Nasceu em Macau - sob administração portuguesa -, mas foi do outro lado do delta do rio das Pérolas, em Hong Kong, que cresceu como artista, sendo uma das mais reconhecidas faces do showbizz da região. Aos 65 anos, Maria Cordero, de ascendência portuguesa do lado paterno, é conhecida pelo epíteto Fat Mama..A família mudou-se para a então colónia britânica quando Cordero tinha 10 anos. E cedo começou a trabalhar - foi telefonista e caixa de supermercado durante o dia e baixista numa banda à noite. O talento culinário foi notado quando cozinhava e preparava refeições para trabalhadores de escritórios. Não é por acaso que mais tarde foi apresentadora de três programas de culinária na televisão. Nas últimas três décadas deu passos no grande ecrã, tendo entrado em mais de quatro dezenas de filmes..Todavia, a popularidade da cantora, atriz e apresentadora de televisão caiu a pique nos últimos meses, pelo menos junto do movimento antigoverno que há 18 semanas consecutivas se manifesta nas ruas de Hong Kong. A 20 de julho, Cordero falou num evento de apoio à polícia de Hong Kong, em que acusou deputados pró-democracia de iludir os jovens manifestantes, encorajando-os a cometer atos de vandalismo e a prejudicar a ordem pública..Ao mesmo tempo, Cordero elogiou a atuação da polícia e fez um apelo aos cidadãos para voarem em políticos "responsáveis" que apoiem as autoridades. O discurso no entanto acabou por ser truncado e usado por ativistas antigoverno para uma música antipolícia. A canção Fat Mama Has Something To Say tornou-se viral, sendo entoada por manifestantes quando estes cercavam esquadras de polícia. A vida da artista complicou-se, com espetáculos a ser cancelados. Em entrevista ao jornal de Ming Pao, confessou estar a recorrer a auxílio psiquiátrico. "Porque é que estes jovens estão a destruir a minha cidade?", questionou. "Estou a enlouquecer", afirmou..Há cinco anos, por altura do Movimento dos Guarda-Chuvas que levou à ocupação por 79 dias de zonas de Hong Kong por jovens manifestantes pró-democracia, Cordero posicionava-se de forma diferente, insurgindo-se contra a violência policial sobre os estudantes. Na memória da cantora macaense estão os incidentes de 1967, quando motins pró-comunistas assolaram a então colónia britânica. Na altura morreram cerca de 50 pessoas em resultado dos confrontos com a polícia..A crise de 2019 resultante da lei de extradição colocou pressão sobre figuras públicas, tendo dividido o popular universo de cantores cantopop da cidade. Cordero é um dos rostos dos artistas que nas primeiras semanas se mobilizaram para apoiar as autoridades..O ator de ação Jackie Chan é outro dos pilares do entretenimento do campo pró-Pequim. Chan afirmou ser um "portador da bandeira nacional", tendo criticado severamente os manifestantes que desfiguraram símbolos nacionais, incluindo bandeiras nacionais que têm sido atiradas ao rio ou mesmo queimadas..Mas os apoiantes antigoverno também têm as suas estrelas pop: a mais destacada é Denise Ho, que em 2014 se colocara ao lado dos protestos. Agora, Ho foi mais longe e dirigiu-se a uma sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU argumentando que Hong Kong "é provavelmente o único lugar no mundo que está a enfrentar o enorme poder que é atualmente a China", num discurso que foi interrompido pelo representante da China, numa altura em que a cantora defendia que a lei de extradição iria "remover o mecanismo que protege Hong Kong da interferência do governo chinês".. * Jornalista da Plataforma Media Macau