Vivem-se tempos difíceis no reino da Huawei. Depois do bloqueio feito por EUA, Austrália e Nova Zelândia aos equipamentos de telecomunicações de nova geração (5G) da tecnológica chinesa, por alegadas falhas que colocam em causa a segurança nacional destes países, também os três maiores operadores de telecomunicações do Japão ponderam não usar equipamentos de rede da Huawei e da também chinesa ZTE nas suas estratégias de implementação de redes 5G..Em Portugal a situação está, por agora, normalizada. A DN Insider contactou a Altice, a NOS, a Vodafone e também a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom) para saber as suas posições relativamente às suspeições que têm sido levantadas à Huawei a nível internacional..Por um lado, existem suspeitas de ligações da Huawei com o governo chinês. A Lei de Informações Nacional da China, que entrou em vigor em meados de 2017 e pode obrigar as empresas chinesas a cederem dados aos serviços de informações do país, tem sido outro grande motivo de preocupação quanto às gigantes tecnológicas chinesas..Por e-mail, a Altice Portugal respondeu a várias questões com um comentário único, no qual "reitera o protocolo firmado com a Huawei", no dia 5 de dezembro, naquela que foi a assinatura de um memorando de entendimento entre as duas empresas para o desenvolvimento e implementação de serviços 5G em Portugal.."Mais do que qualquer outra preocupação, preocupa-nos, sim, o know-how, a competência, o talento e a capacidade de desenvolver tecnologia e de investir no nosso país. Isso, a Huawei tem trazido a esta parceria com a Altice - como outros, aliás, têm tido neste âmbito. Estamos tranquilos e confiantes. Certamente que esta parceria vai superar todas e quaisquer preocupações que possam surgir a este nível", já tinha comentado Alexandre Fonseca, diretor executivo da Altice Portugal, em declarações ao DN/Dinheiro Vivo, a propósito do tema..Já a NOS e a Vodafone não fizeram qualquer comentário à situação atribulada daquela que é uma das empresas mais influentes na área das telecomunicações - seja pelos seus equipamentos de infraestrutura de rede, seja por equipamentos de rede de consumo, como routers, seja pelas linhas de smartphones e tablets da Huawei..A tecnológica chinesa foi, aliás, nos três primeiros meses de 2018, a marca que mais smartphones vendeu em Portugal - 152 mil unidades, que lhe garantiam na altura uma quota de mercado de 25%. A nível mundial a Huawei é a número dois na venda de smartphones, com uma quota de mercado de 14,6%, segundo dados da consultora IDC..Sobre o caso específico dos equipamentos de consumo da Huawei, a Anacom diz que já recolheu equipamentos (smartphones, smartwatches e routers) em ações de fiscalização, "não tendo sido detetadas desconformidades"..Já sobre os equipamentos de rede de infraestruturas - aqueles que têm gerado grande desconfiança a nível internacional -, o regulador das telecomunicações em Portugal não comentou o caso em concreto, mas lembrou que "está a ultimar um regulamento que visa criar uma maior transparência no mercado" relativo à segurança e à integridade das redes e serviços de comunicações eletrónicas.."O projeto de regulamento estabelece a necessidade de se proceder à identificação dos ativos das empresas cujo funcionamento é crítico, devendo os mesmos ser classificados e inventariados", comentou ainda a Anacom..A DN Insider também pediu um comentário à Huawei sobre o impacto que os bloqueios internacionais podem ter na operação da empresa no mercado português, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo..Movimentações na Europa.Se a guerra dos EUA com a Huawei já é uma novela de longa duração, a pressão internacional que a empresa chinesa tem sofrido é agora muito maior. Recentemente, foi a vez de o Reino Unido, através do líder da unidade de inteligência MI6, Alex Younger, ter verbalizado a falta de confiança que existe nos equipamentos de rede da Huawei..Austrália, Nova Zelândia, EUA, Canadá (onde foi detida a diretora financeira da Huawei) e Reino Unido fazem parte da Five Eyes, uma aliança internacional de partilha de informação para fins de segurança nacional..Na semana passada, o Financial Times avançava que a Huawei tinha aceitado cumprir vários requisitos técnicos para evitar um bloqueio também no Reino Unido. Verdade é que a empresa British Telecom já disse que não vai usar os equipamentos da gigante asiática na sua estratégia de implementação de 5G..Ainda parte da União Europeia (UE), a posição assumida publicamente pelas organizações britânicas não provocou grandes movimentações nos restantes Estados membros. O que não significa que a situação não se possa alterar a breve prazo..O vice-presidente da Comissão Europeia para o Mercado Único Digital, Andrus Ansip, disse que a UE deve estar preocupada com a situação. "Temos de estar preocupados com a Huawei e outras empresas chinesas? Sim, penso que temos de estar preocupados com estas empresas", disse na semana passada. A Huawei reagiu dizendo que não representa um risco de segurança..O ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, já disse que a Huawei é bem-vinda em França e destacou a aposta que a empresa tem feito no país, mas admite que o governo pode colocar limites em alguns investimentos que coloquem em causa a "soberania nacional".