Ouço gritarias que chegam da janela. Português, crioulo, palavrões e ameaças que saltam de uma língua para a outra. Gritos e ais. Uma voz autoritária intromete-se e tenta restabelecer a ordem..Espreito pelas frestas do estore e vejo dois homens que descem a rua aos empurrões e pontapés. Um nariz a escorrer sangue, várias roupas rasgadas. Um angolano imponente afasta-os, diz-lhes tenham calma e não façam cenas..- Há muita mulher, há muita mulher... Diz ele, e tem razão..Os outros concordam em discordar, mais um murro, ofensas, ameaças, prometem matar-se, um deles agarra uma pedra da calçada, mas o angolano demove-o com uma chapada puxada atrás..As vozes esmorecem rua abaixo, levam o drama para a avenida e deixam-me suspenso, a adivinhar....Há muito que não via uma cena de pancadaria clássica - ciúmes, traição, vingança, fosse eu fadista... Simpatizei com o sábio gigante angolano, com tantas mulheres que tem Lisboa, que ninguém se mate só por uma..Escritor