Os lideres europeus regressam amanhã, quinta-feira, ao debate sobre a retirada do Reino Unido da União Europeia. O tema será abordado num almoço de trabalho, sem a presença da primeira-ministra britânica. Nesta noite, à mesa do jantar, debate-se o dossiê das migrações. Fora da agenda dos trabalhos, a recomendação do Parlamento Europeu para sancionar a Hungria será o elefante no meio da sala, no encontro em que Viktor Orbán marcará presença..Fontes ouvidas pelo DN admitiram que "será difícil" escapar ao tema, mesmo que as conversas aconteçam "nas margens" dos dois encontros de alto nível, que decorrerão com a presença do primeiro-ministro húngaro. Antes do encontro de líderes europeus, Orbán participará na cimeira do PPE, que junta chefes de Estado ou de governo -- por exemplo, a chanceler alemã, Angela Merkel, ou o anfitrião austríaco, Sebastian Kurz -- e os lideres da oposição pertencentes àquela família política europeia..Por também pertencerem à família do PPE, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, também estarão no encontro habitual de preparação da cimeira..Valores europeus.Ontem, terça-feira, o grupo político do Parlamento Europeu Os Verdes, ao qual pertence a relatora do documento que agravou o procedimento contra a Hungria, desafiou "os governos dos Estados membros da União Europeia a provar o seu compromisso com os valores europeus".."Na cimeira informal em Salzburgo, eles não podem ignorar o tópico", declararam dos copresidentes daquele grupo político, Ska Keller e Philippe Lamberts, numa nota divulgada em Bruxelas, apelando ao acompanhamento do relatório da Hungria, de modo a que este seja "colocado na agenda da próxima cimeira formal", para a qual transitarão as conclusões dos debates informais de Salzburgo..O grupo político pretendeu que Judith Sargentini, a holandesa de Os Verdes, que elaborou o documento, seja convidada a estar presente na cimeira de outubro, "para apresentar o seu relatório aos líderes europeus".."É vital que todos os líderes da UE mostrem que estão a falar a sério sobre os valores para os quais cada país se inscreveu", afirmaram..Polícia comum.Viktor Orbán continuará a ser o protagonista amanhã, no arranque da cimeira propriamente dita. Na carta-convite que enviou aos líderes europeus, o presidente do Conselho, Donald Tusk, pediu para que na parte da manhã fossem discutidos temas relativos à segurança da União Europeia, nomeadamente os "esforços coletivos para garantir um alto nível de segurança na Europa".."O objetivo é melhorar a cooperação policial e judicial, fortalecer a segurança das fronteiras e garantir a resiliência no ciberespaço", refere a carta-convite assinada por Tusk. Será analisada a proposta de Bruxelas para a criação de uma polícia europeia comum para as zonas de costa e para as fronteiras externas da União..A concretizar-se como está definido, o novo organismo será composto por dez mil elementos oriundos das polícias nacionais, que integrarão um sistema já relativamente testado, com o reforço de poderes da agência Frontex, há pouco mais de dois anos, quando foi lançada a guarda europeia de costas e fronteiras..A diferença contida na proposta de Jean-Claude Juncker é que os agentes deixam de estar sob controlo das autoridades nacionais, passando a responder a um comando centralizado. O plano é controverso, e já mereceu a oposição precisamente de Viktor Orban..O polémico chefe do governo húngaro tem o apoio dos seus homólogos da República Checa, Andrej Babiš, e da Eslováquia, Peter Pellegrini. Ambos vão juntar-se a Orbán para reclamar fundos europeus para que as polícias nacionais façam o patrulhamento das fronteiras externas da União Europeia..A Hungria "entende melhor a defesa das fronteiras do que qualquer pessoa em Bruxelas ou numa organização internacional", afirmou ontem o primeiro-ministro húngaro, num discurso no Parlamento de Budapeste, prometendo "não desistir do direito de defender a fronteira"..Migrações.Nesta noite, num debate a 28, o dossiê das migrações será colocado em cima da mesa do jantar de trabalho. "A missão de pôr fim à crise migratória é uma tarefa comum de todos os Estados membros e instituições da UE", declarou "abertamente" o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, criticando os que "se servem [politicamente]" da crise migratória e contribuem para que ela "permaneça irresolúvel".."Espero que em Salzburgo possamos acabar com o ressentimento mútuo e voltar a uma abordagem construtiva", declarou o presidente do Conselho Europeu..Brexit.A seis meses da concretização do brexit, o negociador-chefe da União Europeia, Michel Barnier, vai amanhã dar conta do andamento das negociações para a retirada do Reino Unido do bloco europeu. O debate decorrerá num almoço de trabalho, sem a presença da primeira-ministra britânica, Theresa May, para que possa ser discutido "o caminho a seguir" pelo bloco. O presidente do Conselho Europeu propôs "três objetivos".."Em primeiro lugar, devemos chegar a uma visão comum sobre a natureza e a forma geral da declaração política conjunta, relativamente à futura parceria com o Reino Unido. Em segundo lugar, discutiremos como organizar a fase final das conversações do brexit, incluindo a possibilidade de convocar outro Conselho Europeu em novembro. Em terceiro lugar, devemos reafirmar a necessidade de um apoio legalmente operacional à Irlanda, de modo a garantir que não haverá fronteiras rígidas no futuro", afirmou..Mas Michel Barnier afastou ontem a possibilidade de o prazo das negociações vir a ser dilatado. No final de um Conselho de Assuntos Gerais, em Bruxelas, Barnier declarou que "outubro é o mês da verdade", referindo-se à data da cimeira, marcada para o dia 18, que tem sido apresentada como o limite para que a União Europeia dê luz verde ao eventual acordo, para que este possa seguir os procedimentos de ratificação nos parlamentos nacionais, nos casos em que tal é necessário, bem como pelo Parlamento Europeu, e assim possa entrar em vigor na data prevista de 29 de março de 2019.."Para mim, para nós, para a nossa equipa, e penso que também para o presidente do Conselho Europeu, outubro é o momento-chave, o momento da verdade. Por isso, é preciso que antes desse Conselho várias questões, particularmente a irlandesa, conheçam progressos e, espero, fiquem resolvidas. O mês de outubro é o momento da verdade", vincou o negociador-chefe da UE..Na carta-convite, Tusk admitira que "infelizmente, um cenário sem acordo ainda é bem possível. Mas se todos agirmos com responsabilidade, podemos evitar uma catástrofe".