Exportações de vinho a caminho de novo recorde
As exportações de vinho estão a caminho de um novo recorde. O setor, que em setembro exportou mais 4% do que no mês homólogo, está a crescer 2,43% no acumulado do ano, para 589,6 milhões de euros. E está a menos de 232 mil euros do valor total exportado em 2019, quando se sabe que o último trimestre, com a aproximação do Natal, é sempre o melhor período para as vendas de vinho. Nos últimos três anos, o último trimestre valeu sempre mais de 240 mil euros de exportações. "O caminho está a ser bom, todos os mercados em que investimos mais, com exceção da China e de Angola, estão a crescer, o que significa que fizemos bons investimentos, bem-feitos e ponderados, e que agora estamos a colher os frutos disso", diz o presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão.
O único senão é mesmo a quebra do preço médio, da ordem dos 1,33%, o que significa que estamos a vender mais, mas mais barato. Mas, a manter-se esta tendência, este será o quarto ano consecutivo de crescimento, depois de a quebra de 1,6% em 2016 ter interrompido a trajetória positiva das exportações nacionais de vinho desde 2010. A verdade é que esta boa performance é suportada, essencialmente, pelos mercados extracomunitários, que estão a crescer 21,6%, para 31,5 milhões de euros. Em contrapartida, as vendas para a Europa estão a cair 13,5%, para 272 milhões.
Em termos de mercados, Frederico Falcão faz um "destaque muito positivo" para o Brasil, que está a subir 21,5%, para 46,3 milhões de euros. "Em números absolutos, este mercado cresceu mais de oito milhões de euros desde janeiro", sublinha. Para os EUA e o Canadá há um acréscimo de 7,6% e de 5%, respetivamente, para 70,5 milhões e para 37,3 milhões de euros, e positivo é, também, o comportamento do Reino Unido, que cresce 4,1%, para 52 milhões de euros.
Mas o líder da ViniPortugal chama, ainda, a atenção para o "excelente comportamento" dos países nórdicos, com a Suécia a crescer 41% (21,6 milhões), a Noruega 40% (10,3 milhões) e a Finlândia 50,5% (oito milhões de euros). "São mercados de monopólio e cujas economias encerraram muito menos do que o resto da Europa", diz Frederico Falcão, que acredita que "os nórdicos, em alturas de aperto, mostram reconhecer nos vinhos portugueses um valor seguro".
Em sentido contrário estão os pesos-pesados francês e alemão. As exportações de vinho para França estão a cair 5,4%, para 77,8 milhões de euros, o que significa menos 4,4 milhões de euros do que no período homólogo. Quanto à Alemanha, a quebra é de 4,7%, para 34,7 milhões, menos 1,7 milhões de euros do que o ano passado. Angola e China são, também, mercados com quedas significativas. Angola cai 27%, para 19,3 milhões de euros, e a China perde 35,8%, para 8,5 milhões.
Questionado sobre as razões de sucesso das exportações de vinho, o presidente da ViniPortugal lembra que é uma trajetória que já vem de trás, com o setor a colher os louros dos investimentos de promoção internacional, na marca e na qualidade dos vinhos, que fez na última década. "Isso notou-se muito nos mercados nórdicos, de monopólio, onde estamos a crescer bastante. Com o confinamento e sem vontade de estarem muito tempo nas lojas, os consumidores procuram as marcas que conhecem e em que confiam. Procuram valores seguros, e a boa relação qualidade-preço dos nossos vinhos está-nos a ajudar", explica.
A mesma lógica se aplica ao mercado brasileiro, onde o consumo per capita de vinhos "aumentou muito em 2020 e Portugal conseguiu crescer mais do que os seus mais diretos concorrentes, caso de Chile, Argentina, Itália, França ou Espanha", frisa.
