Minas e armadilhas globais

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Há nuvens no horizonte e não são só devido à previsão de chuva que, finalmente, chegará a todo o território continental neste fim de semana. Depois de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, ter admitido uma subida das taxas de juro, agigantam-se os receios sobre o ritmo de subidas das taxas pela Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed). Poderá seguir uma estratégia mais ousada do que o previsto com aumentos cumulativos de 100 pontos-base até 1 de julho, afirmou nesta semana o presidente da Reserva Federal de St. Louis, James Bullard.

Enquanto na Europa a incerteza sobre a dimensão e o impacto do problema ainda paira - ainda ontem Lagarde afirmou que uma precipitação "não seria boa para ninguém" -, para os americanos que são responsáveis da Fed a dúvida já não é se vão aumentar as taxas, mas sim em quanto vão subir. A decisão poderá ser conhecida ainda antes da próxima reunião de política monetária, em março.

O índice de preços tem subido em flecha. A inflação, tema que aqui já tratei, está a tornar-se uma preocupação transversal ao Atlântico Norte ao ponto de, neste momento, a preocupação e a reflexão do banco central americano de se debruçar sobre a necessidade de conter essa ascensão. Em jeito de fuga para a frente, a Fed admite não apenas um mas um conjunto de aumentos das taxas de juro. Para a Fed é importante estancar já o problema é não deixá-lo avançar para além da primavera.

Se travar a subida dos preços é uma preocupação nos Estados Unidos, na Europa a tendência será a mesma muito em breve. Em terras do Tio Sam, a subida dos preços dos automóveis foi a gota de água que fez soar os alarmes, mas não só. Há que somar o preço crescente das matérias-primas, da energia e dos fretes. Por cá, é preciso juntar ainda a alta dos preços dos alimentos. A perda de poder de compra já está a acontecer.

Olhando para os mercados, nos últimos dias as bolsas já começaram a sentir toda esta agitação, com perdas vincadas em Wall Street e a contagiar a Europa. Para contribuir para a instabilidade, a tensão Ucrânia-Rússia não parece ter fim à vista. Os negociadores dos dois países declararam não ter chegado a qualquer acordo depois de nove horas de conversações em Berlim, nesta quinta-feira. A reunião teria como objetivo acertar a melhor maneira de terminar com o conflito na região de Donbass, que fica situada no leste da Ucrânia, e resolver a tensão que dura há meses instigada pelo aumento das tropas russas perto das fronteiras com a Ucrânia. Nas últimas horas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apelou a todos os norte-americanos que saiam da Ucrânia porque "as coisas podem ficar descontroladas rapidamente".

Já não bastava a pandemia, agora vai ser necessário incorporar todos estes indicadores, ou melhor, todas estas minas e armadilhas, na tempestade perfeita que se avizinha desafiante ao longo de todo o ano de 2022.

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