Lisboa Capital Verde: "Vamos aproveitar para mostrar o resto do país"
"Escolha evoluir" é o slogan da Lisboa Capital Verde Europeia 2020, que neste sábado arranca com uma cerimónia oficial que contará com a presença do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Evoluir porque nestas questões do ambiente não se pode cruzar os braços e porque há a consciência de que a capital portuguesa ganhou o galardão não por ser a cidade mais sustentável, mas porque mostrou que sabe conjugar o verbo e que pretende continuar a fazê-lo: mantendo a aposta na mobilidade, na criação de mais e mais espaços verdes, na redução do ruído, da poluição e dos gastos de água...
A Câmara Municipal de Lisboa quer que este ano em que ostenta o título seja igualmente uma oportunidade para mostrar o que de positivo há no resto do país. "Na Capital Verde Europeia não devemos olhar só para nós. O país é pequeno, tem coisas muito boas para ver, temos universidades ótimas e centros de investigação extraordinários e também devemos mostrar as coisas boas dos outros", diz o vereador do Ambiente, José Sá Fernandes, dando como exemplo o facto de Lisboa estar rodeada de três grandes zonas naturais classificadas - Parque Natural de Sintra-Cascais, Parque Natural da Arrábida e Estuário do Tejo. Já na próxima semana, o vereador vai mostrar a zona de Sintra.
Sá Fernandes explica que é importante "valorizar o bom trabalho que os outros fazem" em Portugal. E mais uma vez dá exemplos: serra da Estrela, Parque Natural de Montesinho, ria Formosa... "Se eu mostrar o bom, se calhar consigo evitar o mau. Ingénuo? Não sei, mas acredito! Vamos aproveitar para mostrar o resto do país. Isso é uma obrigação."
O autarca já contactou as universidades locais e quer fomentar as discussões no terreno, com pessoas que sabem dos assuntos. "Queremos discutir o lítio? Vamos a Montalegre e discutimos lá isso. Não devemos esquecer nenhum assunto, desde a alimentação à roupa."
É a própria Comissão Europeia que o diz: "A crise económica global de 2008 afetou muito Portugal, mas, apesar desses desafios, Lisboa avançou na consolidação da estratégia de sustentabilidade ambiental e, por sua vez, na melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos, mostrando que a proteção ambiental e o crescimento económico podem andar de mão dada."
E elenca vários critérios ambientais em que a capital portuguesa tem vindo a dar resposta: a mobilidade urbana, o uso sustentável da terra e o crescimento de espaços verdes.
Para estes parâmetros e muitos mais, a Câmara de Lisboa assume um compromisso com o futuro, desde logo a revisão do plano de ruído. Na área da mobilidade, Lisboa pretende ser uma cidade europeia de referência em 2030, com mais 40% de oferta de transporte público rodoviário na Área Metropolitana, duplicação da frota de elétricos rápidos, 410 novos autocarros de "elevado desempenho ambiental" até 2023 e a promoção de serviços partilhados.
A área da mobilidade é aliás uma das mais ambiciosas, até porque é de extrema importância para os cidadãos: a autarquia pretende até essa data a redução das viagens de automóvel de 57% para 33%, que sete em cada dez viagens sejam feitas por transportes públicos e que a rede ciclável e de bicicletas se estenda a toda a cidade.
Para tornar a cidade resiliente às alterações climáticas e, ao mesmo tempo, proporcionar bem-estar aos lisboetas, a câmara compromete-se a que 85% da população viva a menos de 300 metros de um espaço verde com pelo menos 2000 metros quadrados até ao final deste ano - o objetivo é que aos atuais 250 hectares de zonas verdes se juntem mais cem hectares, ou seja, 25% da cidade com espaços verdes até 2022 e a plantação de mais cem mil árvores até 2021.
Entre os projetos destacam-se a extensão do corredor do vale de Alcântara até ao rio e a conclusão das obras da Praça de Espanha.
Na senda do combate às alterações climáticas, o compromisso é a redução de 60% nas emissões de CO₂ até 2030 e a neutralidade carbónica até 2050.
No que diz respeito à produção de resíduos per capita, a meta para 2030 é reduzir em 15% e aumentar a recolha seletiva para 50% (atualmente é de 28%). Pretende-se igualmente o aumento da taxa de reciclagem para 34%.
Há pompa e circunstância prevista para este sábado quando Lisboa passar a ser oficialmente Capital Verde Europeia 2020. A cerimónia da passagem do galardão de Oslo para Lisboa - que começa às 15.00, com o hastear da bandeira no Parque Eduardo VII e se estende ao Pavilhão Carlos Lopes - contará com a presença de figuras de proa: o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa; o primeiro-ministro António Costa, o vice-presidente da Comissão Europeia, Franz Timmermans, o comissário europeu para o Ambiente, Oceanos e Pescas, Virginijus Sinkevičius e o presidente-governador da Câmara de Oslo, Raymond Johansen, que serão recebidos pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina.
Antes da cerimónia de abertura, nesta sexta-feira, realiza-se um jantar na Estufa Fria. No sábado, é também inaugurada, no Oceanário de Lisboa, a exposição O Mar como nunca o Sentiu, que promete oferecer aos visitantes "uma experiência sensorial que nos transporta para a origem da nossa relação com o mar".
Domingo é dia de plantar árvores. Ao todo, serão plantadas 20 mil: 4000 em Rio Seco (Ajuda), 6000 no vale da Ameixoeira (Santa Clara), 9000 no parque do vale da Montanha (Areeiro-Marvila) e mil no corredor verde de Monsanto. Até ao final do ano, a Câmara de Lisboa quer ter mais cem mil árvores na cidade, que se juntarão às 800 mil existentes.
Vai ser um ano preenchido, com variadíssimas iniciativas: exposições, concursos, espetáculos, iniciativas com escolas e universidades e também conferências, em que se destaca, a 6 de junho, a grande Conferência dos Oceanos com o patrocínio da ONU. No início desse mês, a Fundação Calouste Gulbenkian é palco da abertura da conferência da Comissão Europeia Green Week 2020.
Antes disso, em abril, está prevista a inauguração do Museu da Reciclagem (ReMuseu), em Alcântara, e a conferência Urban Future Global.