0,2% apenas, ou seja, 6813 votos separam os sociais-democratas da extrema-direita no resultado oficial das eleições legislativas de domingo na Finlândia. O SDP de Antti Rinne obteve 17,7% dos votos expressos. E 40 deputados. O Partido dos Finlandeses de Jussi Halla-aho teve 17,5% e elegeu 39 deputados num total de 200 no Eduskunta (Parlamento). Pela primeira vez na história da democracia finlandesa nenhum partido teve mais de 20% e o jornal finlandês Ilta-Sanomat classificou o desfecho do escrutínio como "o maior thriller eleitoral de todos os tempos"..No discurso de vitória, Rinne lembrou que os sociais-democratas, de centro-esquerda, ganharam as eleições pela primeira vez desde 1999, ou seja, há duas décadas que não conseguiam a primeira posição. O seu partido encetará agora negociações para tentar encontrar uma coligação de governo. Algo que não se avizinha fácil. Para muitos analistas, a resposta deverá passar por negociações entre os sociais-democratas e os conservadores do Partido da Coligação Nacional (38 deputados), os Verdes (20), a Aliança de Esquerda (16) e os liberais do Partido Popular Sueco da Finlândia (9)..Rinne "foi muito claro sobre a existência de enormes diferenças ideológicas entre os sociais-democratas e os Finlandeses", explicou a jornalista Jeanette Björkgvist, na televisão pública Yle, para frisar que considera "impensável" a participação dos nacionalistas no governo. Mas uma coligação com todos os outros, advertiu, pode levar o país a uma situação como a que se verificou entre 2011 e 2014, em que o então primeiro-ministro conservador Jyrki Katainen acabou afastado ao fim de dois anos pela paralisia da coligação de seis partidos que liderava..Especialmente difícil, considerou a jornalista, citada pela Lusa, será negociar com o Partido do Centro, do primeiro-ministro cessante Juha Sipilä, grande derrotado do escrutínio, com 13,8%, depois de uma campanha marcada por fortes críticas de Rinne às medidas de austeridade de Sipilä. "A austeridade do governo anterior acusou muita desigualdade", disse Rinne, em entrevista recente ao jornal El País. As pessoas na Finlândia "já não suportavam mais a austeridade", declarou, ao mesmo diário, S. M. Amadae, professora de Ciências Sociais da Universidade de Helsínquia. Enquanto o governo de Sipilä, que caiu a 8 de março, quis privatizar a saúde, o social-democrata Rinne prometeu dar 1,5 mil milhões de euros para fortalecer o Estado social. E sem que para isso tenha de cortar nos salários dos trabalhadores finlandeses..O Partido dos Finlandeses de Halla-aho é o herdeiro dos Verdadeiros Finlandeses, que no tempo em que eram liderados por Timo Soini chegaram a pôr em perigo a aprovação do resgate financeiro a Portugal. Mas tal como aconteceu na Alemanha com a AfD, também este partido evoluiu de eurocético para nacionalista e anti-imigração, virado para a extrema-direita. Em 2015, recebeu cerca de 32 mil refugiados, tendo sido um dos países que receberam o maior número per capita e isso criou preocupação nas pessoas. Na repartição de refugiados na UE, por quotas, a Finlândia ficou com 1050 por ano..A extrema-direita finlandesa foi uma das forças que se fez representar em Milão, Itália, quando na semana passada o vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini, tentou forjar uma aliança de nacionalistas e populistas de direita com vista às eleições europeias de 23 e 26 de maio. Salvini, que é também ministro do Interior, lidera a Liga, partido que pode ser o segundo mais votado a nível nacional no escrutínio para o Parlamento Europeu. Hallo-aho, o líder do Partido dos Finlandeses, já foi multado há oito anos por fazer comentários num blogue a relacionar o islão com a pedofilia e os somalis com roubos. Apesar de defender a redução de emissões de CO2, o dirigente quer uma "política moderada para o clima" que "não persiga as indústrias e as desvie da Finlândia para outros países como, por exemplo, a China"..No país mais feliz do mundo, a participação nas eleições foi de 72%, para eleger um Parlamento em que há 47% de mulheres. A igualdade, por que muita gente luta noutros países, é um dado adquirido. 27% da população finlandesa, que são 5,5 milhões de habitantes, ou seja, metade da população de Portugal, é de classe baixa, segundo dados de um estudo recente da OCDE citado esta segunda-feira pelo El País. 5% dos finlandeses são ricos. 68% é de classe média. Com uma carga fiscal elevada, uma população envelhecida, a Finlândia tem uma taxa de desemprego de apenas 6,5%. Mas o descalabro da Nokia, em 2014, deixou marcas profundas, visíveis no PIB. Neste ano, refere o jornal, deverá crescer 1,6,%.