O partido dos oito secretários-gerais, que elegeu quatro primeiros-ministros (Soares, Guterres, Sócrates e Costa), dois Presidentes da República (Soares e Sampaio) e tem como líder da ONU (Guterres) outro dos seus, terá hoje uma ausência notada (a de Sócrates, no jantar comemorativo dos 50 anos) - que João Soares, por exemplo, contesta porque o critério foi só convidar "os secretários-gerais do PS que são membros do partido" - e uma presença ou ausência que terá, seja qualquer for a decisão, impacto: a de Pedro Nuno Santos que se demitiu da direção do PS (após a saída do de ministro das Infraestruturas) e que tem regresso marcado ao parlamento no início de julho, ou não..No caso do ex-ministro, como o DN revelou a 13 de abril, "não está absolutamente excluída a hipótese de, como diz um amigo, "ganhar juízo" e prolongar a ausência política, batendo com a porta", mas com a certeza de "não entregar a taça a quem o quer ver abatido"..No caso de Sócrates, como saiu "por sua livre iniciativa e por sua livre vontade do PS (...), não nos competia, nem nos compete agora, contrariar ou afrontar essa sua opção", justificou Carlos César, o sexto presidente do partido..E depois, há ainda um desassossego por acalmar, revelado ao DN, no dia 27 de fevereiro, por quase duas dezenas de autarcas socialistas que estiveram presentes na reunião que juntou no Largo do Rato os presidentes de câmara do PS com o secretário-geral e primeiro-ministro. Nessa altura, as palavras de Costa não "sossegaram quase ninguém". O discurso final [estava em causa a "habitação" e a "descentralização"] "soou a ansiedade, a necessidade de lançar boas notícias para retirar o foco das notícias que assolaram o governo"..E agora, 51 dias passados? O sentimento não se alterou. "Há demasiados e desnecessários casos e desnortes. Custa-me porque tínhamos todas as condições para governar sem sobressaltos. Ainda temos, mas não é a disfarçar erros, que todos podemos cometer, como se fossem políticas acertadas e pensadas que lá vamos. Ter Marcelo a dizer o óbvio, veja-se o caso das pensões ["a base de cálculo do aumento de pensões vai ser a base correspondente ao aumento que haveria e que era devido pela aplicação da lei", disse o Presidente], é revelador. Temos que ser claros", afirma fonte socialista.."Até porque [ontem] Marcelo fez questão de chamar "líder da oposição" a Luís Montenegro. Era sempre "presidente do PSD" e ele [Marcelo] não dá ponto sem nó", refere outra fonte do PS..Costa, no apelo aos socialistas, no texto sobre os 50 anos, pede que esta (a comemoração) seja "uma ocasião de grande mobilização de todas e de todos os socialistas". Carlos César, acutilante nas análises internas (críticas e elogios), aponta para outro patamar: "Os desafios são [hoje], claro, diferentes, pelo que nos devemos reinventar e acompanhar essas diferenças"..Neste dia dos 50 anos, para além da homenagem a Soares e a Maria Barroso, entre outras iniciativas, o momento maior está reservado para o final da tarde no Pavilhão Carlos Lopes: o jantar comemorativo que juntará "mais de mil militantes" da família socialista ao dirigente do SPD [uma ligação antiga e nem sempre "amiga"] e chanceler alemão Olaf Scholz e ao antigo líder do PSOE, Felipe González..A Acção Socialista Portuguesa (ASP) , "a semente do moderno socialismo português" - como a descreveu António Muñoz Sánchez, no livro O Socialismo e o PS em Portugal, coordenado por Fernando Pereira Marques -, lançada em 1964, em Genebra, por Mário Soares, Francisco Ramos da Costa e Manuel Tito de Morais "procurou e obteve apoio político, ajuda material e referências programáticas e ideológicas nas poderosas organizações socialistas de França, Alemanha ou Reino Unido, compensando assim, pelo menos em parte, as suas carências estruturais" apesar das "motivações não altruístas", das "dúvidas" que se foram cruzando e da "amizade" entre "o Portugal" de Salazar e a "RFA de Konrad Adenauer", descreveu Muñoz Sánchez. Essa Alemanha, "temendo ser ocupada pelas tropas do Pacto de Varsóvia numa eventual guerra entre blocos", criou uma "confluência de interesses geoestratégicos" com Salazar e depois com Marcelo Caetano que resultariam numa realidade: "RFA, o primeiro investidor estrangeiro em Portugal, o primeiro vendedor e o terceiro mercado para os produtos portugueses. Desta forma, em muito poucos anos, a RFA, junto com a França de Charles De Gaulle, convertera-se no principal aliado de Portugal".."Para a social-democracia alemã, o anti-salazarismo [que] foi terra incógnita até setembro de 1966" e as "tensões" nas relações bilaterais [vender menos armas a Portugal e desvalorizar a base de Beja] que "não deviam tornar-se ainda mais complicadas dando um apoio visível a um minúsculo grupo de oposição, pois isso incomodaria profundamente as irascíveis autoridades de Lisboa", aliadas à convicção do SPD (o da "grande coligação" com a CDU, a aliança entre Willy Brandt e Kurt-Georg Kiesinger) de que "intensificar as relações com o Estado..Novo era também prestar um serviço à futura liberdade do país" que na transição "iria ter como protagonistas não a fraca oposição, mas sim os moderados do regime" - até porque o "SPD concentrou as suas