Foi presença quase diária nas notícias durante meses, mas nas últimas semanas quase desapareceu do radar noticioso. Consumado o divórcio com o Livre, posto um ponto final nas querelas com a direção do partido, Joacine passou a deputada não inscrita. Perdeu direitos, tempo de intervenção no Parlamento, orçamento e visibilidade. "Ironicamente, e apesar de hoje ter menos cobertura mediática, consigo trabalhar de forma mais célere e com resultados concretos", contrapõe a deputada, defendendo que o seu trabalho enquanto deputada do Livre foi "pouco conhecido devido ao ruído mediático" que se criou à sua volta, "também alimentado pelo partido"..Há uma mudança que simboliza a nova vida parlamentar de Joacine Katar Moreira, que no início de fevereiro passou da segunda fila para a quinta e última fila do hemiciclo. Também deixou de falar nos debates quinzenais com o primeiro-ministro. Condicionantes que Joacine não releva. "Sinceramente, não é por aí, ou por estar sentada onde estou, que está a diferença ou o problema. A intervenção no plenário é importante, mas é uma pequena parte do trabalho parlamentar. É aquela que dá mais visibilidade, mas é nas comissões e nos grupos de trabalho que se fazem os debates mais profundos e impactantes sobre aquilo que afeta as pessoas e as famílias"..Desde que passou a independente, no início de fevereiro, Joacine Katar Moreira não apresentou novas iniciativas legislativas, sejam projetos de lei ou projetos de resolução. Na atividade que consta dos registos parlamentares, conta um requerimento ao Ministério da Administração Interna sobre "abuso de poder e violência policial", pedindo informações sobre casos que podem configurar situações de discriminação em Lisboa, Porto e Setúbal.. Ao DN, diz que "uma das principais dificuldades de ser [deputada] não inscrita e não ter assento na Conferência de Líderes é exatamente a dificuldade de agendamento de iniciativas legislativas" - que têm de ser "negociadas com outros partidos". "Ou então tentar outras vias de apresentação que normalmente exigiriam uma máquina partidária por trás de mim de que não disponho", diz a parlamentar agora independente, acrescentando que está a trabalhar no sentido de apresentar "pacotes legislativos" e não apenas propostas avulsas. Outra consequência de não ter agora filiação partidária foi o corte de "cerca de 60%" no orçamento para o seu gabinete de apoio. "É brutal. Não foi uma surpresa, mas tem sido duro lidar com este revés", refere a parlamentar, que tem agora como apoio um assessor a tempo inteiro "com uma grande redução do salário" e duas assessoras em regime de tempo parcial. Na transição de deputada única de um partido para independente, Joacine perdeu 5067 euros mensais na verba destinada à assessoria e comunicações do gabinete, recebendo agora pouco mais de 4700 euros mensais.."A Assembleia da República não está preparada para deputados únicos e muito menos para não inscritos. Toda a estrutura assenta nos grupos parlamentares enquanto base para o trabalho legislativo", aponta, sem ver grande razão - "tenho menos direitos do que os deputados únicos e restrições sem grande sentido, a não ser o político, que só tendem a afetar a lógica democrática".. E do outro lado?.No Livre, a perda de notoriedade era esperada e é assumida. "Temos essa consciência", diz Pedro Mendonça, membro do grupo de contacto (a direção do partido), mas sem olhar para trás -"zero arrependimento" da decisão tomada. Na sequência do corte com Joacine Katar Moreira, vários militantes deixaram o partido - segundo este dirigente, foram menos de dez, mas houve também novas inscrições. Feitas as contas, "o saldo é positivo", garante. No entretanto, o Livre dedicou-se a "preparar os núcleos territoriais" que vão trabalhar nas próximas eleições autárquicas. Ao contrário da deputada, o Livre não sofreu qualquer corte na subvenção que é atribuída aos partidos e quer aproveitar a "folga" financeira para uma campanha mais robusta nas próximas eleições locais, em outubro do próximo ano..Logo no início do mês, o Livre também criou um grupo de reflexão sobre... eleições primárias, o mecanismo que levou à escolha de Joacine Katar Moreira como candidata às legislativas. O objetivo, diz Pedro Mendonça, é "afinar" o método de eleição: "As primárias não vão ser postas em causa. Mas que vamos mudá-las, vamos."
