O Parlamento Europeu (PE) realiza nesta semana, em Estrasburgo, a sua última sessão plenária antes das eleições europeias. Estas realizam-se, nos vários países da União Europeia, entre os dias 23 e 26 de maio. A grande incógnita é saber se a nova eurocâmara, que toma posse a 2 de julho, terá 751 ou 705 eurodeputados. Tudo por causa do atraso do Brexit. O Reino Unido deve participar no escrutínio, se o seu Parlamento não aprovar rapidamente um acordo sobre a saída da UE, embora muitos políticos britânicos se recusem a participar no processo por considerá-lo avesso ao resultado do referendo de 2016. Mas esse não é o caso do conhecido deputado eurocético Nigel Farage.."Vou liderar o Partido Brexit nas eleições europeias, pois agora parece certo que elas acontecerão", declarou o eurodeputado eurocético à Sky News, antes de a UE ter aceitado adiar o Brexit até 31 de outubro, acrescentando: "Estou feliz com isto? Não. Pensei que já tínhamos vencido a batalha do Brexit. Tenho outras coisas que gostaria de fazer na minha vida." Na passada sexta-feira, quando lançou a campanha do Partido do Brexit às europeias, declarou: "Acho que o que temos visto durante as últimas quatro semanas é a traição ao maior exercício democrático neste país." Num evento, em Coventry, Farage apresentou uma lista com 70 candidatos, entre eles Annunziata Rees-Mogg, irmã de Jacob Rees-Mogg. Este é o líder dos brexiteers radicais do Partido Conservador que têm infernizado a vida da primeira-ministra Theresa May..Mas se Farage, de 55 anos, disse que tinha muito mais coisas que gostaria de fazer na vida, o certo é que o Parlamento Europeu, a União Europeia, as críticas e as tentativas para enfraquecer a mesma, têm sido, nas últimas duas décadas, o modo de vida por excelência deste britânico de Downe, em Kent, na Inglaterra. Eurodeputado desde 1999, se for novamente eleito nesta legislatura - e chegar a ocupar o lugar - este será o seu quinto mandato no PE. Pelo caminho conseguiu enfurecer Durão Barroso, contra quem apresentou uma moção de censura, John Bercow, a quem tentou roubar o lugar de deputado em 2009, Herman van Rompuy, a quem chamou esfregona, Donald Tusk, que pensou nele certamente quando se questionou se haveria lugar no inferno para todos os brexiteers que disseram inverdades sobre a saída da UE..Farage passou a campanha para o referendo do Brexit a martelar num ponto: dizia que, com o Brexit, 350 milhões de libras seriam libertados e passariam a ser utilizados no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS). Logo no dia a seguir a ser conhecido o resultado do referendo, que deu a vitória à saída do Reino Unido da União Europeia, Farage foi de manhã ao programa Good Morning Britain, da ITV News, tendo admitido que essa mensagem "foi um dos erros da campanha pela saída". Questionado pela jornalista sobre se haveria mais coisas que as pessoas acordariam e descobririam que não iriam acontecer, contornou a questão, dizendo que há dinheiro que não iria mais ser enviado para a UE, podendo assim ser aplicado no país. No referendo de 23 de junho de 2016, 52% dos eleitores votaram a favor do Brexit, 48% contra..Filho de um corretor da Bolsa de Londres que abandonou a família quando ele tinha apenas 5 anos, Farage estudou numa escola pública, preferindo seguir a carreira nos mercados financeiros da City a ir para a universidade. Desenvolveu enquanto estudante o gosto pelo râguebi, pelo críquete e pelo debate político. Fiel às origens, ainda hoje tem a sua residência na região do sudeste de Inglaterra, em que nasceu, frequentando há mais de 30 anos o mesmo pub, George & Dragon. Apreciador de uma boa pint de cerveja, já foi várias vezes fotografado nessa condição, Farage tornou-se também membro ativo do Partido Conservador nos seus tempos de estudante..Desde então, Farage tem saltado de partido em partido, até ao atual Partido