Prevenção e clima favorável permitiram um "ano melhor" nos incêndios

Um ano depois do dia mais negro da história dos fogos em Portugal, 15 de outubro de 2017, o DN foi à procura do que mudou. O governo aponta o reforço na prevenção, mas teve um grande aliado: as condições climatéricas.
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Até este fim de semana, Portugal tinha registado uma área ardida de 42 mil hectares em 2018, valores manifestamente inferiores aos cerca de 500 mil hectares revelados pelo Sistema de Informação Europeu, a 17 de outubro de 2017, dois dias depois do "pior dia do ano", como lhe chamou o primeiro-ministro, a 15 de outubro.

"Mas o ano ainda não acabou. Continuamos a pedir prudência, continua a haver ignições todos os dias. Ainda não estamos em tempo de balanço final", alertou ao DN o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, certo apenas de que "este ano correu melhor". O titular assumiu a pasta já depois do fogo de Pedrógão Grande, onde morreram 66 pessoas, em junho de 2017. Sucedeu a Amândio Torres, na remodelação provocada pelo caso das viagens a França, pagas pela Galp. E por isso já estava em funções a 15 de outubro, quando os ventos fortes e as altas temperaturas propagaram fogo por toda a parte, em especial no distrito de Viseu, no interior-centro (onde morreram 50 pessoas) e no litoral, com a devastação de 86% do Pinhal de Leiria.

E se este ano os fogos deram trégua, o secretário de Estado encontra uma justificação primordial: "Em primeiro lugar foi dada uma maior atenção à prevenção. Todo o esforço feito pelos proprietários florestais e pelos municípios na limpeza da floresta foi absolutamente essencial, porque reduziu a carga de combustível na floresta." Miguel Freitas acrescenta ainda a "toda a rede primária que fomos capazes de fazer, e que em alguns casos demonstrou ser muito importante. Fizemos este ano mais do que aquilo que tinha sido feito nos últimos dez anos", sustenta. Estão planeados em Portugal 11 200 km de rede primária de defesa da floresta contra incêndios, e neste ano o governo fez 1500.

Na prevenção, aponta o reforço nas equipas de sapadores florestais e os novos equipamentos. "Houve uma redução do número de ignições, de ocorrências. Esse trabalho de sensibilização junto das pessoas é um trabalho contínuo, que tem de ser feito numa perspetiva de campanhas nacionais. Gastámos nisso cerca de um milhão de euros", conclui Miguel Freitas, referindo-se a uma verba "que pode parecer avultada, mas que resultou. Serviu para fazermos campanhas de televisão, de rádio, e outras junto dos emigrantes".

O governante reconhece que "houve um tempo meteorológico que também foi favorável", e terá sido um aliado importante na prevenção aos fogos florestais.

Mais meios e mais ágeis

Em resposta ao pedido do DN sobre o que foi feito neste período entre os fogos de 15 de outubro de 2017 e o corrente ano, o Ministério da Administração Interna (MAI) destaca que foi lançada a grande campanha de sensibilização de limpeza e que foi criada uma linha de crédito de 50 milhões para os municípios que tivessem de substituir os proprietários nessas operações. Até este mês, apenas 6,9 milhões de euros foram concedidos a 18 autarquias: Torres Novas, Vagos, Covilhã, Fundão, Pombal, Valença, Vila Nova de Cerveira, Penalva do Castelo, Baião, Águeda, Cadaval, Penela, Sardoal, Viana do Castelo, Arganil, Sever do Vouga, Amarante e Condeixa-a-Nova.

O MAI realça ainda as mais de nove mil ações de sensibilização realizadas pela GNR, além do patrulhamento reforçado, e aponta também a implementação, desde junho, do sistema de SMS. Em 2018 foi utilizado em quatro situações de incêndios rurais, sendo enviado pelas operadoras quando a Proteção Civil emite um alerta vermelho.

No balanço do trabalho efetuado após 15 de outubro de 2017, o ministério dirigido por Eduardo Cabrita destaca o programa Aldeia Segura, em que estiveram envolvidos 1630 aglomerados populacionais, foram elaborados 730 planos de evacuação e identificados 1310 locais de abrigo. Participaram 560 freguesias e 115 municípios, tendo sido realizados 105 simulacros.

Na parte mais operacional, respeitante ao Dispositivo Especial de Combate a Fogos Rurais (DECIR), o MAI frisa que houve reforço de meios humanos e de equipamentos, sendo que a maior mudança em relação a 2017 foi o fim do conceito de fases, "passando a existir um dispositivo permanente que é reforçado consoante a avaliação de risco e dotado de flexibilidade".

Reforço até final do mês

Este ano, "face às previsões meteorológicas para a segunda quinzena de outubro", o MAI decidiu na semana passada reforçar, até ao final do mês de outubro, o DECIR, na linha de pensamento do secretário de Estado Miguel Freitas de que a época de fogos ainda não terminou e é necessário manter os meios operacionais. "O dispositivo terrestre será reforçado com mais 624 bombeiros. Cerca de 500 militares do GIPS da GNR serão empenhados em ações de vigilância e fiscalização. Relativamente aos meios aéreos, vão manter-se disponíveis dez helicópteros ligeiros em regime de locação, três helicópteros ligeiros propriedade do Estado, seis aviões anfíbios médios e três helicópteros pesados", anunciou o ministério, aproveitando a flexibilidade obtida com a eliminação do conceito de fases.

No que se refere ainda a mudanças do ano passado para o atual, nos meios aéreos houve reforço e passaram a estar disponíveis dez helicópteros e quatro aviões anfíbios em permanência. Os postos de vigia passaram a estar ativos entre 7 de maio e 6 de novembro, quando em 2017 se fixava nos limites entre 15 de maio e 30 de setembro.

A GNR, que tem grande importância no combate aos fogos, teve reforço e, segundo o MAI, contou neste ano com mais 600 homens através de novos 500 elementos do GIPS e de cem do SEPNA. No terreno foram colocadas mais 32 câmaras de videovigilância florestal.

No total, entre bombeiros, polícias e técnicos, houve um aumento de meios humanos de 1027 pessoas em relação a 2017, com o reforço a ser igualmente visível nos meios: mais 250 viaturas e mais sete meios aéreos.

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