Enquanto se desconhece até quando durará o amuo de Donald Trump devido à derrota eleitoral, Joe Biden e Kamala Harris prosseguem como se nada fosse: constituíram a equipa de transição, composta por cinco centenas de especialistas nas diversas áreas, e o antigo vice-presidente de Barack Obama fez a primeira nomeação. Pelo meio tem falado com alguns líderes mundiais, incluindo o Papa Francisco.."Já estamos a iniciar a transição. Estamos bem encaminhados. O facto de não estarem dispostos a reconhecer que ganhámos não é de grande importância", minimizou Joe Biden..O futuro chefe de gabinete da Casa Branca foi revelado na quarta-feira à noite e a notícia teve o condão de não causar surpresa. É Ron Klain, um antigo conselheiro de Joe Biden, com experiência de décadas em Washington.."Ron tem sido inestimável para mim ao longo dos muitos anos em que trabalhámos juntos, inclusive quando resgatámos a economia americana de uma das piores crises da nossa história em 2009 e, mais tarde, superámos uma assustadora emergência de saúde pública em 2014", disse Biden numa declaração. "A sua profunda e variada experiência e capacidade de trabalhar com pessoas de todo o espectro político é precisamente o que preciso no chefe de gabinete da Casa Branca enquanto enfrentamos este momento de crise e voltamos a unir o nosso país", concluiu..Klain, de 59 anos, começou a trabalhar com Biden no Senado, ainda no final dos anos 80 e tem um longo e reconhecido currículo na assessoria de topo. Foi chefe de gabinete do vice-presidente Al Gore e também de Biden e além de ter participado nesta campanha também esteve nas de Bill Clinton, Gore, John Kerry, Barack Obama e Hillary Clinton..Foi ao aceitar participar na campanha da ex-secretária de Estado que Klain se afastou da órbita de Biden e a relação terá esfriado. O conselheiro aceitou o convite de Hillary quando Biden estava de luto pela morte do filho Beau e ainda não se decidira quanto a uma candidatura. Mas após a derrota da candidata democrata, Biden e Klain reuniram-se e ultrapassaram eventuais mágoas..Klain, que também preparou os debates dos referidos candidatos presidenciais, voltou à Casa Branca no segundo mandato de Obama como coordenador da resposta ao Ébola..A escolha de Klain dá o tom do que pretende Biden para a sua presidência: experiência, fiabilidade e segurança, o oposto do que foi o mandato de Donald Trump..Segundo o Washington Post, a estrutura interna da Casa Branca voltará a ter uma única chefia, embora esteja rodeada por altos funcionários que também têm relações diretas com o presidente. E a aposta nessas posições de topo deverá recair em Mike Donilon, um dos autores da estratégia de campanha de Biden, e Steve Ricchetti, o diretor da campanha, segundo fontes confidenciaram ao Post..Antes desta nomeação, Joe Biden deu a conhecer, na página Build Back Better, a equipa de transição. São 500 pessoas, peritos nas mais diversas áreas, do ambiente ao espaço, da economia à segurança nacional, e que têm como missão reunir informação sobre cada departamento e respetivas agências, ao nível de recursos humanos, de diretrizes, e de recursos técnicos e tecnológicos para que cada secretário e restante pessoal nomeado (umas 4000 pessoas) esteja preparado desde o primeiro dia..Não são poucos os peritos que trabalharam na administração de Barack Obama, embora não tenha sido esse o critério, mas o currículo na área de especialização. Nota-se também uma preocupação na igualdade de género e na diversidade étnica nestes especialistas que, na sua larga maioria, se voluntariaram para a tarefa. Esse voluntarismo, nalguns casos, terá a sua recompensa. É comum que uma parte desta equipa faça parte da nova administração..Cabe à agência federal Administração de Serviços Gerais (GSA) sinalizar a "aparente vitória" de um candidato para que este disponha de fundos (este ano quase 10 milhões de dólares) e acesso físico aos departamentos, agências e acessos de segurança e contas de email, linhas telefónicas seguras e tradutores para telefonemas da dupla eleita para com os líderes do resto do mundo. Também é da praxe que o presidente eleito receba passe a receber relatórios dos serviços secretos..Transição. Administração Trump em modo de bloqueio.Mas a administradora da GSA, Emily Murphy, nomeada por Donald Trump, terá recebido indicações para não avançar com a transferência burocrática de poder..Resultado: impedidos de lidar diretamente com os funcionários em serviço, os membros da equipa de transição estão a trabalhar através de canais informais para saber o que se passa na administração, ao recolherem informação pública nas comissões do Congresso, e ao falarem com outros peritos, mas principalmente com ex-funcionários das agências federais, um manancial, uma vez que a administração Trump foi marcada por um constante entra-e-sai.."Podemos não estar a fazer contacto formal, mas o trabalho de transição continua a avançar