Vice é a história da ascensão de Dick Cheney, dos seus dias de bebedeiras na América interior, da intervenção na administração Nixon, focando-se na maneira como mandou na governação George W. Bush quando era vice-presidente. O guião do filme foi inteiramente escrutinado por uma equipa de advogados. Anda aos ziguezagues temporais, tem elipses fantasiosas e manda às urtigas os cânones dos biopics. Chega-se mesmo a imaginar uma realidade paralela: um mundo sem Dick Cheney a mandar nos EUA.. Vice tornou-se um filme muito mediático - com ante-estreia em Portugal, na semana passada, recheada de jornalistas e políticos. Tal como todo o cinema de Adam McKay (autor de comédias com Will Ferrel e de A Queda de Nova Iorque, sobre o crash da bolsa americana), o humor é uma das tónicas dominantes deste filme, ainda que por vezes se sinta que o tom caricatural o impeça de articular melhor um discurso sobre os meandros da política nacional e internacional do mandato de George W. Bush (interpretado em tom grosso por Sam Rockwell, de novo nomeado para o Óscar de ator secundário, logo após no ano passado ter vencido por Três Cartazes à Beira da Estrada)..É como se a distanciação em relação à realidade fizesse da mensagem deste filme apenas um engenhoso petardo liberal - com ressonâncias para a atual presidência de Donald Trump. Dick Cheney é visto como um vilão à antiga: silencioso, perigoso e implacável, mesmo para Donald Rumsfeld, o homem que o colocou na Casa Branca. Intrigas, esquemas e alianças: tudo está lá mas com uma certa carga de chico-espertice que prejudica imenso o resultado final. Isto apesar de ficarem expostas questões vitais em relação à escolha que Cheney fez do que seriam os alvos internacionais dos EUA, em especial em torno do negócio da guerra no Iraque..Tal como no filme W., de Oliver Stone, a governação dos republicanos entusiasma o cinema americano, de tendências liberais. Neste filme de Adam McKay, o então presidente George W. Bush é visto como um cowboy a governar para impressionar o pai, sem ideias nem pulso firme, sempre à mercê de Dick Cheney, descrito como um criminoso de guerra e o maior responsável pela morte de milhares soldados americanos nas campanhas da guerra..De forma direta, o argumento do filme incide na culpa de Cheney na estratégia bélica dos EUA: pretende demonstrar como, no governo de George W. Bush, os atentados do 11 de setembro terão sido encarados como uma oportunidade e não como uma calamidade..E no ninho de vespas de Cheney, McKay pinta também uma corte podre do poder americano. Rummy, Donald Rumsfeld, fazia tudo o que Cheney queria e Antonin Scalia ou Roger Ailes limitavam-se a controlar todos os esquemas de jogo de influências do vice-presidente..O momento em que Scalia ajuda Cheney com a Unitery Executive Theory é das situações mais emblemáticas do filme. Ou seja, o momento em que se cria a aplicação da lei que, basicamente, afirma que nada daquilo que o presidente decide é ilegal, não podendo ser assim debatido perante a lei..Na conferência de imprensa do Festival de Cinema de Berlim, o actor Christian Bale salientou o poder da mulher de Cheney, Lynne, que no filme tem uma importância grande na maneira como ajuda o marido a recuperar do período de problemas com o álcool e nas decisões mais importantes, em especial no apoio à filha gay. "Lynne deu a Dick toda a sua ambição. De alguma maneira, foi o seu avatar", disse bem alto o ator britânico. Sobre a sua nomeação para o Oscar, desvalorizou esta corrida: "Apenas interessa para se falar e promover o filme. Estou muito orgulhoso do filme."
Vice é a história da ascensão de Dick Cheney, dos seus dias de bebedeiras na América interior, da intervenção na administração Nixon, focando-se na maneira como mandou na governação George W. Bush quando era vice-presidente. O guião do filme foi inteiramente escrutinado por uma equipa de advogados. Anda aos ziguezagues temporais, tem elipses fantasiosas e manda às urtigas os cânones dos biopics. Chega-se mesmo a imaginar uma realidade paralela: um mundo sem Dick Cheney a mandar nos EUA.. Vice tornou-se um filme muito mediático - com ante-estreia em Portugal, na semana passada, recheada de jornalistas e políticos. Tal como todo o cinema de Adam McKay (autor de comédias com Will Ferrel e de A Queda de Nova Iorque, sobre o crash da bolsa americana), o humor é uma das tónicas dominantes deste filme, ainda que por vezes se sinta que o tom caricatural o impeça de articular melhor um discurso sobre os meandros da política nacional e internacional do mandato de George W. Bush (interpretado em tom grosso por Sam Rockwell, de novo nomeado para o Óscar de ator secundário, logo após no ano passado ter vencido por Três Cartazes à Beira da Estrada)..É como se a distanciação em relação à realidade fizesse da mensagem deste filme apenas um engenhoso petardo liberal - com ressonâncias para a atual presidência de Donald Trump. Dick Cheney é visto como um vilão à antiga: silencioso, perigoso e implacável, mesmo para Donald Rumsfeld, o homem que o colocou na Casa Branca. Intrigas, esquemas e alianças: tudo está lá mas com uma certa carga de chico-espertice que prejudica imenso o resultado final. Isto apesar de ficarem expostas questões vitais em relação à escolha que Cheney fez do que seriam os alvos internacionais dos EUA, em especial em torno do negócio da guerra no Iraque..Tal como no filme W., de Oliver Stone, a governação dos republicanos entusiasma o cinema americano, de tendências liberais. Neste filme de Adam McKay, o então presidente George W. Bush é visto como um cowboy a governar para impressionar o pai, sem ideias nem pulso firme, sempre à mercê de Dick Cheney, descrito como um criminoso de guerra e o maior responsável pela morte de milhares soldados americanos nas campanhas da guerra..De forma direta, o argumento do filme incide na culpa de Cheney na estratégia bélica dos EUA: pretende demonstrar como, no governo de George W. Bush, os atentados do 11 de setembro terão sido encarados como uma oportunidade e não como uma calamidade..E no ninho de vespas de Cheney, McKay pinta também uma corte podre do poder americano. Rummy, Donald Rumsfeld, fazia tudo o que Cheney queria e Antonin Scalia ou Roger Ailes limitavam-se a controlar todos os esquemas de jogo de influências do vice-presidente..O momento em que Scalia ajuda Cheney com a Unitery Executive Theory é das situações mais emblemáticas do filme. Ou seja, o momento em que se cria a aplicação da lei que, basicamente, afirma que nada daquilo que o presidente decide é ilegal, não podendo ser assim debatido perante a lei..Na conferência de imprensa do Festival de Cinema de Berlim, o actor Christian Bale salientou o poder da mulher de Cheney, Lynne, que no filme tem uma importância grande na maneira como ajuda o marido a recuperar do período de problemas com o álcool e nas decisões mais importantes, em especial no apoio à filha gay. "Lynne deu a Dick toda a sua ambição. De alguma maneira, foi o seu avatar", disse bem alto o ator britânico. Sobre a sua nomeação para o Oscar, desvalorizou esta corrida: "Apenas interessa para se falar e promover o filme. Estou muito orgulhoso do filme."