Atestar perguntas e respostas para a semana que vem
Greve? Faz quem acha que a deve fazer, é um direito. Confirmado: os camionistas de matérias perigosas vão fazê-la a partir de segunda-feira e por tempo indeterminado.
Razões? Mais do que legítimas, ganham pouco. Confirmado: salário base não chega a 700 euros, brutos, e dobra com as alcavalas, em bruto também.
É grave a greve? É. Confirmado: pode parar o país e por demasiado tempo.
E depois? E depois, nada, é grave, mais nada. Confirmado: ninguém vai ser preso por fazer greve, porque seria gravíssimo o impedimento de um direito, ainda mais grave do que a gravidade ocasionada pela greve.
Então? Não há um então, há dois. Confirmado: o país pode aceitar suportar as consequências da greve, por mais grave que sejam - ou não.
Ou não?! Claro, a legitimidade dos grevistas pode conviver com a legitimidade das autoridades em não aceitarem todas as consequências da greve. Confirmado: o governo garante que será governo, tomará as medidas necessárias para o país não parar.
Garante? Sim. Confirmado: garantiu.
Basta? Não, mas estamos cá para o cobrar. Confirmado: não, não está confirmado que o governo cumpra (como tantas vezes, este ou qualquer outro), nem é seguro que cobremos (como demasiadas vezes, nós ou qualquer outro governado manso).
Desconfiança? É prudente tê-la. Confirmado: durante o processo de negociações (ver a crónica de Daniel Deusdado, ontem no DN), nunca a Apetro - a associação das gasolineiras (Galp, BP, Repsol, etc.) -, nunca!, foi convocada para tentar resolver uma crise em que ela é parte responsável.
Responsável? Devia ser, mas não o foi. Confirmado: as gasolineiras têm o proveito de vender um produto essencial e não se interessaram em garantir esse bem aos seus clientes (uma vantagem injusta, porque, ao contrário dos seus clientes, elas nunca perdem: o que não venderem na crise, venderão antes ou depois dela).
Irremediável a crise? Não, porque, como já se disse, se os grevistas podem fazer greve, as autoridades podem fazer com que o mínimo necessário chegue às estações de serviço. Confirmado: António Costa convocou o gabinete de crise para se reunir, hoje, dois dias antes da greve.
Isso tranquiliza? Sim, porque com a preocupação, pelo menos parcial, que regista (devia ter feito mais com a Apetro), o governo pode controlar a crise. Confirmado: a bateria constitucional e legal permite que a greve dos camionistas de matérias perigosas não seja tão perigosa assim.
Tudo bem? Não, porque não é seguro que a ação dos camionistas não extravase a legitimidade da greve. Confirmado: é de desconfiar muito de quem confia na liderança do advogado Pardal Henriques.
Advogado suspeito? Muitíssimo. Confirmado: Pardal Henriques apareceu de paraquedas num setor inorgânico e vital, fez-se de pé para a mão vice-presidente de um sindicato, lançou-o num contexto político com implicações eleitorais e radicalizou a luta pretendendo parar o país longamente.
E depois? Depois, o passado recente que se soube de Pardal Henriques e o poder a que ele rapidamente chegou mostra a fragilidade em que vivemos. Confirmado: afinal, Portugal é um país como tantos, fascinado por populistas, como são por definição, da treta.