a toda a velocidade", disse um membro da equipa de cinco centenas de pessoas..Dado o tiro de partida com a nomeação do chefe de gabinete, e marcado o tom com essa escolha e com o perfil da equipa de transição, já se fazem apostas sobre quem vai formar a equipa governamental..Em 2008, quando Barack Obama vence as eleições, depara-se com a enorme crise financeira e económica que teve proporções mundiais. Para dar um sinal de que essa seria a sua prioridade, a primeira nomeação foi a do secretário do Tesouro, Timothy Geithner, um nome acima de qualquer suspeita. Desta vez a prioridade deverá ser a Saúde, devido à pandemia. Para o Departamento da Saúde, a governadora do Novo México Michelle Lujan Grisham, que não poupou esforços na luta contra o coronavírus, compete com a secretária da Saúde da Carolina do Norte, a médica Mandy Cohen..Mas as consequências económicas da pandemia também exigem cuidados redobrados na equipa económica. O favoritismo para a secretaria do Tesouro vai para Lael Brainard, de 58 anos. A atual governadora da Reserva Federal alia experiência política (foi conselheira de Bill Clinton, subsecretária de Estado, subsecretária do Tesouro com a pasta dos Assuntos Internacionais durante a administração Obama) e técnica. É bem vista entre os democratas e tem um perfil que não deve causar problemas na confirmação pelo Senado - caso este continue com maioria republicana. A confirmar-se, Brainard fará história como a primeira mulher no cargo..Mas há mais mulheres na lista: a ex-candidata e senadora Elizabeth Warren, a empresária Mellody Hobson, a ex-presidente da Reserva Federal Janet Yellen, e a ex-governadora da Reserva Federal Sarah Bloom Raskin. Do lado masculino, dois nomes: Roger Ferguson e Raphael Bostic, sendo este o primeiro afro-americano a dirigir uma Reserva Federal regional, Atlanta no caso..O Departamento de Estado tem a espinhosa missão de contribuir para a reconstrução de pontes com os aliados e de manter adversários e inimigos à distância de segurança. Susan Rice, de 55 anos, perfila-se como sucessora de Mike Pompeo. Nas semanas anteriores à escolha de Kamala Harris para candidata à vice-presidência, Susan Rice ganhou preponderância por parte de alguns grupos de Washington. Rice não escondeu o desejo de fazer parte da equipa de Joe Biden, no que seria um reencontro. Enquanto Biden era vice de Obama, Rice foi conselheira de segurança nacional. Já conhecia os cantos à Casa Branca, uma vez que ali trabalhou entre 1993 e 2001, nos mandatos de Bill Clinton..No entanto, Rice foi vítima de uma campanha por parte dos republicanos na sequência do ataque ao consulado dos EUA em Bengazi, na Líbia, um tema que pode dificultar a sua confirmação, caso o Senado continue em mãos republicanas. Outras opções para o lugar passam pelos senadores Chris Coons e Chris Murphy..Para o lugar de conselheiro de segurança nacional é esperado o nome de Anthony Blinken, outro conselheiro de longa data de Joe Biden. Blinken fez parte do Conselho de Segurança Nacional durante a administração Clinton e chegou a subsecretário de Estado de Obama..Na Defesa, outra mulher pode fazer história e tomar as rédeas: Michèlle Flournoy. Era a escolha de Hillary Clinton e tudo indica que está na pole position para vencer a corrida. Flournoy, que foi a número 3 do Pentágono durante a administração Obama, advoga uma "revisão global" da distribuição de tropas, e mostrou-se contra a anunciada saída de milhares de soldados norte-americanos da Alemanha. Flournoy defende também uma posição dura em relação à China e uma aposta nas novas tecnologias..Outra hipótese para o Pentágono é a senadora Tammy Duckworth, a veterana que perdeu ambas as pernas da guerra no Iraque. Foi dada como possível número 2 de Biden. É uma crítica de Trump, em especial da sua relação com Vladimir Putin. Tammy Duckworth é também mencionada para o cargo de secretária do assuntos dos Veteranos..O ex-candidato e senador Bernie Sanders, diz o New York Times, gostaria de ser o secretário do Departamento do Trabalho, tendo já discutido com Joe Biden essa possibilidade..Outros nomes falados para o cargo são Julie Su, que desempenha o cargo a nível estadual, na Califórnia, o representante pelo Michigan Andy Levin e o ex-subsecretário do Trabalho de Obama Seth Harris..Para a Habitação, as probabilidades de que o cargo vá para um afro-americano são altas, a crer nas listas de favoritos: a congressista Karen Bass e a mayor de Atlanta Keisha Lance Bottoms (ambas figuraram na lista de possíveis vice-presidentes), mas também Maurice Jones, que trabalhou no departamento no tempo de Obama, e o ex-autarca de Jacksonville, Alvin Brown..Refira-se ainda que Pete Buttigieg e Amy Klobuchar, outros ex-candidatos nas primárias democratas, também estão nas listas de potenciais integrantes da administração. O primeiro como embaixador dos EUA nas Nações Unidas, a segunda como secretária da Agricultura.