Liberdade, transparência e mais fair play, precisa-se!

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A liberdade é um bem não-transacionável. Uma maioria absoluta é tão mais saudável quanto mais forte forem a liberdade de expressão, a liberdade dos media, a verdade e a transparência. Nos últimos meses, o governo conseguiu desbaratar o estado de graça da maioria absoluta, passando para os eleitores uma imagem de névoa em redor de vários ministros e secretários de Estado.

Como se isso não bastasse, por estes dias rebentou o caso Miguel Alves, o já famoso autarca de Caminha, e nesta semana também a imagem do primeiro-ministro pode vir a ficar eventualmente beliscada pelo relato de Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal, no seu novo livro com assinatura do jornalista Luís Rosa, do Observador.

Conta a obra que o primeiro-ministro considerava "inoportuno" o Banco de Portugal estar a tentar afastar Isabel dos Santos da administração do EuroBic, quando estava em curso, em 2016, uma solução para a saída da filha do ex-presidente angolano do capital do BPI. A ser verdade, diz aquele órgão de comunicação social que, "cerca de hora e meia após publicação de um capítulo do livro O Governador, o primeiro-ministro enviou mensagem escrita a Carlos Costa que confirma o telefonema sobre Isabel dos Santos".

No passado, as interferências da política na economia nunca deram bom resultado. No futuro, não acredito que venha a ser diferente. A separação de poderes é essencial num regime democrático. Do mesmo modo que a liberdade é um garante da mesma, onde os verbos criticar e denunciar fazem parte desse modo de vida na res publica.

Foi com surpresa que ontem os media ficaram a saber que um homem forte do PS e presidente do Conselho Económico e Social, Francisco Assis, que devia apresentar, com Luís Marques Mendes, o livro de Luís Rosa, cancelou a presença a meio da tarde, após notícias que envolviam o primeiro-ministro.

As palavras escritas do ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, têm gerado autênticas ondas de choque. E em Portugal, verifica-se que governantes e outros políticos têm cada vez mais dificuldade em enfrentar críticas aos microfones, nos jornais ou em livros. Até parece que já se esqueceram que o fair play, o chamado jogo de cintura, é parte integrante do ADN de quem faz carreira política. Manter esse fair play é como respirar para estar vivo.

(António Costa recorreu à justiça neste caso, Carlos Costa reconfirmou o caso no lançamento do livro).

Diretora do Diário de Notícias

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