Draghi atira juros para mínimos históricos e abre guerra com Trump

Presidente do BCE admite novo corte nas taxas de juro; presidente dos EUA fala em "vantagem desleal".

Os juros da dívida soberana na Europa afundaram ontem para mínimos históricos depois de Mario Draghi ter deixado claro que o Banco Central Europeu (BCE) pode voltar a baixar o custo do dinheiro na região.

"O corte das taxas de juro é uma das ferramentas que podemos usar se a inflação na zona euro não recuperar", considerou o presidente do BCE, no fórum em Sintra. Draghi adiantou que o BCE tem ainda "um espaço considerável" para usar o seu programa da compra de ativos.

"O nosso mandato é da estabilidade de preços, de uma inflação de perto, mas abaixo de 2% no médio prazo. Estamos prontos para usar todos os instrumentos necessários para cumprir o nosso mandato e não temos um objetivo para a taxa de câmbio." A inflação da zona euro desceu para 1,2% em maio, de acordo com os dados divulgados nesta terça-feira pelo Eurostat.

Neste cenário, os mercados estão a incorporar uma descida de dez pontos base nas taxas de juro do BCE, talvez já no verão.

Resultado: os juros da dívida portuguesa a dez anos caíram para um novo mínimo histórico, na casa dos 0,5%. Em França, a dívida a dez anos recuou para 0% pela primeira vez na história; e as yields da dívida soberana alemã a dez anos - o benchmark do mercado - caiu para o valor mais baixo de sempre, -0,320%.

Trump ataca política do BCE

O aviso de Draghi, em vésperas de se conhecer a decisão da Reserva Federal norte-americana sobre política monetária - a expectativa é de que a Fed abra caminho para um corte dos juros só lá mais para o final deste ano -, mereceu duras críticas de Donald Trump, que acusou o presidente do BCE de manipulação do euro.

"Mario Draghi acaba de anunciar que podem vir novas medidas para estimular a economia (europeia), o que fez imediatamente cair o euro face ao dólar, dando-lhes uma vantagem injusta na concorrência com os Estados Unidos", escreve o presidente norte-americano na rede social Twitter. Com a descida do euro para 1,1192 dólares, as exportações dos países da zona euro ganham competitividade face aos Estados Unidos.

Os europeus "fazem isso impunemente há anos, com a China e outros", escreveu ainda Trump, acrescentando que "os mercados europeus subiram após os comentários (injustos para os EUA) feitos hoje por Mario D!".

Em resposta a Trump, Peter Praet, que há duas semanas abandonou o cargo de economista-chefe do BCE, lembrou que "o BCE não pode ser culpado pela incerteza criada na economia" pelas guerras comerciais desencadeadas pelos EUA contra vários países, incluindo a China e os Estados membros da União Europeia.

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