Baterias de lítio ganham prémio Nobel da Química 2019
Os premiados são John B. Goodenough, M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino. "O seu trabalho teve um impacto social enorme", diz a Academia sueca
"O premio Nobel da Química 2019 vai para um mundo recarregável", resumiu esta quarta-feira a Academia sueca, confirmando assim como vencedora uma das áreas que era uma das favoritas para o Nobel da Química este ano: o desenvolvimento das baterias de iões de lítio, que contêm a promessa de um mundo energeticamente mais verde.
Este é um piscar de olhos à nova era das energias renováveis e aos veículos elétricos que deverão em breve inundar o mercado, e também a confirmação de que o problema das alterações climáticas continua vivo, no topo da agenda internacional.
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O anglo-americano Stanley Whittingham, de 78 anos, e antigo professor e investigador das universidades de Binghamton e do Estado de Nova Iorque, foi quem lançou o caminho nesta direção quando, nos anos de 1970, em plena crise do petróleo, se propôs desenvolver uma nova estratégia tecnológica que permitisse contornar a utilização dos combustíveis fósseis para produzir energia.
Whittingham virou-se então para materiais supercondutores e usou pela primeira vez uma bateria de lítiio, com elétrodos de novos materiais à base de titânio.
Na década seguinte, o norte-americano John Goodenough, da Universidade do Texas, hoje com 97 anos, demonstrou que o uso de elétrodos de um óxido de metal nesse tipo de bateria seria mais eficiente para a produção de energia.

John Goodenouph, em abril deste ano
© EPA/UNIVERSITY OF TEXAS
Com base nessas investigações pioneiras dos dois americanos, o japonês Akira Yoshino, de 71 anos, professor e investigador da Universidade de Meijo, deu o passo seguinte e criou, em 1985, a primeira bateria de lítio comercializável, com iões de lítio, que era leve e que podia ser carregada inúmeras vezes sem se deteriorar.
Yoshino retirou das baterias o lítio puro, deixando iões de lítio, que são mais seguros. A comercialização deste tipo de baterias tornou-se realidade a partir de 1991.

Akira Yoshino é um dos três laureados com o Nobel da Química 2019
© REUTERS/Issei Kato
"As baterias de iões de lítio revolucionaram as nossas vidas e são hoje usadas em tudo, desde telemóveis a computadores portáteis e veículos elétricos. Através do seu trabalho, os laureados deste ano em Química construíram os alicerces de uma sociedade sem fios e livre de combustíveis fósseis", justificou a Academia sueca.
Os três laureados vão partilhar o prémio no valor de nove milhões de coroas suecas (mais de 820 mil euros).
Na conferência de imprensa em que fez o anúncio dos três novos laureados, a Academia sueca admitiu que ainda não tinha conseguido contactar telefonicamente John Goodenough, a pessoa mais idosa de sempre a ganhar o Nobel.
Temporada Nobel prossegue
A temporada Nobel arrancou esta semana, na segunda-feira, com o anúncio dos laureados na Medicina - os americanos William G. Kaelin e Gregg Semenza, e o britânico Peter Ratcliffe - distinguidos pelos seus trabalhos sobre os mecanismos moleculares e genéticos que determinam a regulação dos níveis de oxigénio nas células do organismo.
Seguiu-se o Nobel da Física, anunciado esta terça-feira, que distinguiu os trabalhos em cosmologia sobre a radiação cósmica de fundo de James Peeble, e a revolução científica que constituiu a descoberta dos primeiros exoplanetas pelos suíços Michel Mayor e Didier Queloz, em 1995.
Os laureados deste ano na Química sucedem aos norte-americanos Frances H. Arnold e George P. Smith, e ao britânico Gregory P. Winter, distinguidos em 2018 por trabalhos que operaram uma "revolução" no laboratório, como lhe chamou o comité Nobel.
Os três cientistas puseram em prática os princípios da evolução para desenvolver novas proteínas que permitiram a produção, entre outros, de medicamentos vitais na área da saúde.
Frances Arnold, do California Institute of Technology, nos Estados Unidos, produziu em laboratório pela primeira vez a evolução dirigida de enzimas, ou seja, de proteínas que catalisam as reações químicas. Um trabalho seminal, publicado em 1993, que resultou em novas técnicas que hoje são rotineiras na produção de medicamentos e biocombustíveis.
George Smith foi distinguido pelo seu trabalho revolucionário de 1985, quando desenvolveu um novo método para levar vírus a infetar bactérias, processo que permitiu fazer evoluir novas proteínas. Na esteira dessa investigação, Gregory Winter levou o processo mais além e conseguiu criar pela primeira vez anticorpos que podem ser utilizados em novas terapias na medicina.
Esta quinta-feira serão conhecidos os dois premiados na área da Literatura, e sexta será a vez do Nobel da Paz. A 14 de outubro será conhecido o vencedor - ou vencedores - na área da Economia.