Em todo o mundo, quase seis em cada dez pessoas estão confinadas em casa

Há países europeus que já começam a pensar em aliviar as medidas de confinamento - que a nível mundial afetam 4,5 mil milhões de pessoas -, mas há uma medida que veio para ficar: distanciamento social. A China, sob pressão internacional, acrescentou nesta sexta-feira mais 50% de mortes por coronavírus na cidade de Wuhan, alegando que no pico da pandemia muitos doentes morreram em casa e não foram contabilizados. Mas há recontagens noutros países.
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A pandemia de coronavírus já atingiu mais de 2,1 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que pouco mais de meio milhão recuperou da doença. O número de mortes aproxima-se dos 150 mil. No meio deste balanço negativo, segundo cálculos da AFP, quase seis em cada dez pessoas no mundo estão confinadas nas suas casas por ordem ou recomendação das autoridades para travar a progressão do covid-19. São 4,5 mil milhões em 110 países. Mas vários países europeus começam já a pensar em levantar as restrições. Uma medida veio contudo para ficar: o pedido de distanciamento social ou, como a Organização Mundial da Saúde prefere chamar, o "distanciamento físico", reiterando que é necessário manter a ligação emocional à família e aos amigos nos tempos de pandemia.

China

Mais de três meses depois de ter revelado o primeiro caso do novo coronavírus, o governo chinês admitiu que o número de mortos por covid-19 na cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, foi superior ao inicialmente revelado. As autoridades da cidade de 11 milhões de habitantes disseram nesta sexta-feira que morreram mais 50% das pessoas do que o contabilizado, acrescentando 1290 casos ao balanço anterior e colocando o total de vítimas mortais em Wuhan em 3869 e em toda a China em 4632. A cidade alega que, no pico da epidemia, alguns pacientes morreram em casa porque não tinham condições de ser atendidos em hospitais e a sua morte não foi por isso contabilizada. Mas a admissão do erro vem num momento em que a China está sob ataques da comunidade internacional em relação à forma como lidou com a pandemia. As críticas começaram nos EUA, mas já alastraram ao Reino Unido e à França. "Não vamos ser assim tão inocentes. Nós não sabemos. Claramente, aconteceram coisas que não sabemos", disse o presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a gestão da epidemia pela China. Já o governo britânico indicou que Pequim terá de responder a "perguntas difíceis sobre a forma como o vírus surgiu e porque não foi travado antes".

Rússia

A pandemia de coronavírus obrigou o presidente russo, Vladimir Putin, a adiar a parada militar de comemoração do 75.º aniversário da vitória soviética sobre os nazis, na Segunda Guerra Mundial, prevista para 9 de maio. Putin disse que esse dia era sagrado, mas igualmente sagradas são as vidas das pessoas. O presidente já tinha adiado o voto sobre as reformas constitucionais, incluindo a possibilidade de poder candidatar-se a mais mandatos, que devia ocorrer este fim de semana. Nesta sexta-feira, a Rússia registava um total de 32 008 casos de infeção pelo coronavírus, um aumento de 4070 em apenas 24 horas (quase dois mil só em Moscovo) -, batendo pelo sexto dia o recorde. Há registo de 273 mortos, um aumento diário de 41. A vice-presidente da câmara de Moscovo, Anastassia Rokova, disse que as próximas semanas vão ser difíceis na capital, esperando-se o pico de mortos nas próximas duas a três semanas. A quarentena dura pelo menos até 1 de maio em Moscovo, sendo os habitantes da cidade autorizados a sair de casa para trabalhar, passear os cães, despejar o lixo ou ir às lojas mais próximas. Desde esta semana foi introduzido um sistema digital de autorizações, que é obrigatório para quem usa o carro ou os transportes públicos.

Alemanha

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse nesta sexta-feira que a pandemia está "sob controlo" no país no dia em que a taxa de contágios ficou pela primeira vez abaixo de 1. Segundo os dados do Instituto Robert Koch, é agora de 0,7, o que significa que cada pessoa infetada com o novo coronavírus contagia cerca de 0,7 pessoas. A chanceler alemã, Angela Merkel, tinha dito que este número seria essencial para o aliviar das restrições no país, com pequenas lojas a reabrir a partir de segunda-feira e as escolas e creches já a 4 de maio. Os grandes eventos de massas, como eventos desportivos ou culturais, continuam contudo proibidos até final de agosto. O "sucesso desta etapa" contra o coronavírus continua contudo a ser "frágil", alertou Merkel, que numa entrevista avisou que um novo aumento da taxa de infeção pode fazer "transbordar" o sistema de saúde do país. A Alemanha tinha ontem mais de 138 mil casos (um aumento de 523 nas últimas 24 horas) e mais de quatro mil mortes (46 mais do que na véspera).

