Alojamento local cai 60% até agosto. Houve menos oito milhões de turistas estrangeiros

Os dados conhecidos dos primeiros oito meses do ano ilustram a dimensão da queda da atividade turística em Portugal. Os efeitos fazem-se sentir em todos os segmentos. O turismo rural também não escapa.
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Já era esperado, mas os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) até agosto confirmam a dura realidade que o turismo atravessa em Portugal. A atividade afundou, sendo certo que as quedas são transversais a todos os segmentos.

O alojamento local (unidades com dez camas ou mais, tal como é contabilizado pelo gabinete de estatística), que vinha a crescer nos últimos anos, travou a fundo. E mesmo a oferta em sítios mais isolados e compatíveis com a necessidade de distanciamento social imposta pela covid-19, como o turismo rural e de habitação, também não escapou aos dias difíceis.

De janeiro a agosto, o alojamento local em Portugal contou com pouco mais de 1,3 milhões de hóspedes, o que se traduz numa quebra de quase 58% em relação ao mesmo período do ano passado, menos de 1,8 milhões de hóspedes do que nos mesmos oito meses de 2019. As dormidas também caíram: foram 2,8 milhões, menos 59,4% do que no período homólogo. É preciso recuar seis anos para ter este nível de dormidas. O número fica pouco abaixo do registado no período homólogo de 2014. Contudo, após a troika, a capacidade instalada era inferior à atual.

A associação do setor, a ALEP, tem vindo a mostrar muita preocupação com a quebra de viajantes que o país (e o mundo) atravessa e os efeitos que isso terá sobre estas unidades de alojamento, muitas das quais localizadas no coração de grandes cidades como Lisboa e Porto, mas que são de pequenas dimensões, sendo por isso pouco apetecíveis para o arrendamento tradicional. A combinação dos dois fatores está a deixar muitos proprietários numa encruzilhada.

Os vários atores do setor já tinham avisado que a atividade turística em 2020 estava a ser suportada sobretudo pelos viajantes residentes. Os dados do gabinete de estatística mostram que dos 7,3 milhões de hóspedes que estiveram nas unidades de alojamento turístico até agosto (menos 60,3%), mais de quatro milhões eram residentes. Houve menos cerca de oito milhões de turistas estrangeiros, comparando com o mesmo período de 2019, o que se repercute diretamente nos proveitos destas unidades.

Os proveitos totais das unidades de alojamento (que incluem não só o alojamento mas outros serviços, como spa) superaram os mil milhões de euros, o que representa menos 65% do que até agosto de 2019, altura em que tinham acumulado proveitos de quase três mil milhões de euros.

A pandemia transformou várias áreas da vida social. A necessidade de distanciamento social levou muitos a mudar os seus hábitos de férias, trocando a praia pelo campo. As áreas rurais são mais propícias ao distanciamento e os alojamentos para turistas permitem desfrutar da natureza e estar com os familiares ou os amigos mais próximos sem temer ajuntamentos.

Apesar de ter sido "descoberto" por muitos, o turismo no espaço rural e de habitação também sofreu os efeitos negativos da covid-19. Até agosto, contou com mais de 391 mil hóspedes, menos 41% do que nos oito meses de 2019. As dormidas também recuaram: foram 872 mil, uma queda de quase 39%.

Regiões como o Norte, Centro e Alentejo, apesar de terem números inferiores aos do ano passado, evidenciam, no entanto, quebras menos expressivas do que outros destinos. Por exemplo, até agosto, o Centro contou com 1,3 milhões de hóspedes, quando no mesmo período do ano passado teve 2,7 milhões. O Algarve até agosto teve 1,3 milhões de hóspedes, quando tinha tido 3,6 milhões.

As duas regiões oferecem condições para diferentes tipos de turismo, atraindo assim muitas vezes públicos diferentes, e a oferta ao nível de unidades é também distinta.

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