criança. "Conseguimos fazer prova de que ela tinha feito um transporte [de droga], esteve escondida durante algum tempo, mas foi detida quando se preparava para fugir com a criança. Agora encontra-se na cadeia de Tires, não sei se a criança também está ou se foi encaminha para um lar."
Disfarçada no cabelo, no corpo, na mala de viagem, em embalagens de bombons, em garrafas de azeite, no vestuário. As táticas utilizadas pelos correios de droga são muitas e imaginativas. Já as explicações dadas aos inspetores da Polícia Judiciária acabam por ser mais simples: a maior parte das mulas (como também são conhecidas as pessoas que transportam droga) detidas no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, garantem que a droga não é delas, que compraram a mala em que a transportam e que podia já lá estar escondida. Versões que acabam por ser "desmontadas" pela PJ, nomeadamente quando no hospital mostram o resultado do exame de raios X a quem tem droga no estômago - neste caso podem ter ingerido entre 800 gramas e um quilo em pequenas bolsas..No ano passado foram detidas 113 pessoas que tentavam entrar em Portugal com cocaína ou heroína utilizando ligações por via aérea - 104 no primeiro caso, nove no segundo. Quanto às quantidades, a PJ apreendeu 309 e 52 quilos, respetivamente..Transportar droga da América do Sul para Portugal é apresentado pelos traficantes como uma forma de conseguir dinheiro facilmente: um correio pode ganhar entre quatro e dez mil euros, dependendo da quantidade de droga que traga. Valor que baixa para os dois a três mil euros no caso de naturais de países sul-americanos.."A motivação é sempre económica. Há uns que o fazem como modo de vida, outros por necessidade e ainda quem queira aproveitar uma oportunidade para ganhar dinheiro extra", explica ao DN Rui Sousa, coordenador na Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes da PJ (UNCTE)..No ano passado, os inspetores da Judiciária detiveram no aeroporto de Lisboa pessoas de 19 nacionalidades, sendo os brasileiros (52, número a que não é alheio o facto de existirem dez ligações diárias entre o país e Portugal) e os portugueses (11, com muitos a dizer que apenas tinham ido ao Brasil de férias) em maior número. Mas a prova de que o transporte de droga é um negócio sem fronteiras é que foram presos naturais da Venezuela (8) ou da Guiné-Bissau (5), para referir só as principais origens..Traficar aos 69 anos.O perfil de quem utiliza a via aérea como forma de trazer cocaína para a Europa também está feito. Dos mais de cem detidos no ano passado 78 tinham entre os 20 e os 39 anos; 67 eram homens e 45 mulheres. E depois surgiram "curiosidades", como o homem de 69 anos que transportava cocaína - o mais velho preso por este crime cuja moldura penal prevê uma pena de prisão entre os quatro e os 12 anos e em que a "média das condenações está entre os cinco e os seis anos de prisão", acrescenta Rui Sousa. "Não é normal [a detenção de pessoas com idade avançada], mas acontece. Estes já têm uma experiência de vida, com antecedentes seja por tráfico ou por outra situação", frisa..Apesar de Portugal estar a perder importância nas rotas do tráfico - a utilização de veleiros e contentores está a desviar esses trajetos para portos da Holanda, por exemplo -, a via aérea ainda é muito utilizada e a explicação é simples. "Está relacionada com a capacidade de a organização movimentar dinheiro e quantidades de droga para ser necessário o uso de contentores e, por outro lado, com a rapidez com que se faz chegar à Europa um ou dois quilos de droga quando comparando com o tempo que demora um veleiro a atravessar o Atlântico", adianta o coordenador da UNCTE..Regressando ao "elo mais fraco", como diz Rui Sousa, entre as detenções destas pessoas sem qualquer importância para as redes de tráfico fica a história de uma mulher, que foi presa quando se preparava para fugir de Portugal e que estava acompanhada de uma criança. "Conseguimos fazer prova de que ela tinha feito um transporte [de droga], esteve escondida durante algum tempo, mas foi detida quando se preparava para fugir com a criança. Agora encontra-se na cadeia de Tires, não sei se a criança também está ou se foi encaminha para um lar."