Isolado internacionalmente, criticado internamente, contra tudo e contra todos, Nicolás Maduro, de 56 anos, toma posse nesta quinta-feira para um novo mandato como presidente da Venezuela..Portugal, que tem na Venezuela a segunda maior comunidade de emigrantes na América Latina, depois do Brasil, não vai fazer-se representar na cerimónia que, à falta de reconhecimento do Parlamento venezuelano, vai ter lugar perante o Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela. Cerca de 500 mil emigrantes ou descendentes vivem na Venezuela. O governo português tem prometido prestar-lhes todo o apoio e alguns têm optado por regressar nos últimos anos a Portugal..Isso mesmo confirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva. "Tivemos uma troca de opiniões hoje [terça-feira] de manhã, no quadro do grupo de trabalho para a América Latina [da União Europeia], e isso vai permitir a Portugal formar a sua decisão, sendo certo que tornamos público que não estaremos representados a nível político na tomada de posse do presidente Nicolás Maduro", disse o chefe da diplomacia portuguesa, citado pela Lusa, após o seminário sobre Cooperação, Cultura e Língua, promovido pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua em Lisboa..Guerra de críticas com a UE e os EUA.A União Europeia não reconheceu as eleições de maio do ano passado e juntou as suas críticas às de outros países, deixando Nicolás Maduro, que sucedeu a Hugo Chávez no poder, isolado internacionalmente. Em novembro, a UE prolongou as sanções a Caracas por mais um ano, aprovando um embargo à venda de armas e de todo o material que possa servir ao governo de Maduro para reprimir a oposição interna ao seu regime..Maduro foi reeleito para um novo mandato presidencial nas eleições de 20 de maio, com 67% dos votos, mas no dia seguinte a oposição questionou os resultados e apresentou provas de irregularidades no ato eleitoral..A administração dos EUA, liderada por Donald Trump, já se solidarizou com o Parlamento venezuelano, afirmando que esta é a única instituição no país à qual reconhece legitimidade democrática. Depois de ter falhado o afastamento de Nicolás Maduro do poder em janeiro de 2017, o Parlamento venezuelano tem insistido na falta de legitimidade do presidente e pediu às Forças Armadas para apoiarem os esforços para restaurar a democracia. Estas continuam, para já, do lado do regime, regime que acusou os norte-americanos de quererem apoiar um golpe de Estado na Venezuela.."Há uma longa história de deplorável submissão das oligarquias que têm governado a América Latina durante séculos, em contraposição à dignidade dos seus próprios povos e subjugando os sagrados interesses das suas nações aos de potências estrangeiras", diz um comunicado lido pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López. As Forças Armadas da Venezuela expressam "profunda indignação" pelo "nefasto ato de intromissão" de um grupo de governos da América Latina que, "sob os auspícios dos EUA", emitiram um comunicado afirmando que não reconheciam a legitimidade do presidente Nicolás Maduro, leu o mesmo responsável numa conferência de imprensa na terça-feira, em Caracas..Parlamento rejeita e latino-americanos não reconhecem."Reafirmamos a falta de legitimidade de Nicolás Maduro (...) A partir de 10 de janeiro ele estará a usurpar a Presidência; assim, o Parlamento é a única representação legítima do povo", afirmou, por sua vez, Juan Guaidó, que preside a uma Assembleia Nacional em que as forças políticas da oposição estão em maioria, mas às quais Maduro retirou autoridade, num decreto de 2017..Também o Grupo de Lima, composto por 14 países das Américas, enviou uma mensagem de não reconhecimento da legitimidade do regime venezuelano, juntando-se, assim, à UE e aos EUA..O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) vai realizar, também nesta quinta-feira, uma sessão extraordinária para analisar a situação política na Venezuela..Maduro, respondendo à declaração do Grupo de Lima, recusou todas as críticas de falta de legitimidade, acusando o Parlamento de falta de patriotismo e dizendo que os críticos do seu governo incorrem no "crime de traição à pátria".."Hoje [ontem] foi entregue a todos os governos do cartel de Lima esta nota de protesto diplomático, em que exigimos uma retificação das suas posições sobre a Venezuela em 48 horas", disse Maduro, em Caracas. "[Se não houver retificação] o governo da Venezuela tomará as mais urgentes e duras medidas diplomáticas, para a defesa da integridade, da soberania e da dignidade da Venezuela", avisou o presidente, falando em conferência de imprensa. E deixou a garantia: "[Nem que] chova, faça trovões ou faça relâmpagos", a Venezuela voltará a triunfar..Apesar das reservas de petróleo consideráveis, a Venezuela atravessa há vários anos uma profunda crise económica e política, agravada pelas sanções, oriundas de várias partes do globo, em particular da UE e dos EUA. Ainda na terça-feira, o Departamento do Tesouro dos EUA anunciou novas sanções contra sete pessoas e 23 empresas e organismos da Venezuela, entre elas a cadeia de televisão privada Globovisión. Os sancionados estariam envolvidos num esquema de corrupção destinado a tirar vantagem das práticas cambiais do governo venezuelano, tendo conseguido mais de 2,4 mil milhões de dólares (2,1 mil milhões de euros) em processos corruptos..Falta de tudo um pouco e acusações das ONG.Com a elevada inflação, a falta de mantimentos e de medicamentos, a Venezuela assistiu desde 2015 ao exílio de cerca de 2,3 milhões de pessoas, que procuram outros países para ir viver, nomeadamente o Brasil..Este é agora presidido pelo nacionalista Jair Bolsonaro, que fez questão de sublinhar a ausência na sua posse, no dia 1, do presidente da Venezuela Nicolás Maduro. O qual apelida aliás de ditador..Na véspera da controversa tomada de posse de Maduro, a organização internacional Human Rights Watch e a Human Rights Watch Foro Penal, organização de defesa dos direitos humanos venezuelana, acusaram as forças de segurança e os serviços de informações da Venezuela de deter e torturar militares acusados de conspirar contra o governo.."Agentes dos serviços de informação não estão somente a deter e a torturar membros das Forças Armadas, mas também a perseguir familiares ou outros civis quando não conseguem localizar os suspeitos", disse José Miguel Vivanco, diretor para as Américas da Human Rights Watch, citado pelas agências, acrescentando que foram cometidos graves abusos contra os familiares. A Human Rights Watch e a Foro Penal analisaram informações sobre casos de 32 pessoas..Apesar de tudo isto, segundo convocatória divulgada publicamente pelo Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela, Maduro tomará posse nesta quinta-feira, às 10.00 locais, 14.00 em Lisboa. "O presidente do STJ, o magistrado Maikel Moreno, afirmou que por decisão da Sala Constitucional convocou o cidadão Nicolás Maduro Moros para comparecer no dia 10 de janeiro de 2019, às 10.00 da manhã, perante o STJ com a finalidade de ser empossado como presidente constitucional da República Bolivariana da Venezuela para o período 2019-2025", indicou o tribunal, em comunicado.