Lula da Silva está preso em Curitiba, por ter sido condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do Tríplex do Guarujá, e foi absolvido de uma acusação de obstrução de justiça por ter pago pelo silêncio de uma testemunha da Operação Lava-Jato. A partir desta semana será interrogado na terceira ação penal de que é alvo - e ainda há mais três em curso - conhecida como Sítio de Atibaia. O assunto promete roubar por momentos os holofotes do presidente eleito Jair Bolsonaro. Eis do que se trata..Em que consiste a acusação sobre o Sítio de Atibaia?.Segundo o Ministério Público (MP), as construtoras OAS e Odebrecht e o empresário José Carlos Bumlai, todos envolvidos na Lava-Jato, pagaram obras no valor de pelo menos 700 mil reais [cerca de 170 mil euros] no Sítio de Atibaia, propriedade rural de Lula numa localidade a 50 quilómetros de São Paulo. Essas obras, continua o MP, são o pagamento de favores em contratos na Petrobras facilitados pelo político. Por isso, acusa o antigo presidente de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula nega ser proprietário do local..Que provas tem a acusação?.A presença no local de objetos, como peças de vestuário, caixas de vinho e até duas pequenas embarcações, conhecidas como gaivotas em Portugal, com os nomes de familiares do antigo presidente; mensagens de telemóvel a propósito das obras encaminhadas a auxiliares de Lula; o facto de a mulher do ex-sindicalista, a falecida Marisa Letícia, ter dado a propriedade como morada para a entrega de um barco de pesca; e câmaras de vigilância instaladas no local por iniciativa de agentes da segurança pessoal de Lula, entre outras..O que alega a defesa?.Os advogados de Lula alegam que, embora frequentasse o local, o político não era proprietário do sítio e que os eventuais favores em contratos na Petrobras dos financiadores das obras não têm relação alguma com o antigo presidente. Acusam ainda o MP de conduzir os delatores da Odebrecht, que temem perder os benefícios combinados no acordo de delação premiada..A propriedade está em nome de quem?.Dos empresários Fernando Bittar e Jonas Leite Suassuna, sócios de Luís Lula da Silva, um dos filhos do antigo presidente, conhecido como Lulinha..Quantos são os réus da ação?.Além de Lula, mais 12 pessoas..Quem já foi ouvido e o que disse?.Executivos da Odebrecht, incluindo os ex-presidentes Emílio e Marcelo Odebrecht, confirmaram a saída do dinheiro do setor de pagamento de subornos da empresa mas não encontraram relação com nenhum favor relacionado com a Petrobras. Peritos da polícia federal também não conseguiram efetuar essa ligação..Quem vai interrogar Lula?.Gabriela Hardt, juíza de 43 anos, que substitui na 13.ª vara federal de Curitiba o juiz Sérgio Moro, indicado como novo ministro da justiça pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Hardt, que tem por hobby participar em maratonas aquáticas, é considerada ainda mais rígida do que Moro. O seu pai, um ex-engenheiro da Petrobras, publicou textos em redes sociais críticos a Lula a propósito da empresa..Este caso tem alguma relação com o Tríplex do Guarujá?.Não. No caso do Tríplex do Guarujá, que levou à condenação de Lula a nove anos e meio de prisão por Sérgio Moro, entretanto agravados em segunda instância para 12 anos e um mês, os juízes deram como provado que o imóvel na região balnear de Santos foi oferecido ao presidente como pagamento de favores em negócios da Petrobras. A defesa de Lula mantém que a condenação foi injusta e que o antigo presidente nunca foi proprietário do apartamento..Em que outras ações Lula está envolvido?.Condenado no caso do Tríplex do Guarujá e absolvido da acusação de obstrução de justiça numa suposta compra de uma testemunha da Lava-Jato, sobram ainda três ações penais pendentes. Ainda na Lava-Jato, o MP acusa Lula de, em troca de favores à Odebrecht, ter recebido um terreno para construção do Instituto Lula. Na Operação Zelotes enfrenta acusações de tráfico de influência e de corrupção passiva para fazer passar emendas favoráveis a montadoras de automóveis e, na Operação Janus, responde por corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de influência por supostamente ter agido junto ao banco público BNDES a favor de negócios em Angola da Odebrecht.