A contagem decrescente para novas eleições está a chegar ao fim em Espanha e não há sequer uma miragem de acordo que permita a investidura do líder socialista, Pedro Sánchez, e evite uma nova ida às urnas dos espanhóis a 10 de novembro. O rei Felipe VI começa nesta segunda-feira a receber os partidos com assento parlamentar e, depois de uma reunião na terça-feira com Sánchez, decidirá se há condições para nova votação no Congresso ou se esse passo nem será necessário..Em finais de julho, na primeira tentativa de investidura após as eleições de 28 de abril, Sánchez não foi capaz de negociar uma maioria suficiente para ser eleito primeiro-ministro. Apesar de ter ganho o escrutínio, ficou aquém da maioria e dependente não de um, mas de vários partidos, visto que nem o Partido Popular nem o Ciudadanos se mostraram abertos a uma aliança que pudesse ultrapassar as linhas de esquerda e direita..À esquerda, um acordo com a aliança Unidas Podemos, liderada por Pablo Iglesias, não dava a maioria necessária, sendo sempre necessário, no mínimo, uma abstenção dos independentistas catalães da Esquerda Republicana da Catalunha. Mas o acordo com Iglesias não foi fácil, com este a exigir a formação de uma coligação e várias pastas no governo em troca do seu voto favorável à investidura..Sánchez insistiu num acordo programático (imitando a geringonça portuguesa), oferecendo apenas cargos no segundo nível do executivo, rejeitando totalmente a ideia de ter Iglesias no seu governo. Cederia e deu luz verde a membros do Podemos no Conselho de Ministros, mas o partido de Iglesias quis pastas de tal relevância que o socialista acabou por recuar. Sem acordo, a Unidas Podemos absteve-se na segunda votação decisiva, a 25 de julho, adiando para agora uma decisão final..Mas os meses passaram sem que houvesse mais negociações - Sánchez defendeu sempre que a proposta que fez em julho não iria mudar em setembro..Na quinta-feira, Iglesias terá proposto a Sánchez um acordo de coligação temporário, que o líder socialista rejeitou de imediato. "Se depois da aprovação do Orçamento Pedro Sánchez considerar que a coligação não funcionou, Unidas Podemos compromete-se a abandonar o governo mantendo o apoio parlamentar", segundo indicaram fontes do Podemos, citadas então pelo El País. Desde então terá ficado claro para ambos que não havia nada mais a fazer..O rei Felipe VI começa nesta segunda-feira a nova ronda de contactos com os líderes dos partidos com assento no Congresso, com o primeiro-ministro a ser o último, na terça-feira. O monarca vai ver se há ou não consenso para uma nova sessão de investidura antes do final do prazo, a 23 de setembro, só decidindo então se propõe um nome para ser submetido a votos entre os deputados ou se dá de imediato por falhada essa possibilidade e avança para a dissolução do Congresso e novas eleições..Apesar de o diálogo entre as equipas de negociação durante o fim de semana, não houve mais conversa entre os líderes socialista e o da aliança Unidas Podemos - o primeiro-ministro esteve ocupado com visitas às zonas atingidas pelos temporais..Os espanhóis encaminham-se para novas eleições, a 10 de novembro, numa repetição do cenário vivido após as divisões das eleições de dezembro de 2015, que tiveram de se repetir em junho de 2016..As sondagens apontam para uma ligeira melhoria do PSOE e uma ligeira caída do Podemos, mas o dado mais importante será a abstenção. Pela segunda vez em três anos, os espanhóis terão de repetir umas eleições legislativas e o impacto dessa abstenção poderá ser grande, especialmente se a desmobilização for maior à esquerda e abrir caminho a uma eventual maioria a três (PP, Ciudadanos e Vox) à direita..O último inquérito do Centro de Investigações Sociológicas (CIS) dá a Sánchez maior percentagem de votos do que toda a direita junta, mas o trabalho de campo foi feito antes de falhar a primeira investidura.