O caso mais sério do TIFF foi e vai ser até ao final Jojo Rabbit, de Taika Waititi, com Scarlett Johansson e Sam Rockwell. O tal filme sobre um menino nazi na Alemanha da Segunda Guerra Mundial que tem como amigo imaginário Adolf Hitler (interpretado pelo próprio Taika Waititi) é também uma história de amor e amizade entre o menino fã da suástica e uma rapariga judia escondida no seu sótão. Farsa anti-ódio com comicidade de gozo puro à crueldade do III Reich, Jojo Rabbit é das coisas mais originais e provocadoras de humor que um filme de uma major americana (a Fox) teve coragem de lançar. Humor que contagia mas que também arrepia, um pouco como também acontecia com A Vida É Bela, de Benigni. Mas nesta sátira há o nonsense contemporâneo muito ao estilo do humor de Waititi (quem tiver visto o último Thor ou What We Do in the Shadows vai compreender...), capaz de aplicar coordenadas pop ou o disparate mais absurdo..Jojo Rabbit está a marimbar-se para os limites do humor correto ou para a fina linha que pode ofender. É óbvio que está do lado do universo judeu e do seu próprio código de humor, mas também recorre aos Beatles e a David Bowie (na sua versão alemã de Heroes) para baralhar tudo. O resultado é uma montanha-russa de gargalhadas e de momentos para nos deixar em pele de galinha. Uma ode à coragem de todas as mães e ao espírito de resistência de quem já foi vítima de opressão. Não poderia ser o objeto mais atual para estes dias, mesmo quando, paradoxalmente, homenageia o espírito das comédias dos ZAZ (em especial Top Secret - Ultra Secreto) e a tradição de Mel Brooks..Mas Waititi inventou uma estética e uma leveza que fazem que qualquer espectador livre de preconceitos sentimentais sinta borboletas no estômago (tal como Jojo quando se apercebe de que está apaixonado). Em Toronto houve quem o comparasse ao imaginário de Wes Anderson, mas, se não houver preguiça de comparação, apetece dizer que é muito mais do que isso. Depois da apoteose da gala no cinema Princess of Wales, é mais do que certo que deve estar mais do que lançado para a temporada dos prémios, mesmo se pensarmos que nem todos vão conseguir aderir a esta farsa que é uma antítese ao formato televisivo de Allo Allo!....Euforia com Knives Out.Euforia também na receção de Knives Out, de Rian Johnson, um policial de mistério onde durante duas horas um superdetetive interpretado por Daniel Craig tenta descobrir quem matou um escritor de romances policiais. Apesar de um certo consenso crítico no TIFF, este thriller do realizador de Star Wars: O Despertar da Força cai numa certa vaidade do engenho à Agatha Christie. Além de Craig, o elenco inclui Chris Evans, Christopher Plummer, Don Johnson e Ana de Armas..Um pouco mais lançado na corrida à temporada de prémios está Le Mans '66: O Duelo (Ford vs. Ferrari, o título original, foi chumbado na Europa por razões institucionais...), a aposta mais forte da Fox desta temporada. James Mangold conta-nos a epopeia da Ford em 1966 para evitar a hegemonia da Ferrari no circuito de carros de corrida. Matt Damon e Christian Bale são a dupla da Ford que faz tudo para ganhar as 24 Horas de Le Mans..Muito mais do que um triunfo técnico no modo de filmar corridas de carros ou ilustrar uma conquista desportiva, este objeto de Mangold é uma meditação sobre a solenidade do american way of life e uma celebração de um sentimento cinéfilo dos anos 1970. Desta vez não há Steve McQueen, mas sim um Christian Bale perfeito a dar vida ao lendário Ken Miles. Esperava-se um pouco mais, mas Le Mans '66: O Duelo deve conseguir um lugar cativo nas nomeações dos Óscares, isto num ano em que há demasiados filmes favoritos..De referir que na indústria a presença da Portugal Film Comission fez-se notar com um pequeno-almoço oferecido a produtores e investidores dentro da campanha de descontos fiscais. A hashtag #cantskipPortugal (impossível escapar a Portugal) faz parte de um incentivo criado pelo governo e que tem páginas inteiras nas revistas do mercado como a Hollywood Portugal ou a Variety, onde se mostram locais para atrair filmagens. Além de Color Out of Space , de Richard Stanley e com Nicholas Cage, que foi filmado em Sintra, o TIFF mostrou o belíssimo Frankie, de Ira Sachs. Dois filmes de grande porte internacional filmados em Sintra. Portugal está mesmo na moda para ser destino de rodagem...