Japão

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, anunciou na quinta-feira a ampliação do estado de emergência para todo o país (até então aplicava-se a apenas sete das 47 regiões, incluindo Tóquio), com o objetivo de possibilitar uma luta mais eficaz contra a propagação do novo coronavírus. Na prática este estado de emergência não implica o confinamento obrigatório, mas Abe tem repetido o pedido às pessoas para ficarem em casa, pedindo maior distanciamento social. Apesar de inicialmente parecer ter sido poupado ao covid-19, o Japão tem registado um aumento de casos desde o final de março, tendo já mais de dez mil casos e registado 203 mortes. Esta sexta-feira, o Japão começou a distribuir por todas as casas duas máscaras reutilizáveis de algodão, uma medida anunciada por Abe no dia 1 de abril que foi ridicularizada nas redes sociais, onde se questionava o que se fazia em lares com mais de dois residentes. O primeiro-ministro anunciou, já nesta sexta-feira, que cada residente vai receber 100 mil ienes (856 euros), deixando cair o plano inicial de dar três vezes esse valor por cada lar cujos rendimentos tivessem sido afetados.

Brasil

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, continua a ser contra a política de isolamento social defendida pela Organização Mundial da Saúde e, depois de vários choques com o seu próprio ministro da Saúde sobre o tema, acabou por o demitir nesta quinta-feira. Saiu o médico Luiz Henrique Mandetta e entrou outro médico, o oncologista Nelson Teich, que já disse haver um "alinhamento completo" com o presidente - que está preocupado com o impacto na economia - e não haverá "qualquer definição brusca, radical" sobre o isolamento social. Enquanto isso, o número de infetados no Brasil ultrapassava a barreira dos 30 mil, com o número de mortos a aproximar-se dos dois mil.

Reino Unido

Na quinta-feira, o chefe da diplomacia britânico, Dominic Raab, alargou por mais três semanas o período de confinamento. "A pior coisa que podíamos fazer agora era aliviar a situação demasiado cedo", disse Raab, que está a substituir Boris Johnson na liderança do governo até o primeiro-ministro estar recuperado depois de ter estado hospitalizado com coronavírus. As autoridades de saúde inglesas estão entretanto a rever os números de mortos dos últimos dias, apesar de o recorde continuar a ser o de 8 de abril, quando foram registados 792 óbitos. Entretanto, em todo o Reino Unido, morreram nas últimas 24 horas mais 847 pessoas nos hospitais, elevando o total desde o início da pandemia para 14 576. Há quase 109 mil casos positivos.

Espanha

O segundo país mais afetado da Europa está a rever toda a contagem oficial de mortos, visto que inicialmente apenas eram contabilizados os números de vítimas mortais nos hospitais. Contudo, algumas comunidades autónomas já começam também a contabilizar os que morrem em lares ou em casas, pelo que as autoridades de saúde estão a começar a rever os números passados - o que impede comparações. Esta sexta-feira, o número de casos já superava os 188 mil, com as mortes a situarem-se nas 19 478. Além desse caos na contagem oficial de vítimas, o governo espanhol continua a enfrentar problemas com o material de proteção. Desta vez, em causa estão 140 mil máscaras FPP2 da empresa Garry Galaxy, que faz parte da lista de fabricantes de material sanitário autorizada pela China, mas cujos testes revelaram que não cumprem os requisitos para proteger os profissionais de saúde. No lote em causa, o nível de penetração das partículas era de 18% e até 29%, quando devia ser inferior a 6%. Espanha já começou entretanto a aliviar alguns aspetos do confinamento, com cerca de 300 mil trabalhadores não essenciais a voltar ao trabalho em Madrid. O governo de Pedro Sánchez vai ainda criar um rendimento mínimo garantido, que deve chegar a três milhões de pessoas num milhão de lares, dos quais 100 mil serão famílias monoparentais. Na segunda-feira, Sánchez vai reunir-se com o líder da oposição, Pablo Casado, do Partido Popular, como parte de uma ronda de consultas para a "mesa de reconstrução" do país no pós-coronavírus.

Estados Unidos

Depois de ter defendido que é ele quem decide sobre a reabertura ou não do país e ter sido criticado por vários governadores, o presidente dos EUA, Donald Trump, apresentou na quinta-feira o seu plano de reabertura em três fases. Este é um guia para dar aos governadores o poder de decisão, dependendo do número de casos que tenham nos seus estados. "Não vamos reabrir de uma vez, mas num cuidadoso processo passo a passo, e alguns estados poderão abrir antes de outros", disse Trump, que procura recuperar rapidamente a economia, com mais de 22 milhões de pessoas a pedirem o subsídio de desemprego em março. Os EUA têm mais de 660 mil casos confirmados e quase 30 mil mortes, mais de 10 mil só no estado de Nova Iorque, onde o governador Andrew Cuomo estendeu o confinamento até 15 de maio.

Itália

O país com maior número de mortos pelo coronavírus da Europa começou no dia 14 o levantamento do confinamento, com pequenas lojas a receber luz verde para reabrir. A Itália vai ainda começar a testar uma aplicação para telemóveis que permitirá rastrear os casos de coronavírus com o objetivo de limitar sua propagação. Nesta sexta-feira, as autoridades italianas anunciaram 575 novas mortes, num total de 22 475 desde o início da pandemia. O número de casos subiu 3493, para um total de 172 434.

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