Cavaco foi mauzinho com os meninos do PS

Aproveitando os 30 anos de um programa notável que fixou as raízes para criar condições para os jovens terem a sua primeira casa e acabar com as dez mil barracas que mal abrigavam milhares de famílias em Lisboa, Carlos Moedas deu ontem uma lição a António Costa. "Como fazer um programa de habitação credível" podia ter sido o título da apresentação do presidente da Câmara de Lisboa - ignorado pelo governo, tal como os restantes autarcas do país e até os presidentes das Regiões Autónomas, aquando do desenho do pacote Mais Habitação.

Explicou Moedas como vai criar soluções para que jovens e famílias que não conseguem hoje aceder a habitação digna consigam encontrar morada na cidade."Com a ajuda dos senhores presidentes da junta, que são aqueles que estão no terreno", com a "construção e reabilitação de mil casas" em que a autarquia investiu 40 milhões de euros no último ano", com outras mil habitações atualmente em construção e um programa para trabalhar com os privados em soluções que permitam abrir portas que estão há demasiado tempo fechadas a novos moradores. Sem ameaças ou saídas coercivas, sem destruição de valor e de confiança, sem medidas autistas e apenas capazes de levar os proprietários a pôr trancas à porta e pôr os investidores a fugir a sete pés de onde pressentem que podem ser espoliados a qualquer momento. Um plano que será financiado com mais 85 milhões de euros do orçamento municipal, mas que implicará - e terá capacidade de atrair - também intervenção e despesa de investidores privados.

O que vai ser feito em Lisboa - assumindo que os socialistas municipais não continuam a chumbar medidas como a isenção de IMT para os jovens - é a antítese daquilo que Costa defende. Moedas quer promover o debate aberto e o trabalho de equipa, envolvendo habitantes, setores económicos e juntas de freguesia na criação de soluções adequadas, cujo ponto de partida é o exemplo e o financiamento público. Aproveitando até os 343 milhões do PRR de que Lisboa dispõe até 2026 para intervir na habitação. Um plano que chama todos à ação, em vez de todos hostilizar e forçar sob o chicote ideológico.

O governo absoluto podia bem aprender e emendar a mão de um projeto que faz tábua rasa dos direitos de cidadãos e empresas, que externaliza o ónus da crise e força o setor privado a avançar e assumir os custos de soluções que deviam ser sociais, de responsabilidade pública. Um pacote em que só mesmo o PS - e não todo - é capaz de encontrar virtudes. Um modelo que, como vincou Cavaco Silva, é resultado da "descredibilização" e do "falhanço da política do governo no domínio da habitação, com grandes custos sociais".

Para o PS, porém, são "bizarras" as declarações do antigo primeiro-ministro e Presidente, de quem esperavam "um espírito menos destrutivo". Os costistas, que desprezam todos os que não são do seu bando e acreditam que só eles deviam ter a possibilidade de governar - mesmo tendo colados à pele sucessivos casos de justiça, mesmo com demissões em cadeia, mesmo tomando decisões ruinosas para o país como tudo o que fizeram com a TAP, para dar apenas um exemplo - queixam-se que Cavaco Silva está a ser mau para eles. Ainda que o país que se estende para lá das portas do Rato só ficasse feliz se a bizarria a que Costa chamou Mais Habitação fosse incinerada.

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