Depois de Azovstal, Azot. Centenas de civis presos em fábrica química
Os números não são tão elevados, mas o paralelismo com a siderurgia de Mariupol, Azovstal, é inevitável: segundo o governador da região de Lugansk, o complexo químico Azot, em Severodonetsk, abriga cerca de 500 civis num momento em que as tropas ucranianas retiraram do centro da cidade e não há saídas depois da destruição de todas as pontes. Kiev volta a pedir armas pesadas para impedir o avanço russo no Donbass.
Na véspera, Sergiy Gaiday alertara que os russos têm como objetivo "isolar completamente a cidade e impedir a saída das pessoas". Na segunda-feira, essa meta estava próxima de ser atingida, com o controlo de 70% a 80% de Severodonetsk por parte das forças russas, mas, disse, não a tinham capturado ou cercado. "Destruíram todas as pontes, e a entrada na cidade já não é possível. A retirada também não é possível", disse à Radio Free Europe.
Nas redes sociais, Gaiday destacou o facto de os russos demonstrarem "uma vantagem significativa na artilharia", tendo com isso "empurrado para trás os soldados ucranianos". O governador disse ainda que entre os cerca de 500 civis que permanecem nos terrenos da fábrica Azot, 40 são crianças. "Por vezes os militares conseguem retirar alguém", acrescentou.
As últimas áreas ainda sob controlo ucraniano na região de Lugansk, as cidades de Severodonetsk e Lysychansk têm sido alvo há semanas dos russos que pretendem daí avançar para Sloviansk e outra grande cidade, Kramatorsk, essenciais para a conquista do Donbass.
Um representante dos separatistas pró-russos, Eduard Basurin, disse que as forças ucranianas na região tinham duas opções: "render-se ou morrer". Já o presidente ucraniano descreveu uma luta por "cada metro, literalmente" na cidade que tinha cem mil habitantes antes da invasão russa. Além disso, as forças ucranianas estão a lutar por "todas as cidades e aldeias onde os ocupantes chegaram", disse Volodymyr Zelensky numa mensagem para assinalar o oitavo aniversário da libertação de Mariupol, cidade que foi alvo de um cerco brutal desde março e que acabou com a tomada dos russos, em maio.
Para Mykhailo Podalyak, conselheiro de Zelensky, só há uma saída: receber mais armas pesadas por parte dos países ocidentais. "Sendo direto: para acabar com a guerra precisamos de paridade de armas pesadas", escreveu no Twitter, onde listou o número pretendido: 1000 obuses , 300 sistemas móveis de lançamento múltiplo de foguetes (MLRS), 500 tanques, 2000 veículos blindados e 1000 drones.
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Números que parecem pouco realistas, pelo menos no curto prazo. Kiev recebeu 90 obuses dos EUA e no início do mês o presidente norte-americano Joe Biden anunciou o envio de um número não determinado de MLRS; a Polónia entretanto anunciou que vai adquirir 500 aos EUA, num acordo que assegura parte da produção em território polaco. Sem se comprometer com números em concreto, o secretário da Defesa dos EUA Lloyd Austin disse que o seu país "está disposto a fornecer tudo e e a ajudar a Ucrânia a ser bem-sucedida".
As consequências da escalada militar de parte a parte estão à vista, mas outras ainda estão por desocultar. Segundo a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, a Rússia está a utilizar a guerra contra a Ucrânia para testar novas armas que ainda estão a ser alvo de investigação e desenvolvimento. Hanna Maliar acusou a Rússia de utilizar armas proibidas ao abrigo do direito internacional.
Já o presidente da Finlândia Sauli Niinisto disse que ambos os beligerantes estão a utilizar armas mais pesadas do que nas fases anteriores da guerra. No caso da Rússia, disse Niinisto, isto significa o uso de bombas termobáricas. "Estamos a apoiar a Ucrânia com armamento cada vez mais pesado. E por outro lado, a Rússia também começou a utilizar armas muito poderosas, bombas termobáricas, que são de facto armas de destruição maciça", disse o chefe de Estado do país que, junto com a Suécia, pediu a adesão à NATO.
Também conhecidas como bombas de vácuo, as armas termobáricas são muito mais devastadoras do que os explosivos convencionais.
Os comissários europeus reuniram-se à porta fechada em Bruxelas para debater a posição do braço executivo da UE sobre a admissão da Ucrânia, Moldávia e Geórgia como países candidatos à adesão ao bloco. Na sexta-feira, Ursula von der Leyen deverá anunciar as conclusões, não vinculativas, da Comissão: a decisão será tomada no próximo Conselho Europeu, que irá juntar os chefes de Estado e de governo nos dias 23 e 24, e terá de ser tomada por unanimidade.
Segundo o El País, "quase todos os comissários concordaram com a decisão de reconhecer as candidaturas ucranianas e moldavas". Já a Geórgia não terá recolhido apoios suficientes para se juntar aos candidatos Albânia, Macedónia do Norte, Montenegro, Sérvia e Turquia. "Espero que dentro de 20 anos, quando olharmos para trás, possamos dizer que fizemos a coisa certa", disse a presidente da Comissão, no sábado, ao visitar Kiev.
cesar.avo@dn.pt