Depois de uma carreira dedicada à Justiça, Ekaterina Sakellaropoulou toma posse nesta sexta-feira como presidente da Grécia. Será a primeira mulher a ocupar o cargo no país que figura em último dentro da União Europeia no que diz respeito à igualdade de género..A juíza independente Sakellaropoulou, que desde 2018 era presidente do Conselho de Estado (o Supremo Tribunal Administrativo grego), substitui o conservador Prokopis Pavlopoulos, no cargo desde março de 2015..Toma posse numa cerimónia às 11.00 locais no Parlamento grego, mas a tradicional cerimónia de cumprimentos prevista para sábado foi cancelada por causa do coronavírus. Na segunda-feira, Sakellaropoulou disse que a decisão foi tomada "tendo em conta a necessidade de um esforço coletivo e responsabilidade para responder à epidemia", que entretanto se tornou pandemia..A Grécia ordenou o fecho das escolas, proibiu eventos com mais de mil pessoas e cancelou a meia-maratona de Atenas. Nesta quinta-feira, o país contava com 133 casos, tendo morrido nesse mesmo dia a primeira pessoa com o covid-19 - um homem de 66 anos que fazia parte do grupo de 56 que ficou infetado após uma visita à Terra Santa..De juíza a presidente.Nascida em Salonica em 1956, Sakellaropoulou seguiu as pisadas do pai, magistrado e vice-presidente da mais alta instância judicial grega, estudando Direito na Universidade de Atenas e também na Sorbonne, em Paris. A juíza está desde meados de 1980 no Conselho de Estado, o Supremo Tribunal Administrativo grego, ascendendo ao cargo de juíza conselheira em 2000. Desde outubro de 2018 presidia a este órgão, tendo sido também a primeira mulher a assumir esse cargo..Sakellaropoulou foi eleita presidente a 22 de janeiro pelo Parlamento grego, depois de ter sido nomeada candidata pelo governo conservador de Kyriakos Mitsotakis. Este tinha concordado nomear alguém que não fazia parte do partido Nova Democracia, que tem a maioria absoluta no Parlamento. O primeiro-ministro alegou que a juíza era "uma grande jurista e personalidade judicial" que "simboliza a unidade da nação grega"..A juíza é independente, mas pelas suas ações em relação a temas ambientais, direitos das minorias e no drama dos refugiados no Mediterrâneo, tinha o apoio da oposição de esquerda, liderada pelo Syriza, do ex-primeiro-ministro Alexis Tsipras. Foi durante o governo do Syriza que, em outubro de 2018, Sakellaropoulou foi escolhida para presidir ao Conselho de Estado. Um cargo que abandonou, junto com toda a ligação à justiça, ao ser eleita presidente..A candidatura de Sakellaropoulou foi a única e obteve os votos de 261 dos 300 deputados, sendo que só precisava de 200 - além dos deputados da maioria da Nova Democracia e do Syriza, teve o apoio dos de centro-esquerda da aliança Movimento pela Mudança (que inclui os socialistas do PASOK)..A juíza disse querer reunir o maior consenso possível para desempenhar as suas funções, face às "condições difíceis e aos desafios do século XXI", entre os quais "a crise financeira, as alterações climáticas, os movimentos massivos de população e as consequentes crises humanitárias, a erosão do império da lei e todas as forças de iniquidade e exclusão"..Sakellaropoulou chega ao Palácio Presidencial em plena crise de refugiados, depois de a Turquia ter aberto as fronteiras em resposta à falta de ação da União Europeia na Síria. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, quer um novo acordo com os 27 para voltar a pôr um travão à entrada de refugiados no espaço da União Europeia..A nível pessoal, a nova presidente grega vive com o parceiro, que é advogado, e tem uma filha de um casamento anterior..Último no índice de igualdade de género.A Grécia tem, a partir desta terça-feira, uma mulher na presidência - desde o início da Terceira República Helénica, em 1974, oito homens já passaram pelo cargo. Este é principalmente cerimonial e de representação, tendo como missão "regular o funcionamento das instituições da República"..Segundo a agência da União Europeia para a Igualdade, a Grécia é o último país europeu no índice de igualdade de género, sendo que a desigualdade é particularmente pronunciada no que diz respeito à possibilidade de chegarem a cargos de poder..Mas ao nível do governo a representação feminina é ainda reduzida: só há duas mulheres entre os 17 ministros do governo do conservador Kyriakos Mitsotakis, sendo que o seu partido Nova Democracia (que tem a maioria no Parlamento) é o que tem menor número de deputadas: são 14,5%. No total, no Parlamento com 300 representantes, só 58 são do sexo feminino..A Grécia já teve uma primeira-ministra interina: Vassiliki Thanou-Christophilou é uma juíza grega que assumiu a chefia do governo temporariamente entre 27 de agosto e 21 de setembro de 2015, depois de Tsipras se demitir e com a única missão de realizar novas eleições (nas quais o Syriza voltou a ganhar)..Atualmente, na União Europeia, há apenas outras duas mulheres presidentes: a estónia Kersti Kaljulaid e a eslovaca Zuzana Caputova. Chefes do governo são quatro: a chanceler alemã Angela Merkel, a belga Sophie Wilmès, a dinamarquesa Mette Frederiksen, a finlandesa Sanna Marin.