Bernardo Trindade é um homem com uma missão: ajudar a incentivar a localização de empresas em Portugal que pretendam continuar sem condicionalismos em espaço europeu após a saída do Reino Unido da União Europeia. Não é uma missão impossível. Mas é de resultado imprevisível. Porque o contexto de que depende - o Brexit - é neste momento ele próprio de desfecho impossível de prever. Apesar disso há todo um trabalho que a missão Portugal In, criada pelo governo em abril de 2017, tem vindo entretanto a desenvolver. Mas com que resultados?."A nossa colaboração é um pouco um trabalho político de mediação de diversas estruturas da administração, para que, no final, a relação das estruturas da adminis tração com o investimento seja feita de forma mais amigável", diz ao DN, no Palácio Foz, em Lisboa, onde tem sede a Portugal In. Exemplos disso, refere, são as múltiplas reuniões de grupos de trabalho ali realizadas sobre temas como a agilização do portal da autorização de residência para investimento (vistos gold) com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o Ministério da Administração Interna, facilitação de vistos para britânicos após a saída do Reino Unido com o MNE, remoção de obstáculos na parte do investimentos financeiros com o Banco de Portugal e a CMVM....A questão da isenção de vistos, referida sempre nas várias apresentações do plano de contingência português para o No Deal Brexit, é muito importante, nota o ex-secretário de Estado do Turismo, porque o mercado britânico é o maior emissor de turistas para Portugal. Apesar de os números de novembro indicarem que os britânicos voltaram, após 13 meses de queda, ainda é cedo, refere, para falar numa tendência sustentada. Bernardo Trindade lembra os fatores que jogam a desfavor: "Com a discussão do Brexit houve uma valorização do euro em relação à libra, tornando os destinos do euro mais caros. Houve ainda uma recuperação dos países da bacia do Mediterrâneo. A Turquia desvalorizou a lira em 80%." Contudo, sublinha, o aeroporto de Lisboa ultrapassou os 29 milhões de passageiros e o do Porto os 12 milhões..Daí, assinala, a importância de estar prevista a criação de "equipas para receber turistas britânicos, para simplificar o seu acesso, nos aeroportos que recebem mais britânicos, ou seja, Faro e Funchal". Natural da Madeira, o também administrador não executivo da TAP admite que o debate em torno do Brexit tem prejudicado as exportações das empresas portuguesas. "Daí a linha anunciada de 50 milhões para as empresas", haja Brexit com ou sem acordo. "Entre as propostas da Portugal In estão a criação do Balcão Brexit nas lojas de exportação do AICEP. Lançámos também uma campanha que chegou a 1,8 milhões de cidadãos britânicos, Can"t Skip Facts, em que empresários estrangeiros dão o seu testemunho relativamente à vivência e ao acolhimento em Portugal", afirma o presidente da missão..Numa altura em que países como França, Irlanda, Luxemburgo, Alemanha, Holanda competem por investidores fugidos ao Brexit, Bernardo Trindade constata: "O Reino Unido lidera o investimento direto estrangeiro em Portugal, segundo os últimos dados do Banco de Portugal, com 680 milhões de euros em 2018. Entre 2017 e 2018 Portugal recebeu 24 projetos do Reino Unido." Estamos a falar de deslocalizações, aberturas de escritórios ou filiais. Exemplos de investimentos são a Yotel na área da hotelaria, a Monese na área dos serviços financeiros, a Farfetch na área da moda de luxo, o fundo de investimento imobiliário Acacia Point Capital Advisors ou a agência Fine & Country..A ação da Portugal In, afirma, não se limita ao Reino Unido. "Fomos a países que têm relação com o Reino Unido, como Japão, Índia, China ou EUA. Os que querem manter uma relação com o Reino Unido, mas permanecer na UE, têm uma boa opção em Portugal", sublinha Bernardo Trindade. A sua missão tem data para expirar: 31 de dezembro de 2019. Mas e se houver uma extensão do artigo 50.º, haverá também aqui prolongamento? "Não sou eu que decido isso."