Com Jacinda não se brinca, com a covid também não
Lembra-se de Jacinda Ardern, a primeira-ministra neozelandesa que ganhou a admiração ao ter um bebé já no cargo (depois de se ter zangado durante a campanha com as perguntas sobre os seus planos de maternidade) e pedir ao marido para ser ele a tirar o essencial da licença? E que também foi extraordinária a conciliar a sociedade depois de um extremista ter atacado duas mesquitas e matado mais de 50 muçulmanos? E depois se destacou pela forma decidida como combateu a covid-19? Ora, Jacinda continua uma mulher de armas: agora ordenou o confinamento total (tirando farmácias e supermercados) em Auckland durante três dias após terem surgido três novos casos, com os infetados a serem um casal e a filha. Não brinca em serviço esta governante. E faz muito bem.
Até hoje, a Nova Zelândia registou 2300 casos de covid-19 e 25 mortes. Comparemos com os números de Portugal relativos só a ontem e tiremos conclusões sobre o sucesso neozelandês: tivemos 1667 infetados e 138 mortos, os valores mais baixos desde o Natal e em um mês respetivamente. Claro que ser um arquipélago defende muito a Nova Zelândia do vírus, tal como defende Taiwan, Islândia e Singapura, outros casos de ilhas tidos como de sucesso em travar a pandemia.
Mas aqui em causa está a determinação de Jacinda e os custos que está disposta a assumir (a confederação empresarial diz que fechar Auckland durante três dias, ou seja uma cidade de dois milhões num país de cinco, custa perto de 200 milhões de euros). A mulher infetada trabalha nos serviços de refeição da Air New Zealand e terá pois tido algum contacto com o exterior. O objetivo é evitar que, por causa deste caso isolado, o mar deixe de ser a proteção que foi até agora. Esperemos que seja bem-sucedida a primeira-ministra da Nova Zelândia. E todos os governantes e povos percebam o exemplo. Não se brinca com a covid-19. Num dia são três casos, no dia seguinte nunca se sabe.
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