James Bond bebe, fuma, não respeita regras e gosta de mulheres bonitas com as quais se envolve normalmente por não mais de uma noite - foi assim que Ian Fleming o criou. A Bela Adormecida foi resgatada pelo beijo do príncipe que Charles Perrault enviou em socorro da impotente princesa. O Lobo Mau era isso mesmo, mau, e acabou castigado, de barriga aberta pelo machado do caçador que salvou a Capuchinho ou de rabo queimado no caldeirão dos Três Porquinhos (segundo Joseph Jacobs). Os chocolates são chocolates, não veículos de mensagens políticas antirracistas e antissexistas. E as pessoas bebem a cerveja de que gostam, não as que criam rótulos publicitando causas - retratar uma transexual na lata não é método de afirmação de minorias, é puro marketing..A História tem um enquadramento e um tempo e não se reescreve, sob pena de ser esquecida e os seus erros mais graves repetidos. E as histórias que já se escreveram retratam mais do que a narrativa das páginas que ocupam, o retrato de uma época e de uma realidade, a imaginação do autor num dado momento da sua existência e experiência; pretender recriá-las de forma a que se adaptem melhor aos requisitos dos nossos tempos é indício de estupidez e gera ignorância..A criação de uma sociedade inclusiva não passa por esmagar o que existe para dar lugar ao que antes foi ignorado ou representou injustiça, mas antes por emendar os erros e encontrar espaço onde todos caibam. Anular as maiorias para afirmar as minorias é repetir o absurdo, com dolo. E forçar mensagens fabricadas no laboratório dos lobistas do politicamente correto não gera um mundo mais igualitário, mas antes um em que a diferença se torna óbvia e antagonizante. Em que a divergência não se debate, antes se extrema..É por tudo isto que a oposição crescente ao wokismo tem ganho lastro contra uma corrente - muitas vezes oportunista e quase sempre impositiva - que tenta reescrever a História e para tudo criar modelos planos, inclusivos. Mas a ditadura do ultrafofinho impõe uma via única rumo a uma sociedade indistinta e profundamente insatisfeita, que não se identifica com aquilo que lhe é imposto mas tem receio de se fazer ouvir porque só existe liberdade e campo para uma certa ordem de ideias..Respeitar e aceitar a diferença não é forçar um caminho, censurar pensamento, ser cego às diferenças. Incluir as minorias não é terraplanar as maiorias. Mas é precisamente isso que se tem feito, queimando em praça pública os que não se reveem no extremismo neutralizante.