Não sei já em que dia desisti de regressar ao Twitter, não como decisão derradeira, final, mas como sinal de falta de entusiasmo. Mas sei que desde esse dia, e já lá vão largas semanas, porque a última coisa que ali escrevi foi em agosto, não encontrei qualquer motivo ou ânimo para voltar..Não se trata, repito, de uma qualquer decisão, de uma espécie de abjuro, mas talvez de um desconforto, como se a experiência exigisse aclimatação, e esta não fosse indolor, oportuna, e assim se tornasse dispensável, sujeita a procrastinação. E assim tenho procrastinado desde agosto, sem o redemoinho que acompanha o viciado em carência, absolutamente confortável nessa ausência. Não voltei lá..Talvez tenha sido sempre assim, talvez eu nunca tivesse notado antes, mas como que se atenuou fortemente a predisposição para o outro, para o seu mundo, para as suas referências, como se aquilo que interessasse não fosse encontrar, partilhar, confrontar, mas antes denunciar, julgar, apanhar em falso..Não uso a palavra predisposição por acaso, porque em espaços de debate e de comunicação é a predisposição para o outro, a abertura e a vontade de chegar até ele que mais me interessa. E é essa predisposição que funda a tolerância, porque há nela um genuíno interesse pelo que o outro diz e tem para me dizer, não uma qualquer formalidade que antecede a estocada argumentativa..Não é que a polémica, o fervor ou o nervo me desagradem ou assustem - mas tudo isso surge como decorrência, como consequência, não como pressuposto ou objetivo. Gosto da ideia de convencer, não de julgar; atrai-me a ideia de vencer um argumento, não de denunciar; retiro satisfação de um longo debate, não de uma deliberada tentativa de humilhação, gozo..Talvez exagere, talvez este desencantamento seja reforçado por estar na atividade política, sujeito a sindicância e escrutínio, mas não creio que isto seja exclusivo da política nem especialmente reservado aos políticos - há um clima geral de denúncia e julgamento que já nada tem que ver com debate, porque não interessa chegar a qualquer outro lado que não apanhar alguém em falso, evidenciar uma falha moral ou de carácter, expor a superioridade de quem acusa, quase como se todos ali tivéssemos um papel oculto, um propósito escondido, algo a ser desmascarado. O valor facial do que dizemos não interessa já, porque há quem se especialize em tresleituras, sempre mais interessantes e virais, transformando tudo o que dizemos, e julgando-nos em função dessa transformação..E esse clima, a que não quero aclimatar-me enquanto posso e tenho noção dele, impõe-se, contamina, transforma-nos. E acordamos um dia e somos parte disso, magoando, participando. Aconteceu comigo e não gostei do que me vi dizer..Advogado