A frutaria da minha rua pertence ao senhor Chang e à mulher, Li. Chegaram há oito anos e falam um português atrapalhado mas com graça, são de uma eficiência extraordinária e estão abertos todos os dias, das nove da manhã às nove da noite. A frutaria está sempre cheia, de senhoras curvadas inspeccionando couves e nabiças, miúdos de rastas e cães pela trela, turistas americanos, ingleses e franceses, hipsters variados, imigrantes africanos, e até sem-abrigo que vão trocar moedas por pêras e pacotes de vinho..Por entre os legumes e a fruta circula por vezes um miúdo arisco de 6 anos, chama-se Pedro e é filho do Chang e da Li. Sorri muito com os lábios e com os olhos rasgados e é fã do Cristiano. As senhoras chamam-lhe Pedrinho, ou "o chinezito", mas ele abana a cabeça e diz que não, "eu não sou chinês, eu sou português", e pergunta à mãe no que suponho ser mandarim. A senhora Li confirma..Por estes dias pudemos ver o senhor Trump a passear-se pela Europa, espalhando preconceitos e exibindo a sua ignorância, defendendo ideias retrógradas e xenófobas por entre o golfe e o chá com a rainha. Tenho pena de que não tenha vindo à minha rua conhecer a frutaria, teria muito a aprender com o Chang, a Li e, sobretudo com o Pedrinho.. Escritor, escreve diariamente online