esperanças de evolução positiva em Portugal em Marcelo Caetano e manteve a distância em relação aos companheiros socialistas" -, criou um paradoxo de "motivações não altruístas" que só mesmo após o 25 de Abril seria totalmente desfeito..Quando a 17 de abril de 1973 teve lugar o I Congresso da ASP, numa escola de formação da Fundação Ebert, e se iniciaram os debates que levariam a que a 19 de abril, em Bad Munstereifel, "no meio de um forte nevão", pelas seis da tarde, a ASP desse lugar ao PS "por 20 votos a favor e 7 contra", a realpolitik do SPD ainda era praticamente a mesma. O encontro de Soares com o líder dos social-democratas alemães e chanceler federal, Willy Brandt, ficaria marcado para o primeiro encontro oficial entre o PS e o SPD, a 25 de abril de 1974. Não aconteceu. Mário Soares foi acordado à seis da manhã com a notícia da revolução de Abril..Em março de 1975, Willy Brandt "falou de Soares como seu "velho e bom amigo". Disse-o sem pestanejar, e eu senti, dizendo suavemente, um mal-estar profundo". A desilusão, o "absurdo-paradoxal", foi confessada, anos depois, por Robert Lamberg que dirigiu a Fundação Ebert e que tentou sem êxito que Willy Brandt recebesse Soares na altura devida..Aos 27 de Bad Munstereifel, desse 19 de abril de 1973, juntar-se-iam "por ordem de precedência, na lista elaborada inicialmente, em 1977, por Manuel Tito de Morais e Catanho de Menezes, 88 nomes - alguns que tinham saído do partido foram acrescentados mais tarde - que figuram na lápide colocada, há 25 anos, na entrada da sede nacional no largo do Rato..O PS foi constituído para ser um partido de poder - e de poder tem sido. Se fizermos a contabilidade total ao período constitucional, que se iniciou em 1976, os governos liderados por socialistas, isolados ou em coligação (foram só dois, um com o CDS e outro com o PSD), ocuparam mais de metade do tempo: 52,7 por cento dos dias. Já os governos dirigidos por personalidades do PSD, nessa conta geral de 1976 até aos dias de hoje, ocuparam 45,7 por cento dos dias. Dito de outra forma: nestes 46 anos, oito meses e oito dias, os socialistas governaram 24 anos, sete meses e nove dias; já os sociais-democratas fizeram-no durante 21 anos, quatro meses e 12 dias..A contabilidade às lideranças dos 23 governos constitucionais formados em Portugal desde que o primeiro tomou posse (23 de julho de 1976) revela, claramente, dois ciclos bastante diferenciados: o primeiro vai de 1976 até outubro de 1995 (portanto, quase 20 anos) e é fortemente dominado pelo PSD. Sete em cada dez dias dos portugueses nesses quase 20 anos foram governados sob a liderança de sociais-democratas, prevalecendo fortemente entre eles Cavaco Silva (que ainda é o primeiro-ministro mais duradouro da história da democracia)..Em outubro de 1995, com a realização de eleições legislativas, o PS regressa ao poder, depois de quase dez anos de travessia do deserto - e desde então tem exercido um domínio esmagador..Três em cada quatro dias dos portugueses têm sido governados pelo PS: primeiro com António Guterres, depois com José Sócrates (a primeira maioria absoluta do partido) e desde 2015 por António Costa (que obteve no ano passado a segunda maioria absoluta do partido)..Costa já é, entre os socialistas, o primeiro-ministro mais duradouro, e se for até ao fim da presente legislatura (outubro de 2026) ultrapassará Cavaco Silva como o PM mais duradouro de todo o período democrático. Soares, o fundador e líder histórico do partido, foi o primeiro-ministro mais curto do PS..Meio século É o partido que há mais tempo, desde 1976, governa Portugal e que se tornou desde 1995 dominante: três em cada quatro dias são de governação socialista..O embrião A Acção Socialista Portuguesa (ASP) foi fundada em Genebra, em 1964, por Mário Soares, Manuel Tito de Morais e Francisco Ramos da Costa. Apesar de "formalmente admitida na Internacional Socialista em 1972" não conseguiu "estabelecer as bases de implantação a que aspirava"..A fundação Militantes da Acção Socialista Portuguesa reunidos em congresso, na cidade alemã de Bad Munstereifel, a 19 de Abril de 1973, aprovam a transformação da ASP no Partido Socialista. O primeiro símbolo foi oferecido por Enzo Brunori, militante do Partido Socialista Italiano..Primeiros-ministros Dos oito secretários-gerais, de 1973 até aos dias de hoje, quatro chegariam ao lugar de primeiro-ministro (PM). Há uma relação direta entre o tempo de liderança e chegar a PM: Soares foi líder durante 13 anos, Guterres durante 10, Sócrates por 7 e Costa que já vai nos 9 pode chegar aos 12 anos..Os outros líderes Constâncio (1986 a 1989), Jorge Sampaio (1989 a 1992), Ferro Rodrigues (2002 a 2004) e Seguro (2011 a 2014) completam a lista de secretários-gerais. Todos o foram por pouco tempo. Deste grupo só um seria Presidente da República: Sampaio (de 1996 a 2006) que anunciou a candidatura à revelia do PS..Mário Soares, o líder Foi primeiro-ministro de 1976 a 1978 e de 1983 a 1985 e Presidente da República de 1986 até 1996, ano em que deixou a liderança do partido. Ainda tentou, em 2006, um inédito terceiro mandato. Perdeu, ficou em terceiro, atrás de Alegre, numas eleições que Cavaco venceu à primeira volta.