do Brexit, que ao contrário do que muitos possam pensar não foi necessariamente fundado por ele mas sim por Catherine Blaiklock. Em 2012, falando a estudantes, admitiu que nas europeias de 1989 votou nos Verdes por achar que na altura eram o partido com a visão mais eurocética próxima da sua. Em 1992, Farage saiu do Partido Conservador, em rota de colisão com John Major, que assinou pelo Reino Unido o Tratado de Maastricht. Este lançou as bases do que é, hoje em dia, a moeda única europeia. No ano seguinte, fundou o Partido para a Independência do Reino Unido (UKIP) e, seis anos depois, era eleito deputado ao Parlamento Europeu..Repetiu o feito nas eleições seguintes, de 2004, 2009 e 2014, nas quais ficou em terceiro, em segundo e em primeiro lugar. Em 2005, foi ele o eurodeputado que apresentou uma moção de censura contra Durão Barroso, depois de o jornal alemão Die Welt ter publicado fotografias do presidente da Comissão Europeia no iate do armador grego Spiros Latsis. Isso surgiu pouco tempo depois de se saber que a Comissão, no tempo de Romano Prodi, aprovara 10,3 milhões de euros em ajudas estatais para a empresa de navios do milionário grego. O PE chumbou a moção de censura. Apesar de considerar que a moção era uma coisa completamente absurda o português teve mesmo de ser interrogado sobre o assunto na eurocâmara..Dez anos depois, em pleno hemiciclo, o britânico insultou Herman van Rompuy, então presidente do Conselho Europeu, afirmando que o belga tinha tanto carisma como uma esfregona. Foi multado em 3 mil euros. Entre uma coisa e outra, ainda tentou roubar o lugar de deputado a John Bercow, o speaker da Câmara dos Comuns do Reino Unido, que ultimamente se popularizou pelos seus gritos de "Order! Order! Order" durante os debates parlamentares sobre o Brexit. Farage, que era líder do UKIP desde 2006, decidiu apresentar-se contra Bercow na circunscrição de Buckingham, apesar de convenção sobre a figura do speaker dizer que ele é uma figura neutra que não pode ser desafiada em eleições..A 4 de julho de 2016, menos de um mês depois do referendo do Brexit, Farage demitiu-se de líder do UKIP e, em 2018, abandonou o partido e juntou-se à campanha do Leave Means Leave. Desde que saiu do UKIP, o partido já teve cinco líderes diferentes, sendo o atual Gerard Batten, também ele atualmente eurodeputado. Farage é também copresidente do Grupo da Europa da Liberdade e da Democracia Direta no Parlamento Europeu, que inclui, entre outros, deputados eurocéticos, populistas e nacionalistas finlandeses, dinamarqueses, eslovacos e holandeses..A batalha pelo Brexit, que Farage tinha prometido reavivar em caso de referendo e retomou, agora, em caso de eleições europeias no Reino Unido, tem rendido bastante ao eurocético britânico. Segundo dados da organização Transparency International, citados pelo The Guardian em julho, o agora líder do Partido do Brexit é, dos 73 eurodeputados britânicos, aquele que mais dinheiro tem arrecadado com atividades extra-Parlamento Europeu. Segundo as próprias declarações de rendimentos apresentadas pelo britânico, entre 2014 e 2018, Farage ganhou entre 590 048 euros e 790 mil euros. O jornal britânico lembra que, em média, um eurodeputado ganha por ano 101 808 euros brutos. Embora o salário do eurocético tenha sofrido cortes para recuperar valores que tinham sido indevidamente utilizados. Uma decisão que, segundo ele, teve motivações políticas..Figura controversa, apoiante declarado do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, Nigel Farage foi nomeado, em 2013, numa votação do jornal Daily Telegraph como o segundo político de direita mais influente, a seguir a David Cameron. E em 2016 foi nomeado pelo jornal TheTimes como O Britânico do Ano e pelo site Politico como um dos cinco eurodeputados mais influentes e um dos oradores mais influentes do Parlamento Europeu.