Foi presença quase diária nas notícias durante meses, mas nas últimas semanas quase desapareceu do radar noticioso. Consumado o divórcio com o Livre, posto um ponto final nas querelas com a direção do partido, Joacine passou a deputada não inscrita. Perdeu direitos, tempo de intervenção no Parlamento, orçamento e visibilidade. "Ironicamente, e apesar de hoje ter menos cobertura mediática, consigo trabalhar de forma mais célere e com resultados concretos", contrapõe a deputada, defendendo que o seu trabalho enquanto deputada do Livre foi "pouco conhecido devido ao ruído mediático" que se criou à sua volta, "também alimentado pelo partido"..Há uma mudança que simboliza a nova vida parlamentar de Joacine Katar Moreira, que no início de fevereiro passou da segunda fila para a quinta e última fila do hemiciclo. Também deixou de falar nos debates quinzenais com o primeiro-ministro. Condicionantes que Joacine não releva. "Sinceramente, não é por aí, ou por estar sentada onde estou, que está a diferença ou o problema. A intervenção no plenário é importante, mas é uma pequena parte do trabalho parlamentar. É aquela que dá mais visibilidade, mas é nas comissões e nos grupos de trabalho que se fazem os debates mais profundos e impactantes sobre aquilo que afeta as pessoas e as famílias"..Desde que passou a independente, no início de fevereiro, Joacine Katar Moreira não apresentou novas iniciativas legislativas, sejam projetos de lei ou projetos de resolução. Na atividade que consta dos registos parlamentares, conta um requerimento ao Ministério da Administração Interna sobre "abuso de poder e violência policial", pedindo informações sobre casos que podem configurar situações de discriminação em Lisboa, Porto e Setúbal.. Ao DN, diz que "uma das principais dificuldades de ser [deputada] não inscrita e não ter assento na Conferência de Líderes é exatamente a dificuldade de agendamento de iniciativas legislativas" - que têm de ser "negociadas com outros partidos". "Ou então tentar outras vias de apresentação que normalmente exigiriam uma máquina partidária por trás de mim de que não disponho", diz a parlamentar agora independente, acrescentando que está a trabalhar no sentido de apresentar "pacotes legislativos" e não apenas propostas avulsas. Outra consequência de não ter agora filiação partidária foi o corte de "cerca de 60%" no orçamento para o seu gabinete de apoio. "É brutal. Não foi uma surpresa, mas tem sido duro lidar com este revés", refere a parlamentar, que tem agora como apoio um assessor a tempo inteiro "com uma grande redução do salário" e duas assessoras em regime de tempo parcial. Na transição de deputada única de um partido para independente, Joacine perdeu 5067 euros mensais na verba destinada à assessoria e comunicações do gabinete, recebendo agora pouco mais de 4700 euros mensais.."A Assembleia da República não está preparada para deputados únicos e muito menos para não inscritos. Toda a estrutura assenta nos grupos parlamentares enquanto base para o trabalho legislativo", aponta, sem ver grande razão - "tenho menos direitos do que os deputados únicos e restrições sem grande sentido, a não ser o político, que só tendem a afetar a lógica democrática".. E do outro lado?.No Livre, a perda de notoriedade era esperada e é assumida. "Temos essa consciência", diz Pedro Mendonça, membro do grupo de contacto (a direção do partido), mas sem olhar para trás -"zero arrependimento" da decisão tomada. Na sequência do corte com Joacine Katar Moreira, vários militantes deixaram o partido - segundo este dirigente, foram menos de dez, mas houve também novas inscrições. Feitas as contas, "o saldo é positivo", garante. No entretanto, o Livre dedicou-se a "preparar os núcleos territoriais" que vão trabalhar nas próximas eleições autárquicas. Ao contrário da deputada, o Livre não sofreu qualquer corte na subvenção que é atribuída aos partidos e quer aproveitar a "folga" financeira para uma campanha mais robusta nas próximas eleições locais, em outubro do próximo ano..Logo no início do mês, o Livre também criou um grupo de reflexão sobre... eleições primárias, o mecanismo que levou à escolha de Joacine Katar Moreira como candidata às legislativas. O objetivo, diz Pedro Mendonça, é "afinar" o método de eleição: "As primárias não vão ser postas em causa. Mas que vamos mudá-las, vamos."