Mas este desempenho positivo nos mercados externos não significa que tudo esteja bem no setor. Pelo contrário. Frederico Falcão admite que o crescimento das exportações não vai compensar as perdas no mercado nacional, fruto da falta de turistas e das dificuldades da restauração. É que os portugueses até estão a comprar mais vinho, mas para beber em casa. Segundo a Nielsen, no final do primeiro semestre, os dados mais recentes disponíveis, as vendas de vinho na restauração rondam os 50%, quer em quantidade quer em valor, enquanto a grande distribuição cresce acima dos 8%. Globalmente, o preço médio de venda do vinho no mercado nacional foi 15% mais baixo, nos primeiros seis meses do ano, por efeito desta transferência de consumo da restauração para o lar. E, claro, da falta de turistas.
Frederico Falcão reconhece que há realidades distintas a ter em conta no setor. "A maior parte dos pequenos produtores não exporta, está muito dependente do mercado nacional e da restauração. E, mesmo os que exportam, fazem-no muito para a Europa e para restaurantes e, portanto, viram os seus mercados completamente fechados. Há casos dramáticos", garante.
O vinho do Porto, por exemplo, continua a ser duramente castigado pela pandemia, com as vendas globais do setor a cair 14,1% desde o início do ano, para 216,1 milhões de euros. As exportações estão a recuar 8,1%, para 187,1 milhões de euros, mas neste segmento é Portugal que mais penaliza o setor, com uma quebra de quase 40%, fruto da falta de turistas. A França, que voltou a assumir a posição de principal consumidor de vinho do Porto, caiu 10,2%. O Reino Unido perde 13,1% e os EUA, 5,4%.
Menos má é a performance dos vinhos com denominação de origem Douro, que, na exportação, estão a perder apenas 0,9%, num total de 43,4 milhões de euros. Mas quando se junta o mercado nacional e se analisam as vendas globais dos vinhos durienses, a quebra sobe para 10,4%, num total de 106,3 milhões de euros.
Traçado está já o plano de promoção da ViniPortugal para 2021, um documento "mais ambicioso" em termos de valor, com 7,15 milhões de euros, contra os pouco mais de cinco milhões que estavam previstos neste ano (e que nem sequer foram usados na totalidade). Será "um dos maiores investimentos em marketing na história da ViniPortugal", garante Frederico Falcão.
E a aposta passa por abrir quatro novos mercados, no próximo ano, realizando ações de promoção na Bélgica, Dinamarca, Ucrânia e México, bem como alargando a presença em novas cidades no mercado chinês. "É preciso olhar para a China de uma maneira diferente, tentando conquistar outros mercados. Quando se fala em pequenas cidades na China, não podemos esquecer que têm, muitas vezes, quase tantos habitantes como Portugal", diz este responsável.
Quanto às novas apostas, Frederico Falcão explica que a Ucrânia "tem estado a crescer a um ritmo muito alto", pelo que faz sentido "haver uma aproximação" para estudar este mercado. Já o México deveria ter sido abordado pela primeira vez neste ano, mas a pandemia obrigou a adiar os planos para 2021. "O México tem um potencial muito grande, não ainda para Portugal, mas já para a Espanha, e é um mercado onde podemos vir a investir muito", explica.
No total, o plano de ação da ViniPortugal para 2021 prevê a realização de 111 ações em 21 mercados, envolvendo mais de 350 empresas, e que vão desde a participação em grandes feiras do setor à organização de provas, de masterclasses ou de jantares vínicos para dar a conhecer os vinhos portugueses. E para todas estas ações há já um plano B caso a pandemia continue a não permitir a realização de eventos com presença de pessoas.
"Este foi um ano muito complicado, tivemos de cancelar tudo à pressa, acabamos por ter um investimento muito mais baixo do que o que pretendíamos. Agora, já temos planos B pensados de modo a rentabilizarmos muito mais os investimentos", explica Frederico Falcão. E por plano B entenda-se ações diferenciadas consoante os mercados e que podem ir desde a organização de provas virtuais a publicidade local ou à presença de vinhos nacionais em programas de culinária nas televisões locais.
Ainda neste ano, os vinhos portugueses marcam presença na ProWine China, o maior evento do setor no mercado chinês. São 14 os produtores que vão integrar o pavilhão Wines of Portugal, mas que estarão representados na feira pelos seus